A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 1 de julho de 2008

Pela Liberdade Educativa

Por diversas vezes, Agostinho da Silva se referiu ao pernicioso papel da escola na "castração" espiritual das crianças. Defendia que a escola deveria ajudar cada um tornar-se naquilo que quisesse/pudesse ser e chegava a falar com naturalidade de uma "inversão dos papeis", com os meninos a definir os assuntos que em cada momento os professores deveriam tratar, colocando as questões que verdadeiramente lhes interessasse ver respondidas.

Parece-me haver uma absoluta e inconciliável contradição entre esta visão (porventura impossível de atingir na prática) e a realidade do Ensino Básico/Secundário em Portugal, com o Ministério da Educação detendo no essencial o monopólio da definição de um "projecto educativo", diria, totalitário.

Por outro lado, a par de um processo de "domesticação" dos professores que a prazo tenderá a uniformizar ainda mais (nivelando-o "por baixo", como costuma ser o resultado de tais processos homogeneizadores conduzidos pelo Estado... com as melhores intenções, bem entendido!), assistimos a uma ofensiva sem precedentes sobre numerosas instituições de ensino particular e cooperativo, traduzida pela acelerada concentração do "mercado" por um grupo, alegadamente com ligações (senão mesmo a participação no capital) de políticos, parlamentares e governantes do Partido Socialista e do Partido Social Democrata, como tem vindo a ser noticiado pela imprensa escrita (
JN) e online (DPP, Diário XXI) e denunciou o Sindicato de Professores da Região Centro.

Neste contexto, parece-me legítimo propor que a causa da Nova e da Velha Águia seja a causa da Liberdade Educativa. A Nova Águia deve lançar o seu alto e incisivo olhar crítico sobre este processo em curso que, aparentemente, pode vir a degradar ainda mais a já muito limitada diversidade da oferta educativa em Portugal. E, se for o caso, porque não tomar posição?

Em boa verdade, este alerta não é totalmente desinteressado na medida em que há vários anos temos vindo a preparar com vários professores um projecto educativo alternativo a aplicar numa nova instituição de ensino particular a criar. Porém, as notícias que têm vindo a público permitem adivinhar que, com a concorrência protegida por "tubarões" da classe política, dificilmente o projecto pode vir a ser aprovado - aliás a sua discussão com os serviços do Ministério arrasta-se há meses na
DREN, infelizmente famosa por um outro caso de interferência da política sobre os serviços de tutela da educação.

É do domínio público que
o referido grupo GPS tem intenção de se instalar na mesma região do país a curto prazo, com 10 milhões de euros e tudo! Por isso, ocorre-nos igualmente questionar se tantos milhões são de facto "capitais próprios" ou, como têm alertado alguns sindicatos, são em boa parte resultado de ajudas públicas, ou seja dinheiro "de todos nós" a utilizar para que alguns, com ligações ao poder, esmaguem iniciativas igualmente legítimas da sociedade civil.

E com tudo isto, depois da água, da saúde e do ensino superior transformados em negócio, receamos ter chegado agora a vez do ensino básico e secundário, com claro prejuízo para os sonhos de Agostinho da Silva sobre a "
Educação dos meninos".

Luís Botelho Ribeiro

20 comentários:

Jo disse...

Bem lembrado.

O princípio da heterodeterminação educativa continua a ser o único que rege o nosso sistema educativo.
A centralização dos currículos inviabiliza uma verdadeira autonomia das escolas, e este novo modelo de gestão aprovado pelo Decreto-Lei n.º 75/2008 vai na direcção de uma cada vez menor liberdade para as escolas se ajustarem às populações que servem. As consequências serão cada vez mais nefastas para os nossos alunos, mas beneficiarão as estatísticas, as "meninas dos olhos" dos nossos governantes.

Concordo com a urgência em alertar a opinião pública sobre esta questão.

Abraço.

andorinha disse...

Estou de acordo com a ideia de Escola defendida por Agostinho da Silva, embora considere que serão de difícil implementação no terreno muitas das suas ideias, devido precisamente a um grande centralismo por parte da 5 de Outubro.

Já quanto ao resto do seu artigo manifesto o meu profundo desacordo.
Existe uma ofensiva em relação a instituições do ensino particular?!
Não me parece.
Com a política seguida por este ministério da Educação existe a tentativa cada vez mais forte de descredibilizar o ensino público, isso sim.
As considerações que faz parecem-me, por isso, de todo infundadas.
E depois há isto que eu considero grave. Li o artigo referente ao SPRC e lá é afirmado o contrário daquilo que refere. Isso é desonestidade intelectual.
Diz o sindicato entre outras considerações que tece, o seguinte:

"Contrariamente, considera o SPRC que competiria ao município fomentar o desenvolvimento do ensino público em todas as freguesias ao invés de promover e suportar a implantação de uma unidade privada de ensino, uma vez que as escolas dos ensinos básico e secundário reúnem todas as condições para garantir um ensino de qualidade, quer pela elevada qualificação dos seus recursos humanos, quer pela possibilidade de desfrutarem de estruturas escolares com bom equipamento."

Desculpe a pergunta: não sabe interpretar o que lê ou pretende passar-nos a todos um atestado de menoridade mental?
Fico na dúvida...

Anabela.R disse...

Andorinha, adiantaste-te :)

Coitado do Agostinho da Silva que foi para aqui chamado!

Se o senhor está confuso é melhor informar-se mas não faça dos outros tontos.

andorinha disse...

Anabela,

Como venho a voar, chego mais depressa:)

É preciso estar sempre de olho bem aberto, é incrível!
Tenho imensa dificuldade em entender esta gente, confesso...

Luís Botelho Ribeiro disse...

Caras Andorinha e Anabela.R,

Se não for pedir muito, eu gostava de participar num debate de ideias em que não se partisse imediatamente para a formulação de juízos sobre o interlocutor, falando de "falta de honestidade intelectual", de "fazer dos outros tontos" e outros mimos. E o clima de saudável troca de ideias, que proponho, não é de todo incompatível com a manutenção de posições diversas.

De facto, sobre a posição do sindicato as minhas fontes vão além da internet, tendo-me também apoiado num artigo publicado no DN de 14.06.08, pág.25, assinado pelo correspondente em Viseu, Amadeu Araújo. Só não o referi pois não o tinha à mão no local onde escrevia esta tarde. Transcrevo as partes relevantes onde se apontava a estratégia expansionista e a mão do PS no projecto: «GPS, grupo empresarial que pertence a um antigo deputado socialista», «No distrito de Castelo Branco o grupo já detem o Instituto Vaz Serra [...] Em Viseu o grupo adquiriu recentemente a Escola Profissional Mariabna Seixas», «O GPS contratou ainda como consultor outro deputado socialista, o vice-presidente do grupo parlamentar do PS, José Junqueiro.» «A Câmara (da Covilhã) investiu 2,5 milhões de euros no terreno e na isenção de taxas.»

Pergunto agora às minhas ilustres detractoras:

1. Acham que nestas «negociatas» (termo usado pelo SPRC) está salvaguardado o princípio da transparência?

2. Acham injusta a minha crítica ao envolvimento do PS nesta ofensiva pelo controlo do ensino particular, perante um processo onde surgem nomes como o do vice-presidente da bancada? Ou andará a simpatia pela cor rosa a toldar a capacidade de discernimento? (notem o meu esforço para me abster de especular sobre a honestidade intelectual alheia...)

3. Parece-lhes bem a centralização dos curricula na 5 de Outubro e favorável à tão propalada autonomia (pedagógica) das escolas?

4. O que me preocupa ao escrever o texto, não é tanto a autonomia de gestão das escolas - é a autonomia dos conteúdos, da orientação, da adequação ao meio e às crianças e jovens concretos que a frequentam. Sim, é de autonomia pedagógica e científica que falo quando peço "liberdade educativa". Não são euros. É... olhem, é o sonho de Agostinho da Silva que eu partilho e, se não reclamo nem reclamei como meu, também não posso aceitar que o tratem como coisa vossa. Acham que é com uma "industrialização do ensino particular" a la GPS que se promove a diversidade da oferta educativa?

5. E parece-lhes ser de bom augurio para o sistema educativo público uma tal proximidade de elementos do partido do governo de maioria absoluta?


Atentamente,
LBR

Jo disse...

Por condicionalismos profissionais que me limitam o tempo não segui os links deste post, pelo que gostaria de esclarecer que o meu comentário se refere apenas à sua primeira parte, nomeadamente aos perigos da utilização abusiva do princípio da heterodeterminação educativa (termo que fui "beber" ao Professor Manuel Ferreira Patrício). É sobre isto que concordo ser urgente esclarecer a opinião pública.

Concordo em absoluto com o que disse a andorinha
Com a política seguida por este ministério da Educação existe a tentativa cada vez mais forte de descredibilizar o ensino público, isso sim.

Fica o esclarecimento.
Cumprimentos a todos.

Luís Botelho Ribeiro disse...

Mariazinha dixit:
>>Concordo em absoluto com o que disse a andorinha
>>Com a política seguida por este ministério da Educação existe a
>>tentativa cada vez mais forte de descredibilizar o ensino público, isso sim.

Quanto a isso, de acordo. Também sou levado a concordar com essa parte, embora não possa afirmar que tal se passe de forma deliberada.

Quando falei de "ofensiva" sobre o ensino particular, não utilizava uma linguagem sindical mas económica. Não falava de uma ofensiva - "tentativa de limitação" (linguagem sindical) mas antes de uma ofensiva em sentido de investimento ou OPA (linguagem económica). E é de facto o que parece estar a acontecer com o grupo GPS a dominar já "mais de meia centena de empresas na área do imobiliário, serviços (onde integra empresas do turismo)" (conforme post doPortugalProfundo citando http://www.noticiasdocentro.net/artigo.php?ArtID=3425)
e empregar pelo menos os 800 professores participantes no III Forum, abrilhantado com uma intervenção do Secretário de Estado Valter Lemos (http://www.frenteoeste.com/modules.php?name=News&file=article&sid=2868).
Na órbita do GPS português parecem gravitar generosas constelações de políticos, governantes e... milhões.

Mas deixemos estes mal-entendidos e jogos de linguagem para voltar À questão de fundo: Liberdade Educativa - sim ou não?

Casimiro Ceivães disse...

Interessantíssimas questões levantadas aqui, tão ao de leve. Para só apontar uma, e indo directamente a Agostinho da Silva: a "castração" espiritual das crianças será reduzida ou, pelo contrário, fortalecida, se a liberdade educativa for a liberdade dos pais/"responsáveis" de escolher o "projecto educativo" (com ou sem ensino religioso, com ou sem ensino da sexualidade...) que consideram melhor para os seus filhos? Independentemente das hipóteses de realização prática, que não estou certo de que deva ser preocupação nossa, que pensam da "utopia" os que aqui escrevem (em post ou em comentário)?

Cordiais cumprimentos,

Anabela.R disse...

O Senhor coloca um link que afirma precisamente o contrário do seu post e parece-lhe normal? Não lhe parece que um argumento deve ser prova da tese que se pretende defender?

Casimiro, eu gostava de um sistema educativo que envolvesse mais os pais, de um regime político que envolvesse mais os cidadãos, de uma sociedade mais participativa. Gostava que os alunos não fossem números e estatísticas para o ME manipular como bem lhe interessa, gostava que os professores fossem respeitados pelo importante papel que têm na sociedade e não fossem vistos como amas.
Os projectos educativos participados pelos pais são de facto uma utopia, mas sim, são uma bonita utopia :)

Um abraço

Casimiro Ceivães disse...

Cara Anabela, também eu. Não invoco é o Agostinho da Silva por isso; estou só a tentar perceber o que se passa aqui.

Cordiais cumprimentos, pois os beijos são subversivos

Luís Botelho Ribeiro disse...

Caro Casimiro,

Sem prejuízo de cada leitor ter uma noção diferente de "liberdade educativa"; um diferente grau de confiança na bondade da participação dos pais na construção e aplicação do projecto educativo; e, já agora, uma maior ou menor tolerância para com o meu desorganizado e apressado amontoado de hipóteses, teses e questões (escrevi o post de chofre)... o "que se passa aqui" é um simples aflorar de uma questão vital para a Escola (Pública ou Particular) em Portugal, para o futuro da "ideia de Pátria", enfim, creio mesmo que para o futuro da Pátria! E se isto assim é, limitei-me (ia a escrever "atrevi-me") a propor que a Nova Águia tratasse com a necessária profundidade esta questão que eu suspeito que toca o cerne das suas preocupações espirituais e filosóficas.

Se alguém perguntou ao mar «Quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?», também se pode continuar perguntando a Portugal mesmo, «Quanto de ti mesmo é a escola onde foste livre... ou não!»

O artigo/post afirma uma posição, é certo (a favor da Liberdade - também na Escola!), mas no fundo deixa uma questão:

Queremos um Portugal de cidadãos mais livres ou clones do português-padrão(?) idealizado por algum burocrata da 5 de Outubro ou, pior, do Rato ou da Lapa?

Anónimo disse...

O por fora e o por dentro corresponde. Orgulho vão, sabedoria nenhuma e menos educação.

Não entendo o objectivo deste site, nem o proveito que daqui sai para a cultura e a filosofia.

Anabela.R disse...

Caríssimo senhor, as suas afirmações, e são muitas, confundem-me, mas o que de facto me confunde mais é essa necessidade de invocar Agostinho da Silva, Fernando Pessoa, e quem mais (?), para legitimar a sua opinião.

Casimiro, nem eu percebo!
Certo estava o Zé da Horta que vivia a sua vida entre couves e nabiças, nunca ouviu falar de Camões, mas cantava à desgarrada e não havia quem o parasse.
E como ele diria... D'dia

Casimiro Ceivães disse...

Caro Luis Botelho Ribeiro:

Muito obrigado pela sua amável resposta. Do ponto de vista de Agostinho da Silva (que não sei se é, pode ou deve ser o nosso, admitindo que algum temos)pode ser absolutamente indiferente que o "castrador" esteja sentado na 5 de Outubro ou (reconheço que é pior!) no Rato ou na Lapa (ou, já agora, no Patriarcado, na Rua do Grémio Lusitano ou na sede do Supremo Conselho Anarquista...), ou que esteja tranquilamente sentado na sala de estar a pensar com os seus botões "vou pôr a filha num colégio onde lhe dêem a perspectiva certa da educação sexual".

É por isso que o A.S. é subversivo, é por isso que eu o admiro (mesmo quando com ele não concordo, o que é frequente), mas também - porque é aqui que o gato vai às filhoses, ou pelo menos elas lhe ficam ao alcance da pata)- é aqui que há que separar as águas e as águias: a luta por uma escola liberta do actual partido da maioria absoluta (!) não me parece que seja, nem possa ser, nossa. E não me parece que ganhemos (pelo contrário) em deixar a águia voar como se fosse andorinha em dia de chuva, rasteira ao chão das preocupações propriamente políticas, por pertinentes que elas sejam.

(queria sublinhar este ponto da pertinência: não estou de modo nenhum a afirmar que se trate de uma falsa ou secundária preocupação)

Quer isto dizer que vejo com preocupação a possibilidade de se entender que preconizamos a utopia para quando ela for realizável, e que até lá temos uma série de medidas sisudas a propor. Vejo com preocupação pela simples razão de que a última coisa que para nós boa seria (e quantas vezes acontece!) é acabarmos por ter um Ministério da Educação sediado... na Avenida Agostinho da Silva (aliás autor, então, de leitura obrigatória).

Pessoalmente (isto é, sem que isso toque na Águia e no seu programa) concordo consigo, e por essas e muitas outras lá votarei quando eleições houver.

Cordiais cumprimentos,

andorinha disse...

Caro Luís Botelho,

Continuo a achar estranho, pronto, chamemos-lhe assim se tem pruridos de linguagem, que tenha feito um post e apontado links que desmentem aquilo que afirma, pretendendo deixar-nos a impressão de que corroboram o que diz.
Isto para mim é desonestidade.
Tenha pelo menos mais atenção para a próxima para não incorrer no mesmo "erro".


Casimiro,
Em relação ao sistema educativo faço minhas as palavras da Anabela.

Beijinho.

Luís Botelho Ribeiro disse...

Cara Odete Coelho,

Não me conhece embora, pelos vistos, trabalhemos na mesma cidade. Se me conhecesse saberia que uma questão de "honestidade/desonestidade" não entra, para mim, na classe dos "pruridos de linguagem" mas da honra. E vale isto para mim e para os outros. O que quer dizer que quando aponto a alguém este tipo de falhas (o que acontece raramente) preocupo-me em apontar exactamente onde está a sua falha. Não fez assim a Odete - diz que eu indico um link (suponho que o do artigo referindo o SPRC) e que lá é dito algo (o quê?) que contraria algo que eu escrevo (exactamente o quê, posto que afirmo várias coisas no meu texto?).

NUma primeira leitura da sua critica pareceu-me que o seu ponto incidia sobre a questão da "ofensiva". Escreve a Odete : «Existe uma ofensiva em relação a instituições do ensino particular?! Não me parece.»

Expliquei-me, parecendo-me que divergiamos na interpretação do termo "ofensiva". Quando eu o usei, referia-me à "ofensiva" (como quem diz "OPA hostil" ou não) de pessoas ligadas ao PS sobre diversas instituições de ensino particular de todo o país... comprando-as. Penso que se pode usar o termo "ofensiva" neste contexto. A Odete interpretou outra coisa, como se vê erroneamente. Vai daí, entra logo a acusar-me de desonestidade intelectual. Se é tão ousada no que faz profissionalmente como na sua interpretação do que outros escrevem, espero que não seja juíza... É que a Justiça em Portugal já está como está e não precisa de "juízos precipitados" a enterrá-la ainda mais...

Se é professora, como receio, se me permite, então sugiro-lhe uma leitura sobre o "diálogo de Bohm" e as "suspensões temporárias dos juízos. Talvez da próxima não entre a "bater-me", qual Maria da Fonte, e primeiro esclareça o que eu pretendo dizer ao certo.

Assunto encerrado, pela minha parte.

LBR

andorinha disse...

Caro Luís Ribeiro,

Pensava que o teor do meu primeiro comentário tinha sido bem explícito.
Pelos vistos não...

Não tente confundir as coisas. Continuo a achar que a crítica que fiz é válida e fundamentada.
Já a fundamentei quando fiz o comentário; não é meu hábito criticar por criticar, não fundamentando por que o faço.

Mas não me custa nada frisar novamente onde para mim reside a desonestidade.
Refere no seu post:
"...assistimos a uma ofensiva sem precedentes sobre numerosas instituições de ensino particular e cooperativo, traduzida pela acelerada concentração do "mercado" por um grupo, alegadamente com ligações (senão mesmo a participação no capital) de políticos, parlamentares e governantes do Partido Socialista e do Partido Social Democrata, como tem vindo a ser noticiado pela imprensa escrita (JN) e online (DPP, Diário XXI) e denunciou o Sindicato de Professores da Região Centro.

Ora o sindicato não só não denunciou, como afirma:
"Contrariamente, considera o SPRC que competiria ao município fomentar o desenvolvimento do ensino público em todas as freguesias ao invés de promover e suportar a implantação de uma unidade privada de ensino, uma vez que as escolas dos ensinos básico e secundário reúnem todas as condições para garantir um ensino de qualidade, quer pela elevada qualificação dos seus recursos humanos, quer pela possibilidade de desfrutarem de estruturas escolares com bom equipamento."

Este excerto foi o que eu citei e todo o artigo aponta no mesmo sentido. Portanto, o sindicato não corrobora a sua opinião e eu estranharia que o fizesse.
Ao afirmar algo que é mentira, se é feito de forma consciente, chamo-lhe desonestidade.
Se foi distracção, deve ter mais cuidado para a próxima, como já lhe disse.

Está a defender o ensino particular ( é o próprio a dizê-lo: "este alerta não é totalmente desinteressado....") e contra isso nada me move. Cada um defende o que entende.
Não é esse o fulcro do problema como muito bem entendeu.
E entendi perfeitamente a questão da "ofensiva" depois de a ter explicitado.Não é por aí...

Por último, sou professora, sim e tenho muito orgulho no que faço.
Considera-me ousada?!
Eu considero-me frontal e directa, aqui como na vida lá fora.
Não tenho receio das palavras; uso as que necessito quando são necessárias...

Por mim este assunto também termina aqui. Dissemos o que tinhamos a dizer.

Luís Botelho Ribeiro disse...

Caro Casimiro Ceivães (1912-1931?),

Agradeço a sua resposta e a oportunidade que me dá de elaborar um pouco mais o meu pensamento sobre tema tão candente. Embora com a impressão de estar assim de cara descoberta a falar com um espectro (que me perdoe se não é o caso), as questões que me coloca são bem reais e por isso as saúdo e considero.

Antes de responder, quero deixar claro que não pretendi com as citações de Agostinho ou Pessoa dar qq nota de intelectualidade ou erudição. Pobre de mim, leio o que posso com o tempo que me deixa o ensino de engenharia. E cogito. Depois tive a sorte de uma avó "Agostinho da Silva", do "alto doiro" como ele, com quem passei longos serões à conversa. De modo que quando ele apareceu nas conversas vadias e nos numerosos livros do último período, eu já o "conhecia". Quando ele aliás refere uma "velhinha" que lhe sintetisou toda a filosofia do mundo... "creio" que teria sido a minha própria avó! Basta para esta crença a circunstância de que... podia ter sido. Evoquemos pois Agostinho, como aconselhava S. PAulo, sendo conveniente ou inconveniente... que demais não será.

Passo aos pontos questionados. Em primeiro lugar, reconheço agora que para levantar a questão da liberdade de ensino eu não deveria (pelo menos neste forum) tê-la misturado com a "ofensiva" do grupo GPS sobre o Ensino PArticular um pouco partout... e muito menos deveria ter criticado o envolvimento de figuras do PS. Sei por experiência a virulência que o terreno político insufla nos espíritos. Não o devia ter feito mas fiz - está feito.

Procuremos agora, se ainda for possível, isolar a questão da liberdade de ensino das circunstâncias actuais da situação política.

Se me pedissem para indicar um conjunto de "escritores obrigatórios" para o "ensino oficial de português" eu ficaria de nervos em franja com a imensa responsabilidade de uma tal selecção. Se me pretendessem obrigar, provavelmente invocaria uma qualquer clausula de "objecção de consciência" para o não fazer. Pode parecer presunção - peço indulto - mas parece-me isto influência agostiniana. E se mo não pedissem a mim mas a um grupo, por mais numeroso que fosse, por exemplo a todo o colégio do eleitorado português? Embora a responsabilidade individual parecesse diluir-se (e diminuir) no mar dos milhões que tornariam o meu "voto" quase irrelevante, parece-me que continuaria a ser ética e artisticamente ilegítima a exclusão deste ou daquele. E o mesmo problema se me colocaria se me propusessem a designação dos "filósofos oficiais". Mas o ensino não precisará desta delimitação do campo de estudo para poder avaliar os conhecimentos dos alunos em... exames nacionais?

E como não pensar que, chegado aqui, imediatamente perguntaria Agostinho "Mas precisamos assim tanto de exames nacionais?" ?... Sim, deixemos anarquisar a nossa mente sedenta de respostas um pouco mais amplas.

Parece-me então que o caminho seguido tem sido este:

Temos de avaliar uniformemente (para ser justos?) todos os candidatos ao ensino superior.
Então temos de dar o mesmo programa em todo o país.
Então temos de delimitar esse programa.
Então, em algumas disciplinas como o Português ou a Filosofia, temos de "dar" um conjunto limitado de autores.
Então temos de incluir alguns e excluir outros.
Então temos de observar critérios de valia "internacional e cientificamente reconhecidos".
Então... (e por aí fora)


O que eu começo a suspeitar, especialmente depois de ter encontrado dois casais de navegadores noruegueses com filhitos pequenos em idade escolar a quem ensinavam pelo livro aberto do mundo que percorriam de mar em mar e de porto em porto (e por uns livros que levavam a bordo), é que será possível encontrar uma outra forma de assegurar o desenvolvimento da mente, do corpo, da sensibilidade, da capacidade de expressão dos jovens, sem passar pela tortura dos "programas obrigatórios" e dos "exames nacionais únicos". Que um mastodonte como o nosso ministério da educação tenha dificuldade em conviver com a diversidade, com o pluralismo e a especificidade, não me custa admitir. Mas... a complexidade da sociedade, o pluralismo das ideias, dos projectos de vida e dos quadros de valores e referências (por exemplo religiosas e filosóficas) não mereceriam do Estado uma resposta diferenciada / diferenciável?

Em tantos campos se conquistou com tanta luta o direito à diferença e à pluralidade dos sentidos contra a tentação dos movimentos unitários, partidos únicos, sindicatos únicos, canais únicos (rádio, TV), concessionários únicos de telecomunicações, contra os monopólios enfim... e não se há-de reconhecer, no terreno singularmente determinante de uma sociedade como é o da Educação, a virtude redentora da Liberdade?

Quem nos garante que uma irmandade secreta não se infiltrou ou infiltrará secretamente no Ministério da Educação para a verdadeira corrupção da juventude deixando toda a sociedade à mercê da sua doutrina subliminar perpassando os manuais escolares? Por exemplo uma irmandade Coca-Cola ou McDonald's? Quem folhear os actuais manuais portugueses pode legitimamente pôr-se todas estas questões...

Perante isto, não vejo outra defesa ou saída que não a proposta por Agostinho da Silva - e para isto nos servem as reflexões (aparentemente ociosas) dos visionários e dos filósofos. Que os meninos cheguem à escola e coloquem ao professor as suas perguntas. "Hoje queremos aprender isto; falar daquilo; fazer aqueloutro ou absolutamente nada; vadiar; passear". Ou então, que ao menos se lhes ofereçam escolas suficientemente diferenciadas para que estes, com os pais / encarregados de educação, possam escolher a que lhes interessa frequentar.

E chegamos a um outro ponto que muito bem levanta:
>>a "castração" espiritual das crianças será reduzida ou, pelo contrário, fortalecida, se a liberdade educativa for a liberdade dos pais/"responsáveis" de escolher o "projecto educativo"

Existe uma certa ideia de que o Estado sabe e quer o que é melhor para nós todos, logo também para as crianças. Platão propunha na sua República que os filhos, gerados numa sociedade deliberadamente promíscua, tivessem uma educação pública fora da tutela do pai (incógnito) ou da mãe. Podemos pois, de certa forma, chamar "platonica" a esta ideia. Mesmo assim, esta ideia reaparece-nos hoje sob diversas formas. Já assistimos ao empolamento de situações de disfunção familiar para tomar violentamente as crianças à sua família natural. Há casos verdadeiramente Kafkianos não tratados na imprensa, unicamente interessada em evidenciar as situações de disfuncionalidade familiar - infelizmente bem reais mas bem longe de constituir a regra.

A "regra", portanto, não podemos aceitar que seja a de que as "famílias" sejam um espaço de "castração espiritual" das crianças, contra as quais o Estado se ergue como o "grande educador". Basta pensar no papel, em concreto, do Estado Português no caso «Casa Pia» para encarar com sérias reservas a sua idoneidade. Não nos referimos apenas ao falhanço na protecção dos menores à sua guarda mas ao alegado envolvimento directo de altas figuras do Estado e da sociedade no escândalo.

Os pais, a família, têm para com a criança o "olhar amoroso" que o Estado não lança sequer sobre os contribuintes que o alimentam, quanto mais sobre as crianças e jovens que o "oneram". Pode-se alegar que nem todos os pais olham assim para/pelos seus filhos. Mas é esta a regra, apesar das excepções.

E por isso, entre a "castração real" da educação obrigatória ordenada pelo Estado, e a "castração virtual", hipótese assente numa visão pessimista da família, eu escolho claramente a "liberdade educativa", determinada pelos pais e progressivamente participada pelos próprios estudantes, contra a "ditadura do pensamento único" via educação centralmente programada. E assumo esta posição não à luz de princípios abstractos, mas da realidade confrangedora dos números do abandono escolar no Portugal de hoje. Embora outras causas, entre as quais a pura necessidade, intervenham aqui, como ignorar que, por ora, a única liberdade real concedida pelo sistema é... a de o abandonar? Para muitos, o desinteresse pelo desinteressante não encontra outro corolário lógico que não seja o de abandonar um sistema sem alternativas.

Agora vou citar Zeca Afonso, se não me baterem. Uma vez mais, não é por erudição - mas por gosto do fado:
"Ainda que seja um ladrão,
aquele que tenha mãe
tem lá no meio da luta
ternos afagos de alguém"

Isto que o Zeca disse da Mãe, em geral, não o diríamos... do Estado.

Casimiro Ceivães disse...

Caro Luis Botelho:

Muito obrigado pela sua resposta. Nada tenho à partida contra espectros e a sua capacidade de nos interrogar ou de nos convidar à interrogação (Hamlet! e, brincando um pouco se me é permitido, lhe digo a porta das remissões literárias está a partir daqui escancarada...); mas eu não sou o meu tio-avô que refere!

O que diz, interrogando-se, sobre a liberdade de ensino, é muito importante, está dito muito claramente e remete para perguntas maiores: eis o que eu acho que deve ser o grande, se não o maior, objectivo da nossa participação neste blogue. Respostas prontas-a-servir, temos já um labirinto delas. Não quer, por isso, transformá-lo num post? É uma pena estar aqui escondido nesta caixa de comentários (que já não é recente, para mais...). Isto, claro, se depois estiver disposto a continuar a aturar comentadores...

Em especial, adianto o seguinte: a resposta a essas questões fundamentais foi uma das grandes preocupações da "filosofia portuguesa", não só em Agostinho da Silva mas, por exemplo, em Álvaro Ribeiro. Não sou a pessoa certa para as trazer para aqui, mas talvez alguém mais qualificado o faça...

Cordiais cumprimentos,

Luís Botelho Ribeiro disse...

Caro Casimiro Ceivães,

Obrigado pelas suas palavras e tolerância com o meu pouco saber - por isso vivo na interrogativa! Ao escrever o "post" que me valeu aquelas pequenas "bordoadas" ali acima, o que mais me penalizava era o meu pouco génio para mobilizar a enorme força de pensamento que a N.A. logrou reunir... para o que me pareceu o mais nobre dos problemas em que empregá-la. E se o Álvaro velho, não o outro mas o Ribeiro - como eu de resto, embora não meu tio-avô :-) (e é esta a deixa para lhe pedir desculpa também por aquela minha graçola dos espectros; ainda bem que não tomou a mal! Ainda mal nos demonstrava tolerância e nós já a abusar dela...) perdi-me... ah, sim, dizia eu que se o velho Álvaro Ribeiro já andou às voltas com ele, então temos um problema já com tradição nesta escola - condição segura para que se dignem pegar-lhe alguns dos "maiores". Do Álvaro, apenas li umas coisas sobre as casas do povo e excertos creio que do "problema da filosofia portuguesa".

Quanto a transformar aquele longo comentário num "post", necessário seria algum tempo para lhe dar um mínimo de ordem, de modo a não se perder a energia do desafio pelos escolhos das minhas imprudências e desnecessárias derivações...

Seja como for, convenhamos que se o tema for realmente importante, o já ter sido levantada a lebre pode ser o suficiente para que outros lhe consagrem alguma atenção. E a esses, a quem a busca do essencial apaixona, provavelmente pouca influência teria já no seu espírito um segundo artigo da minha pobre pena. Vejamos se sai alguma coisa. E se não sair, lá para Setembro ou Outubro poderei voltar à liça com alguma coisa.

Saudações,
Luís B. Ribeiro