A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Sobre os atentados em Timor-Leste

Comungando das palavras do Secretário Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), embaixador Luís Fonseca, que em comunicado à Comunicação Social reafirmou “a solidariedade dos Estados-membros da Comunidade para com o povo e autoridades de Timor-Leste, fazendo votos de que a situação política no país se estabilize rapidamente, e que as instituições possam funcionar normalmente, para a resolução dos imensos desafios que se colocam ao jovem país”, permito-me algumas questões.

Factos:

1 - Segundo a Agência Lusa, Alfredo Reinado, foi morto pelas 6:15 na residência de Ramos-Horta por um elemento da escolta presidencial ali aquartelada.

2 - Ramos-Horta, é atingido pelas 7:00 num segundo tiroteio a 20 metros da residência quando regressava do seu 'jogging' matinal.

Interrogações:

Que motivo leva Alfredo Reinado a atacar os seus maiores protectores, pouco tempo depois de Xanana afirmar que este não representava qualquer perigo?

Que razões levaram a escolta presidencial, depois do primeiro ataque, a não pedir de imediato auxilio e protecção a Ramos-Horta?

Porque saíram em suposta inspecção as tropas australianas de Dili, deixando caminho livre a Reinado e aos seus homens que não encontraram oposição?
Recordo que, aquando da fuga de Reinado da prisão, também houve uma “retirada estratégica” das forças da ANZAC.

Qual a razão, com tantas forças internacionais no terreno, só a GNR e o INEM actuarem no auxilio a Ramos-Horta e à sua família?


José Pires

17 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

Porque não estão as Forças Armadas Portuguesas no território em vez das Australianas?

Ana Margarida Esteves disse...

Porque grande parte dos nossos diplomatas pouco mais faz do que passar graxa aos "grandes" deste mundo.

José Pires F. disse...

Eu sei porque lá estão as forças australianas, o Xanana também e o Ramos-Horta idem, daí não perceber algumas coisas sobre estes atentados.

Está neste momento em análise pelos deputados, a declaração de estado de sítio, proposta pelo presidente em exercício Vicente Guterres (vice-presidente do Parlamento).

José Pires F. disse...

PS: O major Reinado sempre esteve nas boas graças da Austrália e, segundo consta, quem salvou Xanana, foi mais uma vez a GNR.

Que andam por lá a fazer, todas as outras forças das Nações Unidas?

Renato Epifânio disse...

O nosso "governo" disse que hoje que estava fora de causa o envio de mais tropas, a menos que a ONU o solicitasse...
Talvez quando os australianos tomarem de vez conta de Timor!
Portugal, verdadeiramente, nunca se importou: no tempo do Império, Timor era apenas mais um lugar de desterro; depois do 25 de Abril, entregámos Timor à Indonésia e, agora, à Austrália...

Rui Martins disse...

Certo, Pires... Há de facto por aí muitas inconsistências... E que tornam Timor cada vez mais semelhante à "intervenção" australiana na Papua:
http://movv.org/2006/06/13/o-imperialismo-australiano-no-pacifico-sul/

José Pires F. disse...

A declaração do Estado de Sítio proposta por Xanana, já foi aprovada com 10 abstenções. Vigora a partir de agora, o correspondente recolher obrigatório entre as 20:00 e as 6:00hs. Locais.

O estado de Ramos-Horta, após a segunda intervenção cirúrgica é estável. Encontra-se internado na unidade de cuidados intensivos do Royal Darwin Hospital, em Darwin

Continua sem explicação, o facto de a escolta presidencial não ter pedido qualquer auxilio a tempo de evitar o ataque a Ramos-Horta. Este só terá sabido da ocorrência de tiros na sua residência, por um telefonema da sua irmã, Rosa Carrascalão, às 6:50. Segundo a Lusa, entre um e outro tiroteio, nenhum sinal de alarme foi dado de dentro da residência oficial, contrariando o que seria normal acontecer, e pior, só cerca de meia hora depois, hora e meia desde os primeiros tiros, é que a caravana de Xanana junto à sua residência e sem reforço aparente de escolta, foi atacada por Gastão Salsinha, lugar-tenente de Reinado.

As apreciações que neste momento alguns timorenses colocam são:

FACTO 1: PR e PM não respeitaram a Constituição, a Lei e a Justiça ao interferirem com esta e ordenarem às forças de segurança para não cumprirem um mandado do tribunal para prender Reinado. Inclusive um juiz de Direito foi insultado publicamente pelo PR.

FACTO 2: Se Reinado tivesse sido julgado, condenado e preso, não teria liberdade para assaltar esquadras de polícia e fazer atentados contra a vida do PR e do PM.

José Pires F. disse...

Clavis

Certo amigo, também eu por essa altura escrevi sobre o assunto que esteve na origem do derrube de Mari Alkatiri, uma altura em que se vivia um clima de liquidez monetária, e que Curzio Malaparte no seu livro sobre a técnica do golpe de Estado não desdenharia, ou quem sabe, se ainda fosse vivo o obrigaria a um novo titulo sobre semipresidencialismos de fachada parlamentar.

Lembro que, Boaventura de Sousa Santos, a 4 de Julho de 2006 escrevia uma análise arrasadora sobre a pretensa crise política em Timor de onde destaco este pequeno excerto:

“Como é que um país, que ainda no final do ano passado teve eleições municipais, consideradas por todos os observadores internacionais como livres, pacíficas e justas, pode estar mergulhado numa crise de governabilidade? Como é que um país, que há três meses foi objecto de um elogioso relatório do Banco Mundial, que considerou um êxito a política económica do Governo, pode agora ser visto por alguns como um Estado falhado?”

Ora, sabíamos que, Alkatiri resistia às tácticas intimidatórias e ao unilateralismo dos australianos e ousava diversificar as suas relações internacionais, conferindo um lugar especial às relações com Portugal, o que foi considerado um acto hostil por parte da Austrália, e incluindo nelas o Brasil, Cuba, Malásia e China.

José Pires F. disse...

Renato Epifânio

Certo, e a Austrália já anunciou um reforço substancial das suas tropas.
Que podemos esperar afinal dos nossos políticos, se sabemos e na sequência do que atrás respondi ao Clavis, que a grande conselheira de Xanana na altura, Ana Gomes, o incentivava a demitir Alkatiri.

Lord of Erewhon disse...

É de uma grande inconsistência ontológica que o mar dê petróleo e não apenas bom carapau e sardinha.

Lembram-se disto?

Ana Margarida Esteves disse...

Vossa senhoria, acabei de ler o dito artigo. Ridiculo, simplesmente ridiculo. Como e que o MNE reagiu a isto?

José Pires F. disse...

Lembro-me perfeitamente do caso e lembro-me que teve grande repercussão mediática em Portugal, mas não me consigo lembrar da posição do MNE, o que não quer dizer que não a tenha tido porque, nessa altura tínhamos um ministro desassombrado e com gosto pelo conflito internacional, Freitas do Amaral.

Klatuu o embuçado disse...

Águas de bacalhau, Pires, como de costume, e uma leve tesão do mijo.

Anónimo disse...

Eu continuo seguindo as noticias pelo blog.

Já que aqui no Brasil, o noticiários (leia-se TV´s) pouco falam sobre o assunto.

Já os jornais focam as cirurgias do presidente do Ramos Horta e pouco o caos gerado por esses ataques.

[s]s

José Pires F. disse...

Diário Digital / Lusa
( 1:05 / 12 de Fevereiro 08 )


A FRETILIN vai exigir hoje no parlamento uma investigação à actuação das forças internacionais em Timor-Leste e «exigir responsabilidades ao governo», disse hoje à agência Lusa o secretário-geral do partido, Mari Alkatiri.

«Temos que perceber o que falhou e porquê. Tudo tem que ser investigado. Houve tiroteio, o Alfredo Reinado foi morto no primeiro tiroteio quando o Horta estava fora mas depois é abatido e é ele próprio que avisa ao telefone que foi ferido e depois o socorro chega tarde», afirmou.

Mari Alkatiri insistiu porém que o próprio José Ramos-Horta agiu mal na forma como lidou com Reinado, continuando a apostar no diálogo e «ingerindo-se» em decisões judiciais que incluiam mandados de captura ao militar timorense.

TSF
( 08:38 / 12 de Fevereiro 08 )


O Chefe do Estado-maior General das F-FDTL pediu uma «completa investigação internacional para os apuramento de todos os factos trágicos» ligados aos atentados contra o presidente Ramos-Horta e o primeiro-ministro Xanana Gusmão.

Taur Matan Ruak recordou que as F-FDTL «são unicamente responsáveis pela segurança do perímetro da residência do Presidente da República».

«As forças responsáveis pela segurança pessoal do Presidente da República são a UNPol (Polícia da ONU) e a PNTL (Polícia Nacional de Timor-Leste)», concluiu o responsável máximo das F-FDTL.

TSF
( 10:07 / 12 de Fevereiro 08 )


O oficial de ligação do subagrupamento Bravo da GNR sublinhou que esta força portuguesa não foi informada de qualquer aviso por parte do comandante das forças armadas timorenses, Taur Matan Ruak, relativo aos perigos de um possível ataque contra personalidades políticas do país.

Também ouvido pela TSF, o vice-primeiro-ministro timorense confirmou que a GNR não esteve presente na reunião em que Taur Matan Ruak terá avisado da possibilidade de ataques contra «personalidades políticas» timorenses.

José Luís Guterres frisou que este aviso foi feito numa reunião em que estava presente o «comandante da polícia da ONU, o comandante das forças internacionais e representantes das Nações Unidas, assim como outros responsáveis de segurança e defesa do governo timorense».


Apontamento: Receariam que a GNR impedisse os ataques?

Ana Margarida Esteves disse...

Uma das razões pelas quais a diplomacia Portuguesa tem entregue Timor quase de mão beijada aos Australianos tem a ver com as dinâmicas da sociedade civil nos dois países:

Enquanto que na Austrália as campanhas de solidariedade e pela independência de Timor foram dirigidas por sindicatos e outras associações promovendo uma cidadania activa, em Portugal não passaram de disquinhos da treta e outras campanhas de recolha de fundos orquestradas por ONGs caritativas dirigidas pelas mesmas elites que tomaram conta do estado, das empresas e dos media.

Há que mudar isto!

Não basta mobilizar o estado, é preciso uma mobilização efectiva da sociedade civil que por sua vez exerça uma pressão contínua e sustentável sobre o estado.

José Pires F. disse...

De facto, Ana Margarida, e já se viu que o povo português está disponível para a causa timorense. Porém, desde o golpe ao governo de Alkatiri, a confusão é muita.