Na língua, nada é fixo mas fixado de tempos a tempos por uma questão prática de comunicação e, sabemos bem, que uma das coisas belas da comunicação, está precisamente no rompimento das regras.Esta discussão do Acordo Ortográfico, que vai da estagnação ao progresso lento e concertado, leva-me a reflectir sobre o mal-estar dos defensores do “Não” em verem aprovado o actual Acordo, e, escrevo mal-estar e não mal estar, porque a ortografia desta palavra decorre de uma regra publicada em decreto-lei, portanto com o alcance jurídico, que permite aos defensores do “Não” exigir o seu cumprimento para um caso e em simultâneo o incumprimento para o outro, aliás, as palavras compostas com recurso ao hífen, são uma confusão e dão-nos alguns desgostos, chegando a ponto de as encontrarmos grafadas com e sem hífen em dicionários de referência. Correntemente, há quem use e quem não use o hífen, seja por erro, por ordem prática ou preferência dos que acham que as normas são convencionais e não mandam na Língua.
Um bom exemplo, para além das mutações populistas, são alguns escritores que, perante a capacidade expressiva de um hífen poder cumprir funções semânticas, literárias ou estilísticas, se estão nas tintas para o padrão de orientação geral e desenvolvem novas formas, que, a par de outras, principalmente de sintaxe -mais comum do que de ortografia, leva alguns defensores do “Não” a dizerem que é dos escritores a honra de fazer norma, o que, a meu ver, e a par dos falantes que somos todos -porque não se trata de falar, mas de escrever com correspondência à fala, empurram a língua devido à sua padronização para a norma e daí a necessidade de tocar a reunir de tempos a tempos. Ora, como para além da norma, há quem proponha a norma, posteriormente, dicionaristas, gramáticos e linguistas, decidem ser esta ou aquela grafia, esta ou aquela construção sintáctica. Daqui se pode inferir, que ninguém em particular faz a norma, aparecendo esta, feita por toda a comunidade de forma retrospectiva e pelo reconhecimento oficial de um uso generalizado, quando não é por necessidade semântica.Temos assim, que a norma é necessária para não nos apoiar-mos em balbúrdias e evitarmos afastamentos extremos que dificultariam a comunicação e, da mesma forma e pelos mesmos motivos, esta deve acompanhar os tempos.
A norma que nos regula data de 1945, e, também por isso, muitos defensores do “Não”, não são contrários a acordos ortográficos, sabem que a língua é como um organismo vivo que vai perdendo umas células, os arcaísmos por exemplo, e ganhando outras como os neologismos, são sim contra este Acordo, pela simples razão de o pensarem de forma diferente e independente de dizerem ‘stande’ ou escreverem ‘fevras’, outros, preferem a prosa redonda da integridade da Língua e divagações sobre soberania, outros preferiam uma poda como a de décadas atrás quando se limparam umas quantas palavras e outros ainda, acusam o Acordo de pertença do eixo Lisboa-Coimbra. Todos estes argumentos correm em paralelo e não importa que uns tentem falar mais alto que outros, o problema é que, os acordos não são ciências exactas, fazem-se pela urgência de resolver problemas de desfasamento correndo sempre o risco de provocar reacções contrárias, mas isso será sempre assim e esta discussão dura há 20 anos. É tempo, portanto, de aplicarmos este acordo por forma a controlarmos a dispersão que já se verifica (erva e desumano sem a consoante muda ‘h’, por ex. que estão consagradas no uso faz anos sem ter sido levada em conta a etimologia) e daqui a algum tempo recomeçar de novo.
14 comentários:
Heróis do Mar - «O Inventor»!
Abraço.
Psstt, psstt, ó pst… amigo Lord, Lord, Lord of Erewhon – cuidado com a confusão.
Disse um dia Rui Pregal da Cunha, que como bem sabes era o vocalista dos Heróis do Mar, à Blitz: - “para mim aquilo era uma enorme mistura de referências que metiam no mesmo saco a História de Portugal, as sagas de aventuras japonesas que víamos no cinema e o Thor e o Balder – não o da mitologia nórdica, mas o da Marvel Comics!”.
Pondo de parte a qualidade de alguns músicos, como por exemplo, o Pedro Ayres, confesso que, nunca fui grande adepto do pop e, muito menos, de visuais neomilitaristas.
Isto, nada tem a ver com o não aceitar a carga inteira do nosso passado, que sempre navegará dentro de nós e com a qual tenho uma relação sem ressentimentos fúnebres, ou delírios patológicos.
Aquele abraço.
Bem verdade, o Rui sempre pertenceu aos Heróis do Mar por um longo processo de rapto e escravatura e foi obrigado a cantar com uma caçadeira encostada à cabeça - o que, aliás, ficou profusamente provado no recente documentário, de Jorge Pires e Jorge Pinheiro, que foi dedidaco à banda, com patrocínio dos Comandos e dos Fuzileiros.
Abraço.
Errata: onde se lê «dedidaco», leia-se «dedicado».
Tanto também não. Tirando o facto do Rui ter sido escolhido pela forma inusitada como se vestia, que ia do fato de três peças anos 40, ao traje de pirata das Caraíbas com espada e tudo, sei que eles vieram dar um novo ar ao panorama musical que se vivia, e também sei, que o Pedro Ayres e o Paulo Gonçalves, queriam um grupo que reflectisse a história e a cultura de Portugal. A questão, é que, o queriam fazer projectando uma ideia de imaginário mítico, colonial e classicista.
Abraço.
Meu caro Pires, com alguma elegância parnasiana... mais não fases que reiterar um preconceito da Esquerda.
Abraço.
Fica-te com esta, Pires.
E-MAIL que circula entre os brasileiros - reacção ao Acordo na proverbial boa disposição brasileira.
OLIA ÇO QUE MARAVILIA
Eis aqui um programa de cinco Anos para resolver o problema da falta de autoconfiança do brasileiro na sua capacidade gramatical e ortográfica.
Em vez de melhorar o ensino, vamos facilitar as coisas, afinal, o português é difícil demais mesmo.
Para não assustar os poucos que sabem escrever, nem deixar mais confusos os que ainda tentam acertar, faremos tudo de forma gradual.
PRIMEIRO ANO
No primeiro ano, o "Ç" vai substituir
o "S“ e o "C" sibilantes, e o "Z"
o "S“ suave.
Peçoas que açeçam a internet com
freqüênçia vão adorar, prinçipalmente
os adoleçentes. O "C" duro e o "QU“
em que o "U" não é pronunçiado çerão
trokados pelo "K", já ke o çom é
ekivalente.
Iço deve akabar kom a konfuzão, e os teklados de komputador terão uma tekla a menos, olha çó ke koiza prátika e ekonômika.
SEGUNDO ANO
Haverá um aumento do entuziasmo por
parte do públiko no çegundo ano,
kuando o problemátiko "H" mudo e
todos os acentos, inkluzive o til,
seraum eliminados.
O "CH" çera çimplifikado para "X“
e o "LH" pra "LI" ke da no mesmo
e e mais façil..
Iço fara kom ke palavras como "onra" fikem 20% mais kurtas e akabara kom o problema de çaber komo çe eskreve xuxu, xa e xatiçe.
Da mesma forma, o "G" ço çera
uzado kuando o çom for komo em
"gordo", e çem o "U" porke naum
çera preçizo, ja ke kuando o çom
for igual ao de "G“ em "tigela",
uza-çe o "J" pra façilitar ainda
mais a vida da jente.
TERCEIRO ANO
No terçeiro ano, a açeitaçaum publika
da nova ortografia devera atinjir o
estajio em ke mudanças mais
komplikadas serão poçiveis. O governo
vai enkorajar a remoçaum de letras
dobradas que alem de desneçeçarias
çempre foraum um problema terivel
para as peçoas, que akabam fikando
kom teror de soletrar..
Alem diço, todos konkordaum ke os çinais de pontuaçaum komo virgulas dois pontos aspas e traveçaum tambem çaum difíçeis de uzar e preçizam kair e olia falando çerio já vaum tarde.
QUARTO ANO
No kuarto ano todas as peçoas já
çeraum reçeptivas a koizas komo a
eliminaçaum do plural nos adjetivo e
nos substantivo e a unificaçaum do
U nas palavra toda ke termina kom
L como fuziu xakau ou kriminau ja ke
afinau a jente fala tudo iguau e açim
fika mais faciu.
Os karioka talvez naum gostem de
akabar com os plurau porke eles
gosta de falar xxx nos finau das
palavra mas vaum akabar entendendo.
Os paulista vaum adorar. Os goiano
vaum kerer aproveitar pra akabar com
o D nos jerundio mas ai tambem ja
e eskuliambaçaum.
QUINTO ANO
No kinto ano akaba a ipokrizia de
çe kolokar R no finau dakelas palavra
no infinitivo ja ke ningem fala mesmo
e tambem U ou I no meio das
palavra ke ningem pronunçia komo
por exemplo roba toca e enjenhero
e de uzar O ou E em palavra ke todo
mundo pronunçia como U ou I, i ai
im vez di çi iskreve pur ezemplu
kem ker falar kom ele vamu iskreve
kem ke fala kum eli ki e muito milio
çertu ?
os çinau di interogaçaum i di
isklamaçaum kontinuam pra jente çabe
kuandu algem ta fazendu uma pergunta
ou ta isclamandu ou gritandu kom
a jenti e o pontu pra jenti sabe
kuandu a fraze akabo.
Naum vai te mais problema ningem
vai te mais eça barera pra çua
açençaum çoçiau e çegurança
pçikolojika todu mundu vai iskreve
sempri çertu i çi intende muitu
melio i di forma mais façiu
e finaumenti
todu mundu no Braziu vai çabe
iskreve direitu ate us jornalista us
publiçitario us blogeru us advogado
us iskrito i ate us pulitiko i u
prezidenti.
Olia ço ki maravilia!
O meu primo de onze anos perguntou se isso era romeno!
Amigo Lord of Erewhon, como sabes, hoje tive grande almoçarada em Setúbal com uns avatares e, segundo informações – exclusivíssimas - os zés pereiras e as zumbas chicas espertas, aproveitaram a onda para vir a terreiro. Longe de mim mexericar, tu sabes. Repara, se não reparaste (e isso seria incrível em ti) isto não passa de um miserável textículo, que não consegue ultrapassar o nível dos emoticons tontos. :)
PS: Também me chibaram, que nunca ninguém juntou um só facto mais, um facto importante, de cuja relevância não restassem dúvidas. Isto, testemunhado, por uma bela garoupa mergulhada em azeite virgem.
Querias que as anedotas tivessem o poderio dos Doutoramentos? :)
Mas têm outros... penso que a brincadeira do brazuca expressa que deve considerar que por lá a Educação - e as responsabilidades do Estado nesta - não andam famosas.
Depois explicas-me isso melhor.
Abraço.
Romeno? Talvez um novo Esperanto... :)
Abraço, Miguel.
Nesse sentido, tens razão. Como diz o Oliver, “é o samba do crioulo doido. Um sistema em estado de pré-falência, isto é, falta-lhe ordem, não há senso de hierarquia, e os métodos que o regem, ou são ineficazes, ou ultrapassados ou ainda inapropriados”. Lá como cá.
Exacto. Sem que eu soubesse, esse sorrateiro, demasiado british para os trópicos, já leu isto de fio a pavio! :)
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