“A cultura estabelecida parece minorar a filosofia. Ainda bem. Importa que a filosofia viva à margem. Dentro do “establishment”, a filosofia corre o risco de morrer asfixiada. Em derradeira instância, os filósofos precisam da filosofia, mas a filosofia passa muito bem sem os filósofos e, melhor ainda, sem os professores dela”.
Pinharanda Gomes, in Expresso, Janeiro de 2004
Apontamento Biográfico
Jesué Pinharanda Gomes nasceu em Quadrazais, concelho do Sabugal, no dia 16 de Julho de 1939. Faz hoje 69 anos.
Cresceu na cidade da Guarda e aí estudou na Escola dos Gaiatos e no Colégio de São José. Ainda na adolescência, conjuntamente com outros colegas, criou, no semanário Correio da Beira, a página “Voz dos Novos”. Por essa altura passou também a produzir programas na Rádio Altitude. Uns tempos depois, muda-se para Lisboa e, apesar de passar por dificuldades de vária ordem, com a ajuda de algumas pessoas, acabou por escrever no Diário de Notícias e n’O Debate. Uma vez em Lisboa, frequenta, no Liceu Francês, aulas de grego e de latim e, autodidactamente, dedica-se ao estudo da filosofia clássica, em particular, e da história da filosofia, em geral. O seu lugar de estudo passa a ser, então, a Biblioteca Nacional (hábito que ainda hoje preserva). Nela pesquisará não só filosofia e religião mas também história, antropologia, literatura, línguas, arte, pensamento português,... Nas tertúlias e nos cafés lisboetas, ao lado de outros discípulos de Leonardo Coimbra (1883-1936) e de Álvaro Ribeiro (1901-1981), Pinharanda Gomes inicia-se filosoficamente, longe das sebentas e da Academia.
Membro da Academia Luso-Brasileira de Filosofia, do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira (do qual é sócio-fundador) e da Sociedade de Língua Portuguesa, Pinharanda Gomes é autor de uma vastíssima obra. Ainda assim, continua a definir-se enquanto “mendigo a bater à porta da sabedoria”.
Apontamento Crítico
De Jesué Pinharanda Gomes podemos dizer que, para além de ensaísta, tradutor, crítico, pesquisador da cultura portuguesa, é, acima de tudo, um amante da sabedoria e um mestre. Um mestre no sentido clássico e socrático do termo. Interessa-lhe, portanto, o diálogo, a conversa e a troca de saberes e experiências. Uma postura altiva e unilateral não combina com a concepção que defende da Filosofia enquanto ascese espiritual, nem com o seu modo de se relacionar com as pessoas.
Se apresentarmos uma panorâmica geral da obra de Pinharanda Gomes, chegamos à conclusão de que o autor balança entre duas doutrinas fundamentais da história da Filosofia: o idealismo platónico e o formalismo aristotélico. Se calhar, mais do que balançar, o nosso pensador tende a reunir essas duas propostas. Essa tendência é, ao fim e ao cabo, muito natural. Em primeiro, porque Pinharanda Gomes se interessou muito cedo pelas filosofias de Platão e de Aristóteles. Em segundo, porque elas eram profundamente revitalizadas nas obras de dois dos seus principais mestres: José Marinho (1904-1975) e Álvaro Ribeiro. Se é possível considerarmos Pinharanda um dos herdeiros da escola formal alvarina, por outro lado, não podemos ignorar a sua forte veia platónica, a sua densa intuição socrática. Igualmente, a herança católica e cristã é também uma presença incontestável na formação do seu corpus filosófico e crítico. Senão bastasse a sua crença num catolicismo redentor, enunciaríamos ainda os inúmeros artigos que dedicou às doutrinas de Cristo e da Igreja e o seu real interesse por Santo Agostinho (354-430) e por Teresa de Ávila (1515-1582), por exemplo.
Enquanto pesquisador da cultura portuguesa, enquanto discípulo de Pascoaes (1877-1952), de Coimbra e de Ribeiro, Jesué Pinharanda Gomes não poderia deixar de ser um saudosista, não poderia deixar de reflectir acerca da Saudade. O autor revela, deste modo, que o Homem, enquanto ser caído, sente saudades de Deus, ou seja, a partir do momento em que houve a expulsão do Paraíso, o Homem entrou em queda e nunca mais conseguiu reconquistar a imagem e a semelhança que partilhava com o criador. A queda, todavia, continua em descida vertiginosa, não estagnou na descensão simbólica de Adão e Eva. Até porque não existe apenas um pecado original, existe também um pecado actual, vivido pelos homens no seu dia-a-dia. Contudo, Pinharanda Gomes acredita na regeneração humana, crê, bem ao modo das teses defendidas pelos membros do grupo da Filosofia Portuguesa, que ainda é possível reencontrar-se o paradigma inicial.
Bibliografia Indicativa
Exercício da Morte (1964)
Peregrinação do Absoluto (1965)
Liberdade de Pensamento e Autonomia de Portugal (1971)
O Pensamento Filosófico de Silvestre de Morais (1972)
Teoria do Pão e da Palavra (1973)
Filosofia Grega Pré-Socrática (compilação e tradução) (1973)
Pensamento e Movimento: Prolegómenos a uma Ascese Filosófica (1974)
Cunha Seixas (1975)
Teodiceia Portuguesa Contemporânea (1975)
Pensamento Português (1979)
História da Filosofia Portuguesa, 3 vols. (1981-1983-1991)
Caminhos Portugueses de Teresa de Ávila (1983)
A Teologia de Leonardo Coimbra (1985)
Dedução Cronológica ao Início do Tomismo em Portugal (1986)
Piedade Eclesial, Piedade Popular (1986)
Dicionário de Filosofia Portuguesa (1987)
A Guarda Ilustrada: Breve panorama dos escritores do distrito da Guarda (1988)
Os Tojais e a Casa do Gaiato: Monografia Histórica (1990)
Os Conimbricenses (1992)
Entre Filosofia e Teologia (1992)
A Cidade Nova. Reflexões sobre Religião e Sociedade (1999)
Meditações lusíadas (2001)
A Escola Portuense: Uma introdução histórico-filosófica (2005)
Pinharanda Gomes, in Expresso, Janeiro de 2004
Apontamento Biográfico
Jesué Pinharanda Gomes nasceu em Quadrazais, concelho do Sabugal, no dia 16 de Julho de 1939. Faz hoje 69 anos.
Cresceu na cidade da Guarda e aí estudou na Escola dos Gaiatos e no Colégio de São José. Ainda na adolescência, conjuntamente com outros colegas, criou, no semanário Correio da Beira, a página “Voz dos Novos”. Por essa altura passou também a produzir programas na Rádio Altitude. Uns tempos depois, muda-se para Lisboa e, apesar de passar por dificuldades de vária ordem, com a ajuda de algumas pessoas, acabou por escrever no Diário de Notícias e n’O Debate. Uma vez em Lisboa, frequenta, no Liceu Francês, aulas de grego e de latim e, autodidactamente, dedica-se ao estudo da filosofia clássica, em particular, e da história da filosofia, em geral. O seu lugar de estudo passa a ser, então, a Biblioteca Nacional (hábito que ainda hoje preserva). Nela pesquisará não só filosofia e religião mas também história, antropologia, literatura, línguas, arte, pensamento português,... Nas tertúlias e nos cafés lisboetas, ao lado de outros discípulos de Leonardo Coimbra (1883-1936) e de Álvaro Ribeiro (1901-1981), Pinharanda Gomes inicia-se filosoficamente, longe das sebentas e da Academia.
Membro da Academia Luso-Brasileira de Filosofia, do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira (do qual é sócio-fundador) e da Sociedade de Língua Portuguesa, Pinharanda Gomes é autor de uma vastíssima obra. Ainda assim, continua a definir-se enquanto “mendigo a bater à porta da sabedoria”.
Apontamento Crítico
De Jesué Pinharanda Gomes podemos dizer que, para além de ensaísta, tradutor, crítico, pesquisador da cultura portuguesa, é, acima de tudo, um amante da sabedoria e um mestre. Um mestre no sentido clássico e socrático do termo. Interessa-lhe, portanto, o diálogo, a conversa e a troca de saberes e experiências. Uma postura altiva e unilateral não combina com a concepção que defende da Filosofia enquanto ascese espiritual, nem com o seu modo de se relacionar com as pessoas.
Se apresentarmos uma panorâmica geral da obra de Pinharanda Gomes, chegamos à conclusão de que o autor balança entre duas doutrinas fundamentais da história da Filosofia: o idealismo platónico e o formalismo aristotélico. Se calhar, mais do que balançar, o nosso pensador tende a reunir essas duas propostas. Essa tendência é, ao fim e ao cabo, muito natural. Em primeiro, porque Pinharanda Gomes se interessou muito cedo pelas filosofias de Platão e de Aristóteles. Em segundo, porque elas eram profundamente revitalizadas nas obras de dois dos seus principais mestres: José Marinho (1904-1975) e Álvaro Ribeiro. Se é possível considerarmos Pinharanda um dos herdeiros da escola formal alvarina, por outro lado, não podemos ignorar a sua forte veia platónica, a sua densa intuição socrática. Igualmente, a herança católica e cristã é também uma presença incontestável na formação do seu corpus filosófico e crítico. Senão bastasse a sua crença num catolicismo redentor, enunciaríamos ainda os inúmeros artigos que dedicou às doutrinas de Cristo e da Igreja e o seu real interesse por Santo Agostinho (354-430) e por Teresa de Ávila (1515-1582), por exemplo.
Enquanto pesquisador da cultura portuguesa, enquanto discípulo de Pascoaes (1877-1952), de Coimbra e de Ribeiro, Jesué Pinharanda Gomes não poderia deixar de ser um saudosista, não poderia deixar de reflectir acerca da Saudade. O autor revela, deste modo, que o Homem, enquanto ser caído, sente saudades de Deus, ou seja, a partir do momento em que houve a expulsão do Paraíso, o Homem entrou em queda e nunca mais conseguiu reconquistar a imagem e a semelhança que partilhava com o criador. A queda, todavia, continua em descida vertiginosa, não estagnou na descensão simbólica de Adão e Eva. Até porque não existe apenas um pecado original, existe também um pecado actual, vivido pelos homens no seu dia-a-dia. Contudo, Pinharanda Gomes acredita na regeneração humana, crê, bem ao modo das teses defendidas pelos membros do grupo da Filosofia Portuguesa, que ainda é possível reencontrar-se o paradigma inicial.
Bibliografia Indicativa
Exercício da Morte (1964)
Peregrinação do Absoluto (1965)
Liberdade de Pensamento e Autonomia de Portugal (1971)
O Pensamento Filosófico de Silvestre de Morais (1972)
Teoria do Pão e da Palavra (1973)
Filosofia Grega Pré-Socrática (compilação e tradução) (1973)
Pensamento e Movimento: Prolegómenos a uma Ascese Filosófica (1974)
Cunha Seixas (1975)
Teodiceia Portuguesa Contemporânea (1975)
Pensamento Português (1979)
História da Filosofia Portuguesa, 3 vols. (1981-1983-1991)
Caminhos Portugueses de Teresa de Ávila (1983)
A Teologia de Leonardo Coimbra (1985)
Dedução Cronológica ao Início do Tomismo em Portugal (1986)
Piedade Eclesial, Piedade Popular (1986)
Dicionário de Filosofia Portuguesa (1987)
A Guarda Ilustrada: Breve panorama dos escritores do distrito da Guarda (1988)
Os Tojais e a Casa do Gaiato: Monografia Histórica (1990)
Os Conimbricenses (1992)
Entre Filosofia e Teologia (1992)
A Cidade Nova. Reflexões sobre Religião e Sociedade (1999)
Meditações lusíadas (2001)
A Escola Portuense: Uma introdução histórico-filosófica (2005)
3 comentários:
Muitos parabéns, Senhor. Saúde e espírito!
Viva Portugal!
Falei ontem com ele. Irá enviar em breve um texto para o segundo número...
Boa notícia!
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