"Caros senhores e caras senhoras,
nós que enrijecemos os mamilos com os vértices da filosofia, quando deixarmos de nos abandonar seremos enfim poema de estrelas e trituradores de utopias. Se nos tornarmos perigosos o suficiente, e o sangue for inevitável, que cheire melhor que os cravos mortos da revolução.
Sabemos como os nossos umbigos nos comovem até às lágrimas, seria pueril negar o carácter subversivo do amor. Mas perdemos tanto tempo a ruminar granadas até que o troar do estômago silencie o do coração. Porque, vejam... noutros casos é o contrário. Noutros casos, o pensamento tem a fronteira geográfica da fome. E são tambem as palavras do actor que estão subnutridas de crime.
A terminologia pode parecer meio drástica, mas quem sabe o mofo do vocabulário não ajude a despertar o nosso olfacto? Cheira a podridão! (- Exercício número 1 de subsistência:abram as narinas e a boca até os próprios ossos se dilatarem, e evitem o vómito enterrando uma pedra na nascente da laringe.) Sim, essa podridão a que o sistema nos habituou a não estranhar; Vulgarizamos o odor podre dos frigoríficos vazios, o odor podre das cabeças vazias, o odor podre das veias, vazias pelo genocídio, pela miséria, pela exploração; até que toda esta parafernália de aromas se torne não só suportável, como natural.
A mitologia moderna está minada de polícias, padres, políticos, militares, serial killers; adaptações cavernosamente reais de deuses obsoletos, e aparentemente, necessitamos tanto deles como de croissants para a boca.
Estranhos sujos de lágrimas assistem, com as mãos dentro dos sexos, à explosão dos sorrisos hirtos no TeleVendas.
Foram-lhes ainda receitadas quantidades fragosas de xanax, prozac, e colgate branqueador.
Para quem duvidar, basta prestar atenção ao modo malemolente como desfilamos os nossos sentimentos grandes e nobres de indignação; de profunda, de sincera indignação, por tudo em particular. Esse glamour com que conseguimos digerir os antagonismos mundiais de classe, tudo conforme um circo de horrores, lúdico para a leal minoria, sórdido para uma natimorta maioria. Na guerra permanente da concorrência e do individualismo tornamo-nos todos meretrizes um pouco perversas, mas inocentemente frígidas.
E é nesta sociedade que se decompõe entre o descaramento da ingenuidade e a promiscuidade da tirania, que seremos kamiquases; quase mártires sem pátria, quase assassinos com escrúpulos. Vamos estancar as cascatas do Niagara e interromper o ciclo de baba de cada cão de Pavlov, que desperta desértico às sete em ponto da madrugada. Arrancar, um a um, os dentes de ouro ofuscante ao capitalismo com a mesma fé ininterrupta de Indiana Jones ante a ponte invisível."
nós que enrijecemos os mamilos com os vértices da filosofia, quando deixarmos de nos abandonar seremos enfim poema de estrelas e trituradores de utopias. Se nos tornarmos perigosos o suficiente, e o sangue for inevitável, que cheire melhor que os cravos mortos da revolução.
Sabemos como os nossos umbigos nos comovem até às lágrimas, seria pueril negar o carácter subversivo do amor. Mas perdemos tanto tempo a ruminar granadas até que o troar do estômago silencie o do coração. Porque, vejam... noutros casos é o contrário. Noutros casos, o pensamento tem a fronteira geográfica da fome. E são tambem as palavras do actor que estão subnutridas de crime.
A terminologia pode parecer meio drástica, mas quem sabe o mofo do vocabulário não ajude a despertar o nosso olfacto? Cheira a podridão! (- Exercício número 1 de subsistência:abram as narinas e a boca até os próprios ossos se dilatarem, e evitem o vómito enterrando uma pedra na nascente da laringe.) Sim, essa podridão a que o sistema nos habituou a não estranhar; Vulgarizamos o odor podre dos frigoríficos vazios, o odor podre das cabeças vazias, o odor podre das veias, vazias pelo genocídio, pela miséria, pela exploração; até que toda esta parafernália de aromas se torne não só suportável, como natural.
A mitologia moderna está minada de polícias, padres, políticos, militares, serial killers; adaptações cavernosamente reais de deuses obsoletos, e aparentemente, necessitamos tanto deles como de croissants para a boca.
Estranhos sujos de lágrimas assistem, com as mãos dentro dos sexos, à explosão dos sorrisos hirtos no TeleVendas.
Foram-lhes ainda receitadas quantidades fragosas de xanax, prozac, e colgate branqueador.
Para quem duvidar, basta prestar atenção ao modo malemolente como desfilamos os nossos sentimentos grandes e nobres de indignação; de profunda, de sincera indignação, por tudo em particular. Esse glamour com que conseguimos digerir os antagonismos mundiais de classe, tudo conforme um circo de horrores, lúdico para a leal minoria, sórdido para uma natimorta maioria. Na guerra permanente da concorrência e do individualismo tornamo-nos todos meretrizes um pouco perversas, mas inocentemente frígidas.
E é nesta sociedade que se decompõe entre o descaramento da ingenuidade e a promiscuidade da tirania, que seremos kamiquases; quase mártires sem pátria, quase assassinos com escrúpulos. Vamos estancar as cascatas do Niagara e interromper o ciclo de baba de cada cão de Pavlov, que desperta desértico às sete em ponto da madrugada. Arrancar, um a um, os dentes de ouro ofuscante ao capitalismo com a mesma fé ininterrupta de Indiana Jones ante a ponte invisível."
3 comentários:
Duas questões prévias:
1.Uma vez que Kafka não é o autor deste texto, porque vem o mesmo entre aspas?
2.Pode indicar-nos em que obra Kafka afirmou que «desobediência é consciência»»?
o texto é do www.kamiquases.blogspot.com, não custava muito a chegar lá, basta um pouco de atenção....
já li tudo de kafka e acho (sim não tenho a certeza e acho que ninguém morre se não a tivermos, mas tenho quase a certeza, o que já devia chegar porque não estamos em solo sagrado e direitos d'autor afins) que aparece num livro muito pequeno dele somente com aforismos, se tivesse um exemplar dizia-te o titulo, mas não tenho .. .
malatesta
Ou seja, este texto é um anúncio. Penso, nesse caso, que bastaria o link.
Quanto ao Kafka - não há Kafka. Mas é um nome que vende bem; para não falar daquela frase gira que até parece culta: «é kafkiano».
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