A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
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sexta-feira, 28 de março de 2008
Vidas Portuguesas: Alexandre Herculano (1810-1877)
Nas horas do silêncio, à meia-noite,
Eu louvarei o Eterno!
Ouçam-me a terra, e os mares rugidores,
E os abismos do inferno.
Pela amplidão dos céus meus cantos soem
E a Lua prateada
Pare no giro seu, enquanto pulso
Esta harpa a Deus sagrada.
Antes de tempo haver, quando o infinito
Media a eternidade,
E só do vácuo as solidões enchia
De Deus a imensidade,
Ele existia, em sua essência envolto,
E fora dele o nada:
No seio do Criador a vida do homem
Estava ainda guardada:
Ainda então do mundo os fundamentos
Na mente se escondiam
Do Omnipotente, e os astros fulgurantes
Nos céus não se volviam.
Eis o Tempo, o Universo, o Movimento
Das mãos sai do Senhor:
Surge o Sol, banha a terra, e desabrocha
Sua primeira flor:
Sobre o invisível eixo range o globo:
O vento o bosque ondeia:
Retumba ao longe o mar: da vida a força
A natureza anseia!
Alexandre Herculano
Apontamento Biográfico
Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo nasceu, em Lisboa, no seio de uma família humilde, no dia 28 de Março de 1810. Estudou no Colégio dos oratorianos mas, por questões financeiras, não frequentou a universidade, limitou-se a tirar um curso prático de Comércio e, por autodidactismo, esmerou-se na diplomacia e nas línguas. Dedicou-se, portanto, desde muito cedo, à literatura e às traduções.
Depois de se ter envolvido contra o regime absolutista de D. Miguel, exilou-se, no ano de 1831, em Inglaterra e depois em França. Regressou a Portugal, via ilha Terceira, aquando da revolução liberal liderada por D. Pedro. Depois da vitória liberal, em 1833, Herculano é nomeado segundo bibliotecário da Biblioteca Pública do Porto. Nos anos seguintes, colaborará no Repositório Literário, fundará e dirigirá a revista O Panorama e publicará essencialmente panfletos, poesias e artigos. Em 1839, será nomeado bibliotecário-mor das Reais Bibliotecas das Necessidades e da Ajuda e, a partir daqui, começará a esboçar aquilo que virá a ser uma das suas principais obras – História de Portugal (1846).
Foi sócio correspondente da Academia Real das Ciências, desde 1844, e, em 1855, foi eleito vice-presidente desta instituição.
Envolve-se constantemente com a esfera política, com vários partidos mas permanece sempre fiel à sua vocação literária, à sua paixão pela história do país, ao seu interesse pelo jornalismo (funda, a este propósito, os jornais O País, em 1851 e O Português, em 1853).
Em 1867, desiludido com a política, retira-se para uma quinta em Vale de Lobos, onde se dedica à produção agrícola, contudo, continua a escrever e a publicar.
Morre no dia 13 de Setembro de 1877, vítima de pneumonia, na sua quinta, perto de Santarém.
Apontamento Crítico
Alexandre Herculano, para além de ter sido um defensor do liberalismo em Portugal e, ao lado de Almeida Garrett (1799-1854), um dos pais do romantismo português, foi igualmente um romancista, um poeta, um jornalista, um historiador e um político de referência para muitos que, depois dele, vieram e se destacaram nas áreas em que Herculano foi mestre. A par de tudo isto, foi ainda um polemista (relembremos a polémica que manteve com o clero a propósito da veracidade do “Milagre de Ourique” ou da proposta da introdução do casamento civil a par do religioso) e um precursor, em Portugal, do género literário romance histórico – inspirado em Walter Scott (1771-1832) e Victor Hugo (1802-1885). De todas estas versatilidades, Alexandre Herculano é recordado, sobretudo, por causa da sua veia romancista e historiadora. É considerado pelas gerações seguintes, como um dos poucos que soube interpretar fidedignamente a História de Portugal: citemos, a título de exemplo, António Sérgio (1883-1969), Jaime Cortesão (1884-1960) ou Agostinho da Silva (1906-1994).
Na maior parte da sua obra, mas, acima de tudo, nos seus romances de carácter mais histórico, Alexandre Herculano exalta um grande ideal romântico, inspirado nas literaturas estrangeiras, essencialmente na alemã - o nosso autor crê, aliás, que a literatura portuguesa precisa de ser regenerada e que a solução para tal incidirá no regresso às origens portuguesas, no apelo à moral e à estética nacional, e, por outro lado, ao relançar de olhos ao exemplo que o romantismo alemão estava a dar à literatura mundial. Se relembrarmos Eurico, o Presbítero, verificamos que tal ideário dá o tom à obra por um todo. Não só porque existe a intenção de se retratar as raízes de Portugal, no seu ambiente e contexto medieval (tão propício aos românticos), mas porque se faz uso de um conjunto de categorias tão típicas do romantismo: a saber, a defesa do sentimentalismo, do subjectivismo, do nacionalismo ou patriotismo, da religiosidade (contrariando os ateísmos e materialismos) ou do pessimismo, entre outras.
A originalidade da obra, do pensamento e da vida de Alexandre Herculano destaca-se, afinal de contas, porque este autor se movimentou por várias áreas sapienciais (daquelas que já referimos, convém realçarmos a sua preocupação com o ensino em Portugal: apesar de não ter concebido uma teoria educacional ou pedagógica, agiu objectivamente, enquanto deputado, ao propor uma reforma que incidisse no ensino popular, contudo, a sua sugestão não foi acatada), porque assumiu posições liberais que influíram, indiscutivelmente, na direcção conceptual dos seus propósitos intelectuais, culturais e sociais, mas, principalmente, porque foi um pioneiro no estudo da História de Portugal (percepcionando realidades nunca antes discutidas e conferindo-lhe outros horizontes hermenêuticos – são exemplo disso os seus romances históricos) e na modernidade introduzida ao panorama da literatura portuguesa.
Bibliografia Indicativa:
Romance
O Pároco de Aldeia (1825)
O Bobo (1843)
Eurico, o Presbítero (1844)
O Monge de Cister (1848)
Lendas e narrativas (1851 )
História
História de Portugal (4 vols., 1846-1853)
História das Origens e Estabelecimento da Inquisição em Portugal (1854-1859)
Portugaliae Monumenta Historica (1856-1873 )
Estudos sobre o Casamento Civil (1866)
Opúsculos (10 vols., 1837-1877)
Poesia
A Voz do Profeta (1836)
A Harpa do Crente (1838)
Poesias (1850)
Teatro
O Fronteiro de África ou três noites aziagas (1838)
Os Infantes em Ceuta (1842)
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