A crença de António Vieira no destino Quintano de Portugal e do mundo não acompanha o jesuíta desde o primeiro dia... é de facto até bastante tardia. Em 1641, quando parte para a metrópole, na embaixada brasileira ao novo rei Dom João IV, ainda não se lhe conhece nenhum escrito ou sermão sobre o tema. Aliás, o primeiro registo de abordagem de tal conceito ocorre apenas já numa fase relativamente tardia da sua vida, quando aos 51 anos redige a carta ao bispo do Japão, em 1659 onde aborda explicitamente o tema das “Trovas do Bandarra”.
Todos os textos que escreve na primeira fase formativa no Brasil, anterior a 1641, se concentram na “guerra holandesa” e na defesa daquilo que poderia levar à vitória nesta esforçada e difícil guerra contra uma das maiores potencias coloniais e navais da época. Nestes escritos não encontramos referência alguma a “Quinto Império”, “Bandarra”, “Rei ressuscitado”... apenas escassas (“Sermão do Dia de Reis”, em 1641) referências irónicas ao Sebastianismo e louvores ao regime Filipino.
É portanto curioso que só depois de regressado a Portugal o pensamento e a convicção no estabelecimento de um”Quinto Império” se torna evidente no pensamento e no verbo vierino... É como se a necessidade preemente de tal empreendimento só se tornasse evidente perante a perspectiva da fragilidade presente do estado de Portugal perante as ameaças cruzada de Espanha, no continente europeu, e da Holanda, no Brasil, em Angola e no Oriente. Perante as dificuldades aparentemente invencíveis, Vieira reconheceu que Portugal só poderia sobreviver se o seu presente perigoso e cinzento fosse polarizado para um destino universalista e global. Perdendo o foco da estrita e regional guerra luso-holandesa no Brasil, Vieira podia agora ver o Todo e compreender que os destinos de Portugal só poderiam ser cumpridos no mundo, pela conversão do mesmo aos ideais católicos que tanto acarinhava e dos quais esperava encontrar no restaurado rei português o mais importante agente, recorrendo como meio ao império português como forma de projecção desse império terrestre onde a Companhia de Jesus seria o maior instrumento de conversão.
3 comentários:
Caro Clavis:
Essa tese é curiosa. Aliás, o "restaurado rei português" era um problema em 1659 (a tal primeira datação do quinto império): D. João IV já tinha morrido, o novo rei Afonso VI era evidentemente incapaz, e havia exércitos espanhois em solo português. A situação era muito pior, aqui, do que em 1641.
Acerca desta saga de textos acerca do padre A. V. permanecem aspectos fundamentais por responder:
a) Qual a pertinência do delírio místico do V Império na contrução da lusofonia e de um Portugal mais democrático e justo?
b) Que importância filosófica e política pode um mito ter?
c) Porquê a insistência? Nada mais o preocupa no mundo e no Portugal contemporâneo?
Anónimo:
1. Estamos em pleno Ano Vieirino. Os textos são tão somente uma homenagem muito simples, condensada e muito modesta a Vieira, alguém que consideremos vital para a determinação do pensamento do MIL e uma influência decisiva de Agostinho da Silva.
2. Os mitos formam as mentalidades. As mentalidades formam as sociedades. Eis a sua importância. Todos nós vivemos enredados em mitos e dentro deles, mesmo sem o sabermos.
3. Porque se incomoda assim em comentar este texto? Aparentemente o post não é assim tão irrelevante nem descontextualizado... E sim, muito mais me preocupa, como poderá ver pelo meu blog principal...
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