Li no Boletim Municipal “Mais Figueira”, num destes dias que “Agostinho da Silva foi homenageado”, nada mais frisando para a além da placa que por lá lhe colocaram e dei comigo a pensar : que cansativo, sentiria ele, saturado de tantas homenagens neste já adiantado ano do seu centenário. O desenvolvimento que certamente Agostinho da Silva deseja para Barca de Alva ( que nome tão bonito para não falar no cais e na paisagem), está amplamente centrado no ser humano, que ele e a sua obra elevam na descoberta da própria luz interior!
Agostinho da Silva espera que os portugueses, ao contrário dos países ditos industrializados que produzem muitas máquinas e destroem a paisagem, consigam fazer algo pelo desenvolvimento pessoal do ser humano em toda a sua plenitude e grandiosidade. Agostinho da Silva queria e quer o ser humano hábil para formular perguntas e não preparado para dar respostas, tal como referia.
Todo o contributo da sua obra e da sua existência física foi demorar-se na maravilha de acontecer, livremente pensar e promover o pensamento dentro de quem o via e o ouvia, numa procura constante de lucidez interior, ele, um espectador maravilhado, fascinado em andar vivo, celebrar, acontecer, acreditando a cada instante na capacidade do ser humano para criar a sua própria realidade sem amarras.
Barca de Alva deve, numa atitude de gratidão extrema contemplar-se no destino sagrado que existir lhe reservou : ser terra adorada por um dos mais inquietantes valores da cultura portuguesa do III milénio, por essa essência de vida que a saudade do futuro já antecipa…
E aqui, na natureza deste lugar, a responsabilidade é maior porque a paisagem deslumbrante está cheia de flores e é crime estragá-la pelas vias do desenvolvimento politicamente correcto.
O desenvolvimento de Barca de Alva está em Agostinho da Silva, no seu pensamento e na sua obra, devendo a Barca ser inundada por gente que livremente se junte à causa de promover o desenvolvimento integral do ser humano, como Agostinho da Silva sempre quis.
Barca de Alva pode ser um centro e expoente de saber do terceiro milénio, porque não se pode falar de Agostinho sem falar desta terra de flores!
Se ele próprio diz que “ está grato a Portugal por o ter deixado nascer nele”, a gente de Barca de Alva deve sentir-se grata por se deixar desenvolver através dele. Transformar Barca de Alva e guiá-la por um caminho de cultura, (as flores da actualidade ), eis o desafio que lhe está reservado! Este o desafio global em que a vida do sec. XXI se tornou. Esta uma oportunidade real para o concelho de Figueira de Castelo Rodrigo.
Deixo apenas uma ideia: fundar em Barca de Alva uma universidade do culto popular do espírito santo, dos costumes, das paisagens, da riqueza oral, ao encontro de uma verdadeira identidade de ser português, enfim, um centro de saber universal, da vida que desabrocha cada dia como as flores … criar aqui um centro de estudos da sua obra, descobrir por dentro, “ o extraordinário que é o mundo”, a partir dele, deixar que o mundo venha descobrir-se em Barca de Alva, encontrar-se, aprofundar conhecimentos de todas as áreas do saber; reunir aí estudiosos e apaixonados da sua obra, todos aqueles que se enquadrem no espírito do prémio que ele instituiu ( Prémio D. Dinis )… só assim o pensamento dele estará vivo …
Só uma placa lá colocada ( com uma frase dele partida ao meio ), faz-me lembrá-lo como se estivesse só a fumar “ cigarros tristes”, reformado sem ter criado nada … A sua memória não pode ficar emoldurada e presa, procurem-no na rota das flores, no cheiro da erva, no perfume da reflexão que exala do seu pensamento vivo.
Gina R. J. R
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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3 comentários:
"Cuidem da Vossa mensagem, não da minha..."
Agostinho da Silva, "Conversas Vadias"
Não há meio mais eficaz para matar e desvirtuar a memória de uma vida - do que transformá-la em placa de pedra, do que vesti-la com o papel de fantasia do mito.
Para quando latas de conserva «Agostinho da Silva»»?
P. S. Mas poder-se-ia dizer o mesmo de outras figuras do passado, já tão míticas que ninguém quer saber mais da sua verdade.
Aliás isto sempre foi uma «gripe» que muito afectou quem se liga à Filosofia Portuguesa... e depois, em vez de Sabedoria, temos mitosofia - para não falar em toda a sorte de gente lunática e presunçosa que tem chiliques escriturais com neblinas, predestinações, etc.
Abaixo as lápides,
Vivam as tágides!
:)
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