“O tempo (como o mundo) tem dois hemisférios: um superior e visível, que é o passado; outro inferior e invisível, que é o futuro. No meio de um e de outro hemisfério ficam os horizontes do tempo, que são estes instantes do presente que imos vivendo, onde o passado se termina e o futuro começa. Desde este ponto toma seu princípio a nossa história, a qual nos irá descobrindo as novas regiões e os novos habitadores deste segundo hemisfério do tempo, que são os antípodas do futuro. Oh, que de cousas grandes e raras haverá que ver neste novo descobrimento !” – Livro Anteprimeiro da História do Futuro, p.24.
“Vós descobristes ao mundo o que ele era, e eu vos descubro a vós o que haveis de ser. Em nada é segundo e menor este meu descobrimento, senão maior em tudo: maior Gama, maior Cabo, maior Império” - LAHF, p.30.
“Ó gentes, ó reis, ó reinos ! Quanto arrancar, quanto destruir, quanto perder, quanto dissipar se verá em vossas terras, campos e cidades, antes que Deus vos replante e reedifique, e se veja reformado o Universo e renovado ! Maravilha é que há muitos anos está prometida para esta última idade do mundo por aquele Supremo Monarca, que tem por assento o trono de todo ele […]. Se deste trabalho e castigo pode também caber alguma parte a Portugal e se é ele um dos reinos da Cristandade que merece ser mui renovado e reformado, o mesmo Portugal o examine, e ele mesmo, se se conhece, o julgue, lembrando-se que está escrito que o juízo e exemplo de Deus há-de começar por sua casa […]” - LAHF, pp. 49-50.
“Ninguém ignora que as profecias do Apocalipse (e mais as que ainda estão por cumprir) são próprias do tempo que hoje corre e hão-de parar no fim do mundo” - LAHF, p.52.
“Ali onde chega o presente e começa o futuro, era até agora o Cabo de Não. Não havia historiador que dali passasse um ponto com a narração dos sucessos de sua história, não havia cronológico que dali adiantasse um momento a conta de seus anos e dias; não havia pensamento que, ainda com a imaginação (que a tudo se atreve), desse um passo seguro mais avante naquele tão desarado caminho. O que confusamente se representava adiante ao longe deste Cabo, era a carranca medonha e temerosíssimo Bojador do futuro, coberto todo de névoas, de sombras, de nuvens espessas, de escuridade, de cegueira, de medos, de horrores, de impossíveis. Mas se agora virmos desfeitas estas névoas, esclarecido este escuro, facilitada esta passagem, dobrado este Cabo, sondado este fundo, e navegável – e navegada – a imensidade de mares que depois dele se seguem, e isto por um piloto de tão pouco nome e em tão pequena barquinha, como a do nosso limitado talento, demos os louvores a Deus e às disposições de sua Providência, e entendamos que se passou o Cabo, porque chegou a Hora” - LAHF, p. 108.
“Como se hão-de entender as revelações com os entendimentos e os olhos velados ? Não basta só que Deus tenha revelado os futuros, é necessário que revele também os olhos: revela oculos meos. Se os olhos estão cobertos e escurecidos com o véu do afecto ou com a nuvem da paixão; se os cega o amor ou o ódio, a inveja ou a lisonja, a vingança ou o interesse, a esperança ou o temor, como se pode entender a verdade da profecia, por muito clara que nela esteja, quando o primeiro intento é negá-la ou, quando menos, escurecê-la ? As nuvens que Deus põe sobre a profecia, o tempo as gasta e as desfaz; mas os véus que os homens lançam sobre os próprios olhos, só eles os podem tirar, porque eles são os que querem ser cegos” - LAHF, p.111.
“[…] porque, ainda que Cristo corporalmente se apartou dos homens, espiritualmente e por particular e invisível assistência sempre ficou com eles, e os assistirá (dentro porém da sua Igreja) até o fim do mundo […]. Também deixou em seu lugar, por segundo mestre de sua escola, ao Espírito Santo, igualmente Deus como ele, o qual com a mesma e não diferente luz não só alumia a Igreja com os mesmos resplendores da verdade, mas segundo a dispensação de sua providência os vai descobrindo maiores a seus tempos, ensinando e declarando aquelas ocultas e altíssimas verdades que, por menos capacidade dos seus discípulos, deixou Cristo de lhes dizer, quando por si mesmo os ensinava […]” – LAHF, p.132.
“Quis Cristo que o preço da sepultura dos peregrinos fosse o esmalte das armas dos portugueses, para que entendêssemos que o brasão de nascer português era obrigação de morrer peregrino: […] Nascer pequeno e morrer grande, é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer toda a terra. Para nascer, Portugal: para morrer, o mundo” - Sermão de Santo António, Sermões, VII, p.64.
“Portugueses na Europa, portugueses na África, portugueses na Ásia, portugueses na América […]. Nem os Assírios, nem os Persas, nem os Gregos, nem os Romanos. E porque ? Porque esta bênção, esta herança, este morgado, este património, era só devido aos Portugueses, por legítima sucessão de pais e avós: derivado seu direito de Noé a Japhet, de Japhet a Tubal, de Tubal a nós, que somos seus descendentes e sucessores.
[…] Tubal, como dizem todos os intérpretes daquela primeira língua (que era a hebraica) quer dizer: Orbis, et mundanus: Homem de todo o mundo; homem de todo o orbe; homem de toda a redondeza da terra. Pois de todo o mundo, de todo o orbe, de toda a redondeza da terra um homem ? Sim: porque este homem era o primeiro fundador de Portugal, era o primeiro português, era o primeiro pai dos portugueses: aqueles homens notáveis, que não haviam de ser habitadores de uma só terra, de um só reino, de uma só província, como os outros homens: senão de todo o mundo, de todo o orbe, de todas as quatro partes da terra. E assim como o romano se chama romano, porque é de Roma; e o grego se chama Grego, porque é de Grécia; e o alemão, porque é de Alemanha, assim o português se chama Mundanus, porque é de todo o mundo, e se chama Orbis, porque é de toda a redondeza da terra. E como toda a terra é sinónimo de Portugal […]” - Sermão Gratulatório e Panegírico pregado na manhã de dia de Reis [1669], S, XV, pp. 10-11.
“E certamente não haverá juízo político alheio de paixão, que medindo geometricamente o mundo, e suas partes, na suposição em que imos, de que Deus haja de levantar nele império universal, não reconheça neste cabo ou rosto do Ocidente assim lavado do Oceano, o sítio mais proporcionado e capaz que o supremo Arquitecto tenha destinado para a fábrica de tão alto edifício. […] Ali se desagua o Tejo, esperando entre dois promontórios, como com os braços abertos, não os tributos de que o suave jugo daquele império libertará todas as gentes, mas a voluntária obediência de todas que ali se conhecerão juntas, até as da terra hoje incógnita, que então perderá a injúria deste nome” - Discurso Apologético, S, XV, p. 82.
“Foi logo lume sobrenatural, profético e divino, o que alumiou o entendimento deste homem idiota e humilde [o Bandarra], para que as maravilhas de Deus, que nestes últimos tempos havia de ver o mundo em Portugal, tivessem também aquela preeminência de todos os grandes mistérios divinos, que é serem muito de antes profetizados” - Carta ao Padre André Fernandes [1659], Cartas, I, p. 482.
“Se este pobre homem [Bandarra] não nascera em Portugal, é certo que seu nome e seus escritos haviam de ser de nós mais venerados. Mas em Portugal e nele se verifica que nemo propheta sine honore, nisi in patria sua [Nenhum profeta sem honra, a não ser na sua pátria]”. Tão estéril e tão desgraçada é a nossa terra e tão excomungada, como os montes de Gelboé, que não cairá também sobre ela um orvalho das graças do Céu ?” - Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício, I, p.160.
"Porque os quatro Impérios tinham conveniência e seme¬lhança e conexão entre si, e por isso foram representados todos quatro em coisas semelhantes, ou em quatro metais, ou em quatro feras, ou em quatro carroças; mas o Império de Cristo não tem conveniência, semelhança nem conexão alguma com eles, e por isso em todas estas visões foi sempre significado e mostrado em figuras totalmente diversas, e diversíssimas dos outros, e mui particular¬mente do Romano" - DTSO, I, p.254.
“[…] e a mesma igreja, que é o Jardim de Deus, produzirá então a santidade e a perfeição, não só nos desertos dos eremitas, e nos claustros das Religiões reformadas, senão universalmente, em todas as gentes […]” - DTSO, II, p.167.
“[…] e esta grande casa de Deus, que é o Universo, será toda santa […]” - DTSO, II, p.168.
“Pois se do princípio do mundo até o dilúvio [que se contaram 1650 anos]os animais viviam em paz entre si, e os que hoje feros e domésticos naquele tempo pasciam no mesmo campo pacífica e concordemente, sem se perseguirem, nem se comerem: que muito será que torne o mundo a ver na sua última idade o que viu na primeira ? e [sic] que na renovação da terra e dos ares que considerámos acima se restitua também o temperamento dos animais à constituição antiga com que, sem nenhum milagre nem mudança essencial da natureza, o instinto e apreensão da fantasia os leve aos frutos e às ervas como hoje os convida às carnes ?” – Apologia das Coisas Profetizadas, p.292.
“Eu tenho por certo que os fins hão-de ser felicíssimos ao nosso reino e nação; mas os meios, antes deles, de igual dificuldade e perigo” - Carta à rainha D. Catarina de Inglaterra [1697], Cartas, III, p.709.
“Vós descobristes ao mundo o que ele era, e eu vos descubro a vós o que haveis de ser. Em nada é segundo e menor este meu descobrimento, senão maior em tudo: maior Gama, maior Cabo, maior Império” - LAHF, p.30.
“Ó gentes, ó reis, ó reinos ! Quanto arrancar, quanto destruir, quanto perder, quanto dissipar se verá em vossas terras, campos e cidades, antes que Deus vos replante e reedifique, e se veja reformado o Universo e renovado ! Maravilha é que há muitos anos está prometida para esta última idade do mundo por aquele Supremo Monarca, que tem por assento o trono de todo ele […]. Se deste trabalho e castigo pode também caber alguma parte a Portugal e se é ele um dos reinos da Cristandade que merece ser mui renovado e reformado, o mesmo Portugal o examine, e ele mesmo, se se conhece, o julgue, lembrando-se que está escrito que o juízo e exemplo de Deus há-de começar por sua casa […]” - LAHF, pp. 49-50.
“Ninguém ignora que as profecias do Apocalipse (e mais as que ainda estão por cumprir) são próprias do tempo que hoje corre e hão-de parar no fim do mundo” - LAHF, p.52.
“Ali onde chega o presente e começa o futuro, era até agora o Cabo de Não. Não havia historiador que dali passasse um ponto com a narração dos sucessos de sua história, não havia cronológico que dali adiantasse um momento a conta de seus anos e dias; não havia pensamento que, ainda com a imaginação (que a tudo se atreve), desse um passo seguro mais avante naquele tão desarado caminho. O que confusamente se representava adiante ao longe deste Cabo, era a carranca medonha e temerosíssimo Bojador do futuro, coberto todo de névoas, de sombras, de nuvens espessas, de escuridade, de cegueira, de medos, de horrores, de impossíveis. Mas se agora virmos desfeitas estas névoas, esclarecido este escuro, facilitada esta passagem, dobrado este Cabo, sondado este fundo, e navegável – e navegada – a imensidade de mares que depois dele se seguem, e isto por um piloto de tão pouco nome e em tão pequena barquinha, como a do nosso limitado talento, demos os louvores a Deus e às disposições de sua Providência, e entendamos que se passou o Cabo, porque chegou a Hora” - LAHF, p. 108.
“Como se hão-de entender as revelações com os entendimentos e os olhos velados ? Não basta só que Deus tenha revelado os futuros, é necessário que revele também os olhos: revela oculos meos. Se os olhos estão cobertos e escurecidos com o véu do afecto ou com a nuvem da paixão; se os cega o amor ou o ódio, a inveja ou a lisonja, a vingança ou o interesse, a esperança ou o temor, como se pode entender a verdade da profecia, por muito clara que nela esteja, quando o primeiro intento é negá-la ou, quando menos, escurecê-la ? As nuvens que Deus põe sobre a profecia, o tempo as gasta e as desfaz; mas os véus que os homens lançam sobre os próprios olhos, só eles os podem tirar, porque eles são os que querem ser cegos” - LAHF, p.111.
“[…] porque, ainda que Cristo corporalmente se apartou dos homens, espiritualmente e por particular e invisível assistência sempre ficou com eles, e os assistirá (dentro porém da sua Igreja) até o fim do mundo […]. Também deixou em seu lugar, por segundo mestre de sua escola, ao Espírito Santo, igualmente Deus como ele, o qual com a mesma e não diferente luz não só alumia a Igreja com os mesmos resplendores da verdade, mas segundo a dispensação de sua providência os vai descobrindo maiores a seus tempos, ensinando e declarando aquelas ocultas e altíssimas verdades que, por menos capacidade dos seus discípulos, deixou Cristo de lhes dizer, quando por si mesmo os ensinava […]” – LAHF, p.132.
“Quis Cristo que o preço da sepultura dos peregrinos fosse o esmalte das armas dos portugueses, para que entendêssemos que o brasão de nascer português era obrigação de morrer peregrino: […] Nascer pequeno e morrer grande, é chegar a ser homem. Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas para a sepultura. Para nascer, pouca terra; para morrer toda a terra. Para nascer, Portugal: para morrer, o mundo” - Sermão de Santo António, Sermões, VII, p.64.
“Portugueses na Europa, portugueses na África, portugueses na Ásia, portugueses na América […]. Nem os Assírios, nem os Persas, nem os Gregos, nem os Romanos. E porque ? Porque esta bênção, esta herança, este morgado, este património, era só devido aos Portugueses, por legítima sucessão de pais e avós: derivado seu direito de Noé a Japhet, de Japhet a Tubal, de Tubal a nós, que somos seus descendentes e sucessores.
[…] Tubal, como dizem todos os intérpretes daquela primeira língua (que era a hebraica) quer dizer: Orbis, et mundanus: Homem de todo o mundo; homem de todo o orbe; homem de toda a redondeza da terra. Pois de todo o mundo, de todo o orbe, de toda a redondeza da terra um homem ? Sim: porque este homem era o primeiro fundador de Portugal, era o primeiro português, era o primeiro pai dos portugueses: aqueles homens notáveis, que não haviam de ser habitadores de uma só terra, de um só reino, de uma só província, como os outros homens: senão de todo o mundo, de todo o orbe, de todas as quatro partes da terra. E assim como o romano se chama romano, porque é de Roma; e o grego se chama Grego, porque é de Grécia; e o alemão, porque é de Alemanha, assim o português se chama Mundanus, porque é de todo o mundo, e se chama Orbis, porque é de toda a redondeza da terra. E como toda a terra é sinónimo de Portugal […]” - Sermão Gratulatório e Panegírico pregado na manhã de dia de Reis [1669], S, XV, pp. 10-11.
“E certamente não haverá juízo político alheio de paixão, que medindo geometricamente o mundo, e suas partes, na suposição em que imos, de que Deus haja de levantar nele império universal, não reconheça neste cabo ou rosto do Ocidente assim lavado do Oceano, o sítio mais proporcionado e capaz que o supremo Arquitecto tenha destinado para a fábrica de tão alto edifício. […] Ali se desagua o Tejo, esperando entre dois promontórios, como com os braços abertos, não os tributos de que o suave jugo daquele império libertará todas as gentes, mas a voluntária obediência de todas que ali se conhecerão juntas, até as da terra hoje incógnita, que então perderá a injúria deste nome” - Discurso Apologético, S, XV, p. 82.
“Foi logo lume sobrenatural, profético e divino, o que alumiou o entendimento deste homem idiota e humilde [o Bandarra], para que as maravilhas de Deus, que nestes últimos tempos havia de ver o mundo em Portugal, tivessem também aquela preeminência de todos os grandes mistérios divinos, que é serem muito de antes profetizados” - Carta ao Padre André Fernandes [1659], Cartas, I, p. 482.
“Se este pobre homem [Bandarra] não nascera em Portugal, é certo que seu nome e seus escritos haviam de ser de nós mais venerados. Mas em Portugal e nele se verifica que nemo propheta sine honore, nisi in patria sua [Nenhum profeta sem honra, a não ser na sua pátria]”. Tão estéril e tão desgraçada é a nossa terra e tão excomungada, como os montes de Gelboé, que não cairá também sobre ela um orvalho das graças do Céu ?” - Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício, I, p.160.
"Porque os quatro Impérios tinham conveniência e seme¬lhança e conexão entre si, e por isso foram representados todos quatro em coisas semelhantes, ou em quatro metais, ou em quatro feras, ou em quatro carroças; mas o Império de Cristo não tem conveniência, semelhança nem conexão alguma com eles, e por isso em todas estas visões foi sempre significado e mostrado em figuras totalmente diversas, e diversíssimas dos outros, e mui particular¬mente do Romano" - DTSO, I, p.254.
“[…] e a mesma igreja, que é o Jardim de Deus, produzirá então a santidade e a perfeição, não só nos desertos dos eremitas, e nos claustros das Religiões reformadas, senão universalmente, em todas as gentes […]” - DTSO, II, p.167.
“[…] e esta grande casa de Deus, que é o Universo, será toda santa […]” - DTSO, II, p.168.
“Pois se do princípio do mundo até o dilúvio [que se contaram 1650 anos]
“Eu tenho por certo que os fins hão-de ser felicíssimos ao nosso reino e nação; mas os meios, antes deles, de igual dificuldade e perigo” - Carta à rainha D. Catarina de Inglaterra [1697], Cartas, III, p.709.
10 comentários:
Urge desenvolver uma teoria de governancao democratica que inclua os temas do Quinto Imperio, Sebastianismo e Saudade como impetos interiores para a auto-realizacao individual e colectiva.
Por sua vez, esta teoria podera informar muitas propostas e actividades ao nivel da educacao, politica cultural, divisao do poder politico entre a capital e os municipios, etc.
a ponta do nariz no blogue:
desculpe Ana Margarida, mas não têm, os ímpetos sebastiânicos e saudosos, uma imensa responsabilidade no nosso atavismo histórico, no nosso "medo de existir", na nossa profunda ausência de sentido democrático e cidadão?
Isso não significará encerrar mais, ainda, os nossos armários?
até breve...
FQ"inquieta"
a ponta do nariz no blogue:
desculpe Ana Margarida, mas não têm, os ímpetos sebastiânicos e saudosos, uma imensa responsabilidade no nosso atavismo histórico, no nosso "medo de existir", na nossa profunda ausência de sentido democrático e cidadão?
Isso não significará encerrar mais, ainda, os nossos armários?
até breve...
FQ"inquieta"
a ponta do nariz no blogue:
desculpe Ana Margarida, mas não têm, os ímpetos sebastiânicos e saudosos, uma imensa responsabilidade no nosso atavismo histórico, no nosso "medo de existir", na nossa profunda ausência de sentido democrático e cidadão?
Isso não significará encerrar mais, ainda, os nossos armários?
até breve...
FQ"inquieta"
Que o "medo de existir" seja negativo depende do que se entende por "existir"... Etimologicamente a palavra sugere o exílio, o estar extraviado da origem... O sebastianismo e a saudade podem ser impulsos no sentido de redescobrir a dimensão original, encoberta, do ser, perante a qual a vida comum, entregue ao trabalho e à história, pode não ser mais do que uma grande alienação, tanto mais grave quanto inconsciente e ingenuamente auto-valorizada...
Fernanda, é com muito gosto que a "vejo" por aqui.
Sim, os ímpetos sebastianistas e saudosos têm uma responsabilidade muito grande no nosso "medo de existir" na forma completamente distorcida que fomos obrigados a enfir pela garganta abaixo na escola.
Distorções estas resultantes das pressões exercidas pela "santa" inquisição e a sua diversa prole, das ninhadas da cultura, política e estrutura social, que nos têem envenenado o país há quase 500 anos.
A nossa história está muitíssimo mal contada. A nossa herança cultural é muito mal conhecida pelos próprios Portugueses.
A nossa história e cultura têem aspectos emancipatórios e até subversivos que foram marginalizados pelos historiadores e educadores do sistema, de forma a servir um projecto de engenharia social, manutenção do status quo e assegurar da continuação da influência de certas potências estrangeiras das quais fomos em várias épocas da história um protectorado ou uma colónia (ex: Reino Unido).
O "inquietante" (acho que sei quem ele é) tem razão ao falar do aspecto místico, de desejo de transcendência dos limites da vida material e social, que é inerente ao sebastianismo, quinto-imperismo e outros "ismos" afins. Quando "purificado" de todas as distorções e venenos neles injectadas pelos "vencedores" que escrevem a história, este aspecto místico faz até parte dos aspectos mais subversivos e libertadores da tradição Portuguesa.
No entanto, temos de ter em conta que, visto a pobreza material, social e moral que assola a maior parte dos habitantes dos países Lusófonos, iremos conseguir muito pouco se usarmos a mística como estandarte. Que a incluamos sim senhora no nosso ideário, mas que tratemos em primeiro lugar de assegurar condições de vida, educação e expressão dignas para todos.
Os arrobos místicos, quando ensaiados sem o prévio assegurar da satisfação das necessidades materiais, culturais e sociais básicas, podem tornar-se um factor de auto-destruição, que é precisamente o oposto da auto-transcendência.
Não deve ser á toa que o culto do Espírito Santo, base do posterior Sebastianismo e Quinto-Imperismo, foi fundado no reinado de D. Dinis, em que Portugal vivia sob um sistema de propriedade colectiva e auto-gestão municipalista de fazer inveja ao Bakunine, Kropotkine, Emma Goldman e aos próprios Anarquistas da Catalunha pré-guerra civil de Espanha.
Não me farto de repetir que a nossa história está muitíssimo mal contada.
Enquanto o ser humano não tem a barriga cheia, uma casa decente, amor e respeito dos seus pares, não consegue sonhar com nada de mais transcendente do que isto. Continuará preso no ciclo de acção e reacção até que estas necessidades sejam satisfeitas.
É preciso satisfazer estas necessidades para que estas sejam transcendidas e se possa por sua vez transcender a História.
Peço desculpa, mas essa é a grande ilusão em que a humanidade tem andado !... Por um lado, isso nunca será possível para todos ao mesmo tempo. Por outro, o que se verifica é que, quanto mais barriga cheia, menos sonho de transcendência...
Não é uma questão de encher barrigas, mas de satisfazer necessidades básicas.
Quem tem a barriga a dar horas encara a espiritualidade de uma forma utilitária, do género "vamos comprar um lugarzinho no céu para que a vida após a morte seja melhor que esta vale de lágrimas" ou "vamos pagar o dízimo ao pastor x ou y ou participar na reunião dos 300 e não sei quantos pastores para atrair prosperidade e assim sairmos da miséria".
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