No passado sábado foi publicado no semanário “Expresso” um artigo sobre a nossa “Petição online contra as taxas nos levantamentos no Multibanco”, embora o âmbito do artigo tivesse extravasado o âmbito muito específico desta petição - que é aquela mais votada alguma vez em Portugal – não abordou aquela que é a nosso ver o ponto essencial: Existe uma vontade de participação cívica por parte dos portugueses, e esta vontade não se revê nem nas tradicionais lógicas e mecânicas partidárias (em claro processo de erosão e decadência), mas que está apto a procurar e a encontrar novas formas de participação política e cívica.
Os partidos políticos estão a desaparecer. As elevadas e consistentemente crescentes taxas de absentismo nas eleições registadas em todo o mundo indicam que o modelo partidário tradicional está esgotado. Em seu lugar, ainda não existem alternativas e o processo actual está a evoluir perigosamente para duas direcções: a tomada interna e palaciana do núcleo de poder interno dos partidos por interesses económicos e privados com agendas profundamente diferentes e inconciliáveis dos quais os processos judiciais recentes dão prova (Casino de Lisboa, Somage, Portucale, etc) ou a transformação do espectro político, por via da simplificação e autofagia dos pequenos e mais inovadores partidos pelos grandes, tornando o sistema partidário dual e alternante entre dois grandes “partidos-únicos” que mantêm diferenças apenas formais e nas personalidades que os regem. Simplificado, amalgamado e tornado em simples colégio de técnicos e economistas seguidores do dogma do “Pensamento Único” este sistema paradoxalmente decadente e perene repeliu todos aqueles que não se revêm nele e abriu espaço para novas formas de participação cívica e política.
As petições online não são certamente a única destas formas de expressão. Nos EUA, as redes sociais como o Facebook ou o MySpace já se afirmaram com um dos palcos de debate mais intenso da campanha eleitoral das Primárias que agora ali decorre. Em Espanha, a campanha eleitoral actual oscila muito na blogoesfera e um pouco por todo o lado, vemos o YouTube como ferramenta de divulgação de discursos e mensagens políticas. As petições são apenas uma das formas de alguém escolher uma causa, seja ela a das “taxas do multibanco” ou a da “criação de uma força de paz lusófona” e de, depois, congregar em torno dela as hostes de cidadãos normalmente imóveis e neutros que não se revêm nas formas convencionais de expressão política. Sempre houve petições e sempre haverá, mudando apenas a sua forma física, ora o papel e a caneta, ora o electrão e o par teclado-monitor, mas esta nova forma poderá potenciar o ressurgimento da democracia num mundo onde as grandes corporações globais e os grupos financeiros procuram destruir o cerne das democracias e transformar o sistema político impondo uma forma disfarçada de auto-governo das megacorporações.
5 comentários:
Muito interessante e justo ! E o que vai fazer o MIL para ser a alternativa desejada ?
Pois, agora que o mapa político está em crise e tem de se renovar, porque não se afirmam já como alternativa política ?
Como já aqui escrevi, esse é um passo que o MIL poderá dar no futuro. Mas não para já...
cada coisa a seu tempo.
para que tudo ocorra no devido momento e um passo prematuro não derrame todo empenho antes empenhado na coisa...
a chamada política dos "pequenos passos".
Exactamente! Passo a passo, chegaremos longe, chegaremos lá...
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