É verdade que não foi a primeira vez. Mas a quase total divergência que se verificou entre eleitores e «eleitos» no passado dia 16 de Maio na Assembleia da República, desta vez a propósito da aprovação do (segundo protocolo modificativo do) acordo ortográfico, atingiu – aliás, continua a atingir – níveis surpreendentes, nunca antes vistos.
A maioria dos deputados que disseram «sim» não se limitou a ir contra a opinião de praticamente todas as figuras de relevo da cultura nacional; também contrariaram o sentimento quase unânime dos «cidadãos comuns» que vivem neste país – deduzível das adesões à petição contra o acordo e dos comentários colocados nos sítios na Internet dos órgãos de comunicação social. Pode dizer-se que a «casa para lamentar» proporcionou na passada sexta-feira, com poucas e honrosas excepções, um dos seus espectáculos mais ridiculamente deprimentes de sempre. Mas é o que dá estarmos numa «república DOS bananas»: numa Monarquia isto nunca aconteceria.
É verdade que a aprovação deste acordo não significa (em princípio…) que todos os portugueses vão ser obrigados a escrever «à brasileira». Mas significa, sim, e no plano internacional, o reconhecimento oficial por parte de Portugal da inferioridade, da subalternidade da sua forma de escrever português. Logo, da menoridade da sua cultura e até do seu estatuto enquanto nação. No fundo, não é algo que surpreenda muito: afinal, somos desde há muito tempo um país com pulsões suicidárias, com baixa auto-estima, com uma tendência contínua para a inferiorização do que é intrinsecamente nosso e bom. E é por isso que os «internacionalismos» geralmente alcançam tanto sucesso cá: foi o «internacionalismo socialista» da União Soviética, tem sido o «internacionalismo burocrata» da União Europeia, começa a ser o «internacionalismo ibérico» do PS e da FPF, e agora parece que vem aí um – deficiente, demagógico, deturpado - «internacionalismo lusófono». Eu defendo o multinacionalismo.
O actual ministro da Cultura terá dito que o acordo vai «facilitar o uso do português por pessoas de graus de erudição diversos». A palavra-chave aqui é, de facto, «facilitismo». O que está aliás em consonância com o que defende a actual ministra da Educação - de que se deve evitar reprovar os alunos, mesmo quando o merecem. O que está aliás em consonância com o percurso escolar do actual primeiro-ministro, em especial a «facilidade» com que ele obteve a sua licenciatura. O acordo ortográfico é uma desvalorização institucional do esforço, do estudo, enfim, do trabalho. É uma consagração oficial da preguiça.
É verdade que se «virou uma página». Porém, o «livro» é de muito duvidosa qualidade… E não deixa de ser estranho que quem apregoa a «pluralidade» defenda igualmente a «unicidade» - já não a sindical mas outra. E é irónico que se apoie – muito justamente! – as pretensões dos galegos em preservaram o seu idioma contra a «normalização castelhana» e, ao mesmo tempo, suporte-se um outro tipo de «normalização» quase tão arbitrária como aquela… Receio que a «guerra», longe de ter acabado, tenha apenas começado.
Pela minha parte, e por respeito a mim próprio, vou continuar a escrever o português como sempre o escrevi; acredito que a maioria esmagadora dos portugueses vai continuar a escrever o português como sempre o escreveram. Vou continuar a ter respeito pelos brasileiros e africanos que sempre escreveram nas suas respectivas ortografias. No entanto, a partir de agora vou ficar à espera que os portugueses que apoiaram o acordo ortográfico passem das palavras… às palavras, e comecem a escrever utilizando a nova ortografia. Todos: os «paus-mandados» de São Bento, Carlos Reis e os seus (poucos) discípulos… e os que na Associação Agostinho da Silva, na Associação Marânus/Teixeira de Pascoaes, no Movimento Internacional Lusófono e na Nova Águia foram na conversa do Panaca… perdão, Malaca Casteleiro.
Querem uma «mais rápida implementação do acordo ortográfico»? Pois então tratem de implementá-lo rapidamente nos vossos textos! Nada como ser-se consequente com as suas próprias propostas. Nesse sentido, prometo que vou ler com ainda maior atenção o que se escrever aqui… para confirmar, ou não, que determinadas pessoas seguem as alterações decorrentes do acordo, em especial a não utilização de consoantes «mudas».
É uma questão de coerência. E ninguém aqui é adepto do «olha para o que eu digo e não para o que eu faço», não é verdade?
A maioria dos deputados que disseram «sim» não se limitou a ir contra a opinião de praticamente todas as figuras de relevo da cultura nacional; também contrariaram o sentimento quase unânime dos «cidadãos comuns» que vivem neste país – deduzível das adesões à petição contra o acordo e dos comentários colocados nos sítios na Internet dos órgãos de comunicação social. Pode dizer-se que a «casa para lamentar» proporcionou na passada sexta-feira, com poucas e honrosas excepções, um dos seus espectáculos mais ridiculamente deprimentes de sempre. Mas é o que dá estarmos numa «república DOS bananas»: numa Monarquia isto nunca aconteceria.
É verdade que a aprovação deste acordo não significa (em princípio…) que todos os portugueses vão ser obrigados a escrever «à brasileira». Mas significa, sim, e no plano internacional, o reconhecimento oficial por parte de Portugal da inferioridade, da subalternidade da sua forma de escrever português. Logo, da menoridade da sua cultura e até do seu estatuto enquanto nação. No fundo, não é algo que surpreenda muito: afinal, somos desde há muito tempo um país com pulsões suicidárias, com baixa auto-estima, com uma tendência contínua para a inferiorização do que é intrinsecamente nosso e bom. E é por isso que os «internacionalismos» geralmente alcançam tanto sucesso cá: foi o «internacionalismo socialista» da União Soviética, tem sido o «internacionalismo burocrata» da União Europeia, começa a ser o «internacionalismo ibérico» do PS e da FPF, e agora parece que vem aí um – deficiente, demagógico, deturpado - «internacionalismo lusófono». Eu defendo o multinacionalismo.
O actual ministro da Cultura terá dito que o acordo vai «facilitar o uso do português por pessoas de graus de erudição diversos». A palavra-chave aqui é, de facto, «facilitismo». O que está aliás em consonância com o que defende a actual ministra da Educação - de que se deve evitar reprovar os alunos, mesmo quando o merecem. O que está aliás em consonância com o percurso escolar do actual primeiro-ministro, em especial a «facilidade» com que ele obteve a sua licenciatura. O acordo ortográfico é uma desvalorização institucional do esforço, do estudo, enfim, do trabalho. É uma consagração oficial da preguiça.
É verdade que se «virou uma página». Porém, o «livro» é de muito duvidosa qualidade… E não deixa de ser estranho que quem apregoa a «pluralidade» defenda igualmente a «unicidade» - já não a sindical mas outra. E é irónico que se apoie – muito justamente! – as pretensões dos galegos em preservaram o seu idioma contra a «normalização castelhana» e, ao mesmo tempo, suporte-se um outro tipo de «normalização» quase tão arbitrária como aquela… Receio que a «guerra», longe de ter acabado, tenha apenas começado.
Pela minha parte, e por respeito a mim próprio, vou continuar a escrever o português como sempre o escrevi; acredito que a maioria esmagadora dos portugueses vai continuar a escrever o português como sempre o escreveram. Vou continuar a ter respeito pelos brasileiros e africanos que sempre escreveram nas suas respectivas ortografias. No entanto, a partir de agora vou ficar à espera que os portugueses que apoiaram o acordo ortográfico passem das palavras… às palavras, e comecem a escrever utilizando a nova ortografia. Todos: os «paus-mandados» de São Bento, Carlos Reis e os seus (poucos) discípulos… e os que na Associação Agostinho da Silva, na Associação Marânus/Teixeira de Pascoaes, no Movimento Internacional Lusófono e na Nova Águia foram na conversa do Panaca… perdão, Malaca Casteleiro.
Querem uma «mais rápida implementação do acordo ortográfico»? Pois então tratem de implementá-lo rapidamente nos vossos textos! Nada como ser-se consequente com as suas próprias propostas. Nesse sentido, prometo que vou ler com ainda maior atenção o que se escrever aqui… para confirmar, ou não, que determinadas pessoas seguem as alterações decorrentes do acordo, em especial a não utilização de consoantes «mudas».
É uma questão de coerência. E ninguém aqui é adepto do «olha para o que eu digo e não para o que eu faço», não é verdade?
24 comentários:
Sr. Octávio dos Santos, prometendo ver quem está a escrever conforme o acordo presta um serviço a uma qualquer ASAE Linguística de que o Sr. faça parte ou tenha brilhantemente fundado.
E se não vir, o que pretende fazer será com certeza aplicar-nos um correctivo escrevendo nesse tom ressentido e paternalista.
Quanto ao respeito em forma de link, parece ser uma sua assinatura. Talvez pudesse colocar o link de um dicionário por si feito para que todos possamos ter acesso ao que essa palavra para si significa.
Para poupá-lo a mais angústias, ansiedades e ataques de raiva, despeço-me desvalorizando o esforço, o estudo, enfim, o trabalho a que se deu ao escrever este post, pois consagro oficialmente a preguiça que me dá lê-lo e tentá-lo desculpar pelas suas irreflexões.
A democracia, como diz a canção de Sérgio Godinho, pode mesmo ser “o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros”. Mas, como nenhum outro sistema, tem vantagens inegáveis e uma delas é precisamente o debate. Discute-se, vota-se e “que ganhe o melhor”. É isso mesmo que parece escapar-lhe.
Quanto ao resto, veja lá se ganha um bocadinho de recuo. Esta sua reacção, desculpe dizê-lo, é tão previsível que não lhe deve ter saído do cérebro.
É com enorme tristeza que leio este texto carregado de xenofobia, principalmente voltada contra os brasileiros. Acho que entendi mal o significado deste blog, pensei que seu objetivo era unir os povos lusófonos e não ataca-los desta forma absurda e mal educada como faz esse senhor Octávio. Sinto muito pelas pessoas que a quem eu indiquei este blog, de minha parte eu me desligo deste projeto pois se tem algo que eu absolutamente detesto são xenofobia e racismo. Quanto aos senhor Octávio, lembrem-se de que quem vive cuspindo pra cima um dia o cuspe pode acabar atingindo o seu olho.
Ó rapazes, alguém ainda se lembra do Hino da Mocidade Portuguesa?
Eu sou contra o Acordo Ortográfico, mas isto trata-se de uma verdadeira cartinha de apoio ao racismo e à xenofobia! Que triste.
Sr. Gabriel Macedo, não há motivos para se desligar do projecto. As posições do Sr. Octávio dos Santos não representa de maneira nenhuma as posições da maioria dos participantes.
O preço a pagar pela Liberdade de Expressão é termos de conviver com opiniões que achamos ofensivas.
Enfim...e que os há, lá isso há...e mexem-se, ou antes, vomitam. O sr. Octávio que tenho o prazer de não conhecer, representa tudo aquilo que faz dos homens (de certa categoria de homens) uns seres obscuros.
Pelo que se entende no que escreveu, os que aceitam o acordo ortográfico são uns "traidores" ou então uns "coitadinhos" que se deixaram levar em cantigas... quanta sabedoria! Quão iluminado!
É certamente devido a tais "cérebros" que foi necessário mobilizarem-se os fundadores da NOVA ÀGUIA...
Conceição Oliveira
Completamente de acordo, toda a ortografia, em todos os meus textos e em todas as minhas páginas na Internet, serão a partir de agora escritas no Português correto que tenho muito prazer em utilizar me que só lamento não ter sido implementado já à muito mais tempo!
Luís Cruz Guerreiro
Onde está a relevância de:
"conversa do Panaca… perdão, Malaca Casteleiro."
para este debate?
Para além de introduzir um argumento que reduz a zero todo o demais texto, claro.
e sim.
pelo meu espaço, já se vai recorrendo (na medida do possível e da lembrança) à nova ortografia.
Basta contar os "atuais" que surgem na página principal.
Estou a delirar com esta novel vantagem do Acordo Ortográfico!
Escreves como antes do Acordo? És um patriota do pénis! (Sou uma pessoa educada).
Escreves de acordo com a nova ortografia legislada?? Então és um filho de meretriz abrasileirado que vive num barrado e vais ser corrido do País!
Cumprimentos.
P. S. É por estas - e por outras - que, cada vez mais, exijo estar só naquilo em que acredito! Rebanhos já é uma merda e quando incitados por bodes sem tomates, uma grande pilha de esterco!
P. P. S. E espero que o palhaço que me chamou «anarca» e «gentalha» comece a escrever em Mandarim, porque ando um bocadito mal disposto.
____INFORMAÇÃO ÚTIL____
A SEDE DO PNR NÃO É AQUI
Errata: onde se lê «barrado», leia-se «barraco». Que acto falhado tão inteligente!
Quem é que acredita no ressurgimento de Portugual, da Cultura, da Língua ... com este palavread? Tenham educação, meninos. Sem isto nada feito.
«Paz aos homens, guerra às ideias» disse Sampaio Bruno. Antagonismo, mas com boa educação.
Anónimo
(Corrigindo as gralhas de há momentos)
Quem é que acredita no ressurgimento de Portugal, da Cultura, da Língua ... com este palavreado? Tenham educação, meninos. Sem isto nada feito.
«Paz aos homens, guerra às ideias» disse Sampaio Bruno. Antagonismo, mas com boa educação.
Anónimo
Olhe... vá-se, educadamente, coitar.
P. S. Às amostras de Portugueses que por aqui andam, Sampaio Bruno nem o lenço emprestraria para limparem o ranho!
Numa Monarquia, naquela em que acredito, não existe a vileza, a estreiteza de pensamento, nem a ostracização de Portugueses pelas sua posições ideológicas, culturais, filosóficas, religiosas, ou outras, e ainda menos a divisão da Pátria por «delitos de opinião»!
Viva o Rei!
Viva Portugal!
Sr. Anónimo, boa educação começa em dizermos o nosso nome, continua em não nos focarmos nas palavras mas nos actos e quanto ao meninos, não tenha tiques de madre superior como o sr. que escreveu este artigo, esse sim grosseiro e mal educado.
Já agora actualize-se que a polémica acabou lá em cima.
Senhor dos Santos,
(e não vai nisto nenhuma ironia)creia que para nós brasileiros a idéia de pertencer a uma comunidade lusófona não exclui o débito com a origem. Antes, transmuta em fraternidade o que, visto com olhos turvos, seria uma herança colonial. Quanto a internacionalidade do Português, vale lembrar que durante os seculos XV e XVI era ele a lingua franca européia. Em Firenze,por exemplo,era mais falado do que o italiano. Talvez estejamos hoje tentando resgatar 186 anos de divórcio cultural.
Muito bem!
Aplaudo!
Exacto Caro Lamen! Também aplaudo!
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