O Professor Agostinho da Silva identifica no tríptico dos Painéis de São Vicente o testemunho maior da vivacidade e extensão do Culto do Espírito Santo no Portugal da Expansão, um testemunho amplificado nas comunidades locais pela extensa e ampla implantação local dos Cultos do Espírito Santo, com os seus tripos momentos fundamentais: a Coroação da Criança; a Libertação dos Presos e o Bodo aos Pobres, todos recheados de significado e valor intrínseco que – sumariamente – passaremos a abordar:
A Coroação da Criança: Representa a afirmação de que a Criatividade, a Liberdade e a Espontaneidade devem ser os valores fundamentais a cultivar no ser humano, de forma a potenciar o cumprimento da sua plena humanidade. Com efeito, a criança conserva estas três características na sua força mais ampla, e o papel da Educação convencional, escolástica e “memorista” tem consistido precisamente em anular essas características na criança e – depois – no ser humano. A Coroação representa também a exaltação do “jogo” e do “sonho”, contra o “trabalho” e o “cálculo”, castradores e redutores. Esta Coroação é uma proclamação da necessidade de inversão deste processo, de forma a cumprir na terra a profecia da Terceira Idade de Joaquim de Flora.
A Libertação dos Presos: A libertação de presos que se fazia nas cadeiras na cidade onde se celebrava o Culto representava o espírito de Perdão e a libertação das ferramentas de opressão e perseguição impostas pelos Estados modernos. Acto simbólico por excelência, esta Libertação representava também a Libertação do Homem dos ditames de um Estado distante e frio, incompreensivo das realidades locais e individuais e incapaz de reformar e reeducar aqueles que por comportamentos antisociais se viam por detrás de barras.
O Bodo aos Pobres: O Bodo aos Pobres, uma refeição em que todos podiam partilhar livremente da refeição comunitariamente oferecida, era o símbolo ou a alegoria de um momento futuro em que todos os bens seriam usufruídos em comum, em que a noção de propriedade privada seria abolida a favor de propriedade comunitária e em que não se fariam distinção de credos, raças ou economias, mas se preservaria os individualismos e idiossincrasias de cada um, já que nelas reside a verdadeira liberdade e dinamismo das comunidades. Livres, mas coesos, os partilhantes do Bodo seriam uma pre-figuração do momento em que seriam suprimidas todas as limitações impostas pela miséria e pela fome, através do estabelecimento de sistemas económicos de produção e distribuição mais racionais e equitativos que os actuais.
1 comentário:
O Espírito Santo ainda é celebrado desta maneira em São Luís do Maranhão, Brasil. Não é á toa que me sinto mais em casa no Brasil do que em qualquer outra parte do mundo, incluindo a "democracia de sucesso" que é o Portugal de hoje.
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