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NO TEMPO DO GRIAL (de Memorial)
Fico no tempo do Grial,
no tempo primitivo da paz cósmica,
do líquido vertido de um a outro copo,
sem perder-se, a transformar o dia e a palavra
que estava em nós
quando nasceu o dia de sonhar,
o das luzes oníricas de alva
com o espírito lento a acordar.
Tenho entre as mãos a origem do cosmos,
das águas, do lume, do ar velho, da terra arraigada,
o húmus negro, e a luz, toda a luz a navegar,
a preencher os abismos da memória,
a dor e a saudade dos inícios
a cauterizar buracos pretos,
feridas de astros,
que deixaram o verbo a nascer
desde uma vulva que se prendia
às luas reflectidas nos cometas
e nas estelas acrónicas do caos.
Do outro lado do céu, sinais antigos
se revelam
nas presenças das constelações
sobre a Via Láctea
que estendeu o néctar galáctico,
o elemento prévio da placenta universal,
a semente do deus sobre a terra das maçãs,
o verbo... amor, o verbo
para enlaçar os corpos e os silêncios
entre as curvas da pele e o caminho,
entre os sinais azuis do destino
com oferendas de paz.
Sonhamos o tempo de renascer,
o tempo de amar.
Dormimos o tempo de aguardar,
lutamos pelo tempo do fogo e o tremor
e choramos sobre a cúpula do céu
para ascender,
para navegar cosmogonias,
para viajar longe,
além de vida e morte,
além de resplendores,
até o som,
até os círculos concêntricos
mar abaixo,
num leito de algas verdes,
na terra do sol-pôr.
do líquido vertido de um a outro copo,
sem perder-se, a transformar o dia e a palavra
que estava em nós
quando nasceu o dia de sonhar,
o das luzes oníricas de alva
com o espírito lento a acordar.
Tenho entre as mãos a origem do cosmos,
das águas, do lume, do ar velho, da terra arraigada,
o húmus negro, e a luz, toda a luz a navegar,
a preencher os abismos da memória,
a dor e a saudade dos inícios
a cauterizar buracos pretos,
feridas de astros,
que deixaram o verbo a nascer
desde uma vulva que se prendia
às luas reflectidas nos cometas
e nas estelas acrónicas do caos.
Do outro lado do céu, sinais antigos
se revelam
nas presenças das constelações
sobre a Via Láctea
que estendeu o néctar galáctico,
o elemento prévio da placenta universal,
a semente do deus sobre a terra das maçãs,
o verbo... amor, o verbo
para enlaçar os corpos e os silêncios
entre as curvas da pele e o caminho,
entre os sinais azuis do destino
com oferendas de paz.
Sonhamos o tempo de renascer,
o tempo de amar.
Dormimos o tempo de aguardar,
lutamos pelo tempo do fogo e o tremor
e choramos sobre a cúpula do céu
para ascender,
para navegar cosmogonias,
para viajar longe,
além de vida e morte,
além de resplendores,
até o som,
até os círculos concêntricos
mar abaixo,
num leito de algas verdes,
na terra do sol-pôr.
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MIRÂC (de Orientes)
O SEMÂ
I
Na´t-i serîf
As vozes do vento
e das aves
e da água,
tudo canta,
tudo canta.
A harmonia dos céus
está oculta sob as nuvens,
mas existe além distância,
na ordem que precede
ao caos,
no caos que precede
à ordem.
O resplendor da areia,
o frescor do carvalho e a oliveira,
do baobab e a cerejeira,
tudo canta.
O ritmo do lume dançante,
o odor da praia na noitinha,
a noite fria do deserto,
a montanha alta,
o rio,
tudo canta.
Cantarei o verbo,
fluir do coração
no lábio de quem tem lábio,
silêncio longo
nos olhos de quem olhou.
Cantarei a fonte do saber,
a alma universal,
a pele do cosmos
que recobre
o dom dos que não têm dom.
Cantarei as mãos, as poutas,
a raiz, a sem-raíz,
a esplêndida navegação da alga,
a asa cantarei.
Cantarei o mesmo canto da esfera,
o eco planetário da molécula,
o átomo sem o que a galáxia não se fez,
a luz dos que têm luz,
a noite de quem sonhou.
Entre o ruído e a paz chega.
Entre a brêtema abre o dia.
Entre a morte a vida aprende.
Entre a rocha nasce o manancial,
tudo canta a geração universal da existência,
tudo canta a ladainha das estrelas,
tudo canta, tudo canta as vozes do vento
e das aves e da água,
ao criador do canto tudo canta.
II
O SEMÂ
I
Na´t-i serîf
As vozes do vento
e das aves
e da água,
tudo canta,
tudo canta.
A harmonia dos céus
está oculta sob as nuvens,
mas existe além distância,
na ordem que precede
ao caos,
no caos que precede
à ordem.
O resplendor da areia,
o frescor do carvalho e a oliveira,
do baobab e a cerejeira,
tudo canta.
O ritmo do lume dançante,
o odor da praia na noitinha,
a noite fria do deserto,
a montanha alta,
o rio,
tudo canta.
Cantarei o verbo,
fluir do coração
no lábio de quem tem lábio,
silêncio longo
nos olhos de quem olhou.
Cantarei a fonte do saber,
a alma universal,
a pele do cosmos
que recobre
o dom dos que não têm dom.
Cantarei as mãos, as poutas,
a raiz, a sem-raíz,
a esplêndida navegação da alga,
a asa cantarei.
Cantarei o mesmo canto da esfera,
o eco planetário da molécula,
o átomo sem o que a galáxia não se fez,
a luz dos que têm luz,
a noite de quem sonhou.
Entre o ruído e a paz chega.
Entre a brêtema abre o dia.
Entre a morte a vida aprende.
Entre a rocha nasce o manancial,
tudo canta a geração universal da existência,
tudo canta a ladainha das estrelas,
tudo canta, tudo canta as vozes do vento
e das aves e da água,
ao criador do canto tudo canta.
II
O Som
A rocha mede a água, os gases cobrem os espaços do pranto e do sorriso, a pedra é nave de esperas e luz do sol-pôr. Desde resplendor da tardinha as ondas são céu e na noite as estrelas vão brilhar. Dos longos caminhos, descem ecos do que foi, tempos que serão, e só a ordem do passo é o caos.
III
Taksim de ney
Esta é a noitinha.
Esta é a noitinha.
Sobre as montanhas o céu é vermelho.
Aguardo a nave que não se achega, o tempo que não passou quando o silêncio é espera e a aurora, um pôr de sol.
Aguardo a mão dos sonhos, a que nunca mais sonhou, braços cruzados no peito, ar de fé e fé de cor.
IV
IV
Devri veledi
Cada anjo chega numa onda.
Os mares dos quatro pontos cardinais conformam círculo e o tempo saúda ao sem tempo, o espaço ao sem espaço, a unidade à companhia.
A água é água, o lume é lume, o ar é ar, a terra é terra e tudo se torna ladainha.
A cadência é vida, Nasce a vida. Saúdo a linha do silêncio, a frustração do que seria, a ringleira recta que não chega, o abismo do leito, a fé prendida no som múltiplo o som múltiplo da fé prendida.
Saúdo o tempo das saudades, o labirinto das perdas mais sentidas, a curva no caminho, o nome errante, o destino errado sem destino. Saúdo a queda das palavras e o sonho azul na fé prendida, o círculo que volta e recomeço a múltipla onda, a alma múltipla.
V
Saúdo o tempo das saudades, o labirinto das perdas mais sentidas, a curva no caminho, o nome errante, o destino errado sem destino. Saúdo a queda das palavras e o sonho azul na fé prendida, o círculo que volta e recomeço a múltipla onda, a alma múltipla.
V
Semá
Tiro a vestimenta e peço permissão na unidade da criação.
Tiro a vestimenta e peço permissão na unidade da criação.
Nasço na tomba dos desejos, nasço na mortalha dos desejos, e entrego a túnica por ser.
Beijo a mão que se oferece, ah meu Seyh Efendi, permite a liberação, permite a unidade do possível, a ascensão.
O ritmo é lento e volta sempre ao início num círculo exterior, o som dos ecos repele palavras como vidas. Na solidão acho companhia, integro o ser que me integra, respiro o ar que me respira, achego o abraço que me achega, os passos giram, a árvore da vida começou.
Primeiro selâm
Primeiro selâm
Abro os braços, alço a luz e nasço.
Ergo a mão ao alto, desço a outra palma, o equilíbrio é o ponto de inflexão, a verdade o ritmo desta rota e giro, retorno à descoberta e reconheço a força; sou criatura entre os ventos e este rito.
Sou a tua criatura, molda-me na dança, insufla em mim a vida dos espíritos, a vida pura da verdade, leva-me na conjunção do devir, no fado, nas linhas tortas que escreves, na paz que me entregas, à que me entrego.
Segundo selâm
Segundo selâm
Reflecte-se no brilho, no som da aurora, na bétula doce, na ternura desta pele o dom da criação, o esplendor do criado.
Giro e oro, oro e giro, moldo a rocha em silêncio e saudade de luz, ante o poder sereno da criação, ante a força e o amor.
Haja paz na paz dos tempos. O gozo é contemplar, saudar o bem eterno.
Terceiro selâm
Terceiro selâm
Fenafillah
Submeto-me a sentir e sinto, os afectos deixam redes que sustentam, o amor é a dita de dizer, a dita de saber a quem se ama, por quem se ama, em que... Deixar-se ir, entregar submissão ao amor, única submissão ao Ser. Entrego o espírito, entrego o corpo, entrego a mente que pensou no Fenafillah.
Quarto selâm
Quarto selâm
Alma tranquila, volta ao teu senhor ditosa, entra junto aos meus servidores, entra no meu paraíso.
É breve todo gozo, perdura a memória e sou feliz em instantes reiterados.
Volto a ti, plena de gozo volto a mim.
Abre-se a terra, deixa o meu tempo resplendor, a paz é o meu saúdo unida ao Seyh Efendi e ao meu Basi, sou semâzen.
O anjo da aurora me acompanhou, o livro conforta a sede que desceu, tenho os profetas da noite na pele do mundo, o verso longo a acariciar.
Voltarei.
Sou o teu espelho.
O espírito da luz.
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CÓSMOGONIAS LÍQUIDAS (de Regatos de Ternura)
No som dos círculos concéntricos
Havia suspeitas em cada cometa,
no pó cósmico das erofílias.
A matéria expandida
que retorna ao copo primitivo
que se desliza em águas
até os cóncavos prazeres
do teu cauce.
Ai minha línea de água
na revolta
das gravitações a beira-mar,
ai minha mátria fluida
nas esperas das tardes de verão,
ai meu sentir de tempo
na molécula pura do seio
e o amor,
nas hidronímias novas
que diziam do teu nome,
nos remuinhos velhos
que aguardavam astros,
nos abismos terráqueos
que as ondas povoavam
de sal,
na energia,
na força,
na vida,
no ser...
Água, apenas água por sonhar.
Somos amor de amores,
plenos de som universal,
plenos de placton substancial
no lábio, no seio,
no conformar do céu,
nas incógnitas da maré
e a lua
a dança do tempo
é aquática
na hora do sol-pôr.
A saudade da lágrima profunda
nasceu num oceano
e torna criatura de presenças
o dia do fauno e a sereia.
O sangue é lagoa antiga
a fluír do coração
e a descer
até o profundo verso,
até o nascer primeiro,
até as deidades húmidas
da liberdade universal.
A vida é de água
Heisenberg, fonte de certezas
na incerteza mística
do mar.
Havia suspeitas em cada cometa,
no pó cósmico das erofílias.
A matéria expandida
que retorna ao copo primitivo
que se desliza em águas
até os cóncavos prazeres
do teu cauce.
Ai minha línea de água
na revolta
das gravitações a beira-mar,
ai minha mátria fluida
nas esperas das tardes de verão,
ai meu sentir de tempo
na molécula pura do seio
e o amor,
nas hidronímias novas
que diziam do teu nome,
nos remuinhos velhos
que aguardavam astros,
nos abismos terráqueos
que as ondas povoavam
de sal,
na energia,
na força,
na vida,
no ser...
Água, apenas água por sonhar.
Somos amor de amores,
plenos de som universal,
plenos de placton substancial
no lábio, no seio,
no conformar do céu,
nas incógnitas da maré
e a lua
a dança do tempo
é aquática
na hora do sol-pôr.
A saudade da lágrima profunda
nasceu num oceano
e torna criatura de presenças
o dia do fauno e a sereia.
O sangue é lagoa antiga
a fluír do coração
e a descer
até o profundo verso,
até o nascer primeiro,
até as deidades húmidas
da liberdade universal.
A vida é de água
Heisenberg, fonte de certezas
na incerteza mística
do mar.
Iolanda R. Aldrei
3 comentários:
Vejo-me neste poema como num espelho vivo. ;)
A sua poesia é belíssima, gostei muito.
Bem-vinda a esta Casa comum.
Meus amigos, andei a visitar seus blogues:quanta palavra, quanto espírito! Que lindo partilhar assim. Obrigada.
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