1. Quanto à questão, que ora se referenda, do nome a ser dado ao movimento “que expressasse o ideário da Nova Águia”, há que antes de mais pensar-se se irá ou não existir, desde os seus primeiros momentos, uma correspondência satisfatória entre nome e realidade: isto é, a ser-lhe inscrita a palavra lusofonia, assegure-se que de facto tal movimento funcionará com e para os lusófonos. Galegos, brasileiros, santomenses, encontram-se desde já aqui? Vemos que sim, mas como?
2. Há ainda que ter assegurado que este movimento cívico se adeque efectivamente à realidade própria dessas pessoas que representam nações outras – o que implica o equacionamento das suas realidades históricas, sociais e culturais no desenho do corpo e da nova alma do movimento, já que a sua alma primeira e provisória é – para já – o manifesto da NA. A grandeza do que é proposto não exige menos, nem força a mais. Então o nome surgirá do seu próprio corpo.
3. Um futuro manifesto do movimento poderá começar a ser ideado, mas creio que só poderá definitivamente ser escrito mais tarde, ao afirmar-se a revista. E como? Não só pela desejável diversidade ideológica do seu dossier, como pela riqueza das suas rubricas, pois, quanto a estas últimas, não se pode esquecer que a nossa ancestre Águia não foi apenas uma revista de cultura e de filosofia, mas também uma revista de poesia e de arte.
4. Além disso, o que mais? Tão-somente que a programática lusofonia passe à acção, ou melhor, a uma acção mais concreta, e que os nomes que ornam a tábua gratulatória da revista ajam nos seus contextos específicos, activando a prometida vertente lusófona do projecto. Pois apenas eles poderão inscrever as suas idiossincrasias no novo manifesto. Este terá pois que forçosamente ser um documento de autoria colectiva, pensado, debatido e composto pelos lusófonos.
5. Quanto à questão ideológica, que atrás invoquei, não quero deixar de notar o seguinte: no cabeçalho da actual sondagem lê-se: “Como se deveria chamar um futuro Movimento que expressasse o ideário da NOVA ÁGUIA?” Se de facto, existe a priori um ideário, ele encontra-se condensado no actual manifesto. Revistas como a Águia ou a Seara Nova, revistas consagradas, tiveram um ideário que foi ao mesmo tempo causa e efeito de uma influência cultural e de um impacto histórico que a NA a priori sem duvida terá, ainda que com uma boa dose de imprevisibilidade.
6. O seu ideário será, de um lado, a matriz do manifesto e, de outro, o que for número a número construído, e daí que a revista terá que fazer valer as virtualidades da sua apresentação e ser de facto o mais abrangente possível, de modo a poder, não digo reformular, mas sempre que possível ampliar, adaptar, subtilizar o seu ideário. Não há pois, em boa medida, ideário sem revista, digo, sem papel e tinta, como não há lusofonia sem lusófonos.
7. Os promotores do movimento, entre os quais, por tudo, me incluo, devem assim, em conclusão, urgentemente procurar as visões e os sentimentos dos lusófonos que por ora nos estão mais próximos, sobretudo desde já aqueles que surgem como presença mais significativa nos conselhos: a Galiza e o Brasil.
8. «O nosso destino é sermos tudo.» Sim, mas como? Lembro-me da pré-apresentação do manifesto da NA – curiosamente, a 5 de Outubro deste ano – para um grupo de amigos reunidos no restaurante “Terra Pura”, à Praça de Espanha. Sobre tudo pairava a reafirmação de um destino: o de «sermos tudo». Mas como?, penso agora. Conheceis o ponto de Bauhütte, que nos vai permitir fazer as novas catedrais? Se conheceis, tudo vai bem. Se não, tudo está perdido.
9. O futuro é a festa do Pentecostes, último ponto de Bauhütte, o que nos vai permitir construir as novas catedrais, em que ídolo e oficiante finalmente se confundem. De futuro não vejo outro, além do pior. O que dela partir, assim que começar a ser praticado, expandir-se-á irresistivelmente, pois é o Espírito o que nele age.
9 comentários:
Desculpem a minha ignorância, mas o que é o "ponto de Bauhütte"?
O próprio explicará muito melhor do que eu, mas no entretanto aqui vai uma ajuda:
http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm2000/icm33/bauhutte.htm
"o Ponto de Bauhütte. (...)constituindo provavelmente o grande segredo geométrico dos mestres construtores do gótico, só acessível no último grau de iniciação."
Por mim, o movimento lusófono que se procura deve inspirar-se, sobretudo, em Agostinho da Silva, e em seu Culto Popular do Espírito Santos, embora não necessariamente. Deixarmos isso para "últimos graus de iniciação" não me parece corresponder de forma alguma ao espírito que está lançado.
Sem dúvida. Deve ser tanto popular, na medida em que deve também expressar os mais profundos e antigos sentimentos da "alma portuguesa". Se formar um corpo dentro do corpo, só o poderá fazer via exclusão ou rejeição dos demais, e o objectivo deve ser o de intervir no mundo real e concreto e não entre tertúlias mais ou menos iluminadas de alguns iniciados.
Saúdo o Duarte pelo excelente contributo e subscrevo tudo o que diz. O ideário será construído por todos nós, plástico como a realidade, à medida que a ideia amadureça, se desenvolva e frutifique. O que sinceramente espero é que todos a quem este projecto move se sintam desde já responsáveis por dar o seu contributo para esse manifesto mais amplo e concreto do movimento que já existe. Eu estou a organizar as minhas ideias. Que todos façam o mesmo e que todos os os lusófonos estejam desde já presentes, se bem que, por razões várias, seja para já evidente que a dimensão portuguesa da lusofonia é a mais activa. É particularmente importante que questões concretas de política e economia não sejam descuradas, embora consideradas à luz de princípios superiores, ético-espirituais e culturais.
Quanto ao "último ponto de Bauhütte" e à "festa de Pentecostes", serão tanto mais o futuro colectivo quanto mais desde já os reconheçamos como o mais recôndito imo do nosso espírito, a partir do qual toda a percepção de si e do mundo se constrói, a partir do qual a cada instante criamos a realidade que julgamos objectivamente exterior. Esse o verdadeiro V Império, que já é ! Descobri-lo é o que falta para que Portugal e a sua ideia maior - uma Consciência desperta - se cumpram.
Ora, nem mais, Duarte!
Caros amigos,
Talvez a metáfora do ponto de B. tenha sido mal escolhida...não queria de maneira nenhuma ver o culto do Espto. Sto. como algo acessível apenas a raros, o que seria no mínimo absurdo.
Duarte
Tenham certeza da existência de lusófonos no Brasil.
Caro Kreig
A Direcção da NOVA ÁGUIA gostaria muito que nos desse os contactos dos "lusófonos no Brasil" que conhece.
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