Num “exame”, um texto que Vieira comporia para condensar e facilitar a conversão dos judeus ao catolicismo, o jesuíta aludiria a dado ponto por “… que o tal Quinto Império por qualquer modo que seja há de ser sempre não só católico, mas o mais católico que nunca houve.” Este Império católico, devia assim não enquadrar em si comunidades e religiões de outras matrizes religiosas, mas cumprir-se pela sua conversão ao catolicismo de Roma, e visando assim sobretudo a conversão de judeus, indígenas e muçulmanos. Liderando este Império Universal, Vieira coloca Dom João IV, “porque princípe que gasta com seus vassalos tudo o que recebe deles, não lhe compete menos conquista que a do Mundo, menos Monarquia que a do Universo… Assim prometem as novas profecias… para grande aumento da fé; para grande glória da Igreja; para grande honra da nação portuguesa…”
António Vieira, queria sobretudo que a concepção do Império Universal cristão vingasse. Este Império deveria ser erguido à semelhança da Igreja e, essa construção deveria ser feita – naturalmente – por um príncipe cristão, cabeça de um dos pilares do catolocismo e de missões católicas em todo o mundo, desde o Japão à Índia e por meio das selvas do sertão brasileiro. E esse pilar era Portugal e o seu império ultramarino, com especial destaque para o Brasil que Vieira sentia como sendo a sua primeira pátria.
O “Quinto Império” de Vieira não correspondia politica e administrativamente ao mesmo formato de Império dos quatro impérios precedentes… Assírios, romanos, macedónios e outros, formaram império na base da conquista, anexação e de um controlo centralizado e férreo. Com efeito, este Império de Vieira não era um corpo único e unificado, mas uma entidade multiforme e descentralizada. O Imperador Universal decidiria das contendas e disputas entre os diversos imperadores e reis colocados sob a sua tutela, mas não regiria em seu nome, sempre com a suprema intenção de manter por todo o mundo a paz de Cristo, mas nunca a impondo pela força das armas ou das legiões. Uma imagem que está muito conforme com a visão que hoje em dia alguns têm quanto à essência e ao destino de uma potencial União Lusófona…
A importância de Portugal no lançamento deste constructo universalista católico resultava primariamente do papel de Portugal na missionação do mundo através da extensa rede de missões promovidas pelos portugueses no mundo a partir dos seus estabelecimentos no Oriente e no Brasil. Assim, as conquistas de Portugal, a sua defesa e recuperação (contra a Holanda) seriam fundamentais para criar as bases desse novo e prometido Quinto Império Cristão e por isso dava Vieira tanta importância à Restauração de Portugal e à defesa do reino. Não porque Portugal fosse em si mesmo importante. Mas porque importante era o “império futuro” que ainda haveria de vir e em cuja fundação Vieira encontrava em Bandarra sinais que haveria de partir de Portugal.
4 comentários:
Bons textos, bem alusivos a este ano (vieirino). Depois diz-nos o que queres publicar no próximo número da revista...
Como construir um Quinto-Imprério numa época pós-Cristã (ao menos na Europa)?
Excelente, amigo. Estou a gostar.
Grande abraço.
Somos cidadãos de um país com dificuldades de definir um rumo, uma realidade para enfrentar, transformar, não sabemos definir a contradição principal que o bloqueia, a "classe" política anda aos papéis e falamos no Quinto Império, na cristandade. Haja vontade para sermos mais pragmáticos na base de uma filosofia política ajustada à nossa realdade actual. Pés no chão com o carácter de Vieira.
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