Desde Gaspar Barleus, em elogio a Maurício de Nassau durante a ocupação holandesa de Pernambuco, sabe-se que a Míngua européia transplantou-se às Américas. O Velho Mundo despachou ao Novo seus pobretões e indesejáveis. Séculos depois, milhares de mal empregados descendentes das centenas de degredados dos impérios coloniais de ontem fazem caminho inverso sobre o mar-Oceano, num autêntico bumerangue demográfico.
Todavia, a mamãe África pagou a fatura duplamente em ambos os mundos. Por conta desta consciência pós-moderna, na última campanha presidencial francesa, nasceu a idéia generosa de um plano Marshall, desta vez para reconstrução de países devastados pela Colonização. Seria talvez dar prática efetiva ao pedido de perdão, em nome da Igreja de Roma, proferida por João Paulo II na cerimônia dos 500 anos, em Santo Domingo (lugar da revolução de Toussaint L'Ouverture, de 1791), em direção aos Índios e Negros da Terra.
Antes da eleição presidencial na França porém, o ex-minstro da Cultura de Mitterrand e da Educação no governo Jospin, Jack Lang; viajou de Paris a Caiena e ao Pará, trazendo à mão, no Natal de 2005; a versão portuguesa de sua obra biográfica sobre Nelson Mandela, que distribuiu a autoridades locais como sutil mensagem de amizade e cooperação no campo dos direitos humanos.
O Senhor Lang estava escrevendo o livro, publicado logo após a viagem, "Immigration positive / Imigração positiva", no qual combate preconceitos contra imigrantes e exalta o fato da França (assim como o Brasil, certamente) ter sido grandemente beneficiada pela integração de ilustres imigrantes em sua vida econômica, cultural e política. Com exemplo recente do próprio Presidente Nicolas Sarkozy filho de hungaros, do governador da Califórnia de origem austríaca e do candidato democratra Obama, filho de um cidadão do Kenya, estes últimos nos Estados Unidos..
Desde então, um caboco da Ilha do Marajó que, por necessidade e acaso, entrou em contato com o assunto, passou a cantar como galo velho no seu poleiro, a tentar sensibilizar formadores de opinião em favor daquela idéia de um plano de reconstrução pós-colonial. Agora, em homenagem ao vencedor do apartheid na África do Sul. Brasil e França, mais do que outras nações, têm oportunidade e dever de uma tal iniciativa, na sui generis fronteira Norte-Sul (Europa - América do Sul), quanto se conhece a história do rio Oiapoque ou rio de Vicente Pinzón, aonde se encontraram recentemente os Presidentes Lula e Sarkozy.
Nessa história envergonhada, imigrantes "clandestinos" da Guiana francesa - vítimas do êxodo rural do norte do Brasil - ficaram assinalados como objeto de certa "Operação Repatriamento de Brasileiros de Caiena (REBRACA)". Assunto "tabu" nas relações transfronteiriças nesta parte da Amazônia. Sábios de Paris e Brasília tomaram lá sua amigável champanha, mas não sabiam eles o porquê da imigração na fronteira Amapá-Guiana nem que, cem "expulsos" voltariam logo multiplicados em mil e tantos outros; animados com notícias que vinham da rota do contrabando, da zona do franco outrora e agora do euro.
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3 comentários:
Amigo Zé Varela, devemos realmente levar a frente o Plano Mandela. Conte comigo. Não estará também na hora de organizar um comité de direcção do MIL aí no Brasil?
Irei a Bruxelas no final de Junho e terei todo o gosto de me encontrar lá com o companheiro Maurice Gey para começarmos a tratar do painel sobre o Plano Mandela para o Forum Social Mundial. Tem os contactos do Samir Amin e do Walden Bello?
Ab MIL,
A
Estimada Ana Margarina,
Como vê estou a aprender a manejar esta ferramenta, afinal interessante, quando nos lembramos das naus para levar notícias de uma beira a outra do Oceano. Cá no Pará já temos um pequeno núcleo do MIL, que precisa ativar.
Os contactos de Samir Amin e do Walden Bello não tenho. Importante manter reunião com Maurice.
Ana, esqueciame de avisar: hoje comecei um blogue: ....oarary.blogspot.com
com ele pretendo dar continuidade a um pequeno jornal que existiu há 100 anos, editado por meu avô, na ilha do Marajó. Espero enontrar lá seu comentário.
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