A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 4 de maio de 2010

OLHARES DE UM BRASILEIRO EM PORTUGAL

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1. No livro Portugal, o Enigma Ibérico (Quidnovi, 2005), de Wilson Solon , de leitura atenta e crítica, defende o autor que nenhum especialista, turista ou ciência pode interpretar Portugal, dado mover-se numa lógica única, nem sempre expondo na matéria os enigmas do seu espírito, sendo incompreensível a olho nu, num “tempo lusitano” paralisado em rituais de autoflagelação e vitimização. Tem por irrealista que a pequenez territorial seja decisiva, refutada pela antiga determinação de um punhado de naus nas mãos decididas dos portugueses, sendo irreal supor que as grandes decisões surgirão de uma estreiteza mental à medida dos limites geográficos, o que também não justifica a ausência de auto-estima. Na “velha Europa dos 15”, é ridículo que tal dimensão possa ser usada para a falta de iniciativa dos seus habitantes, o que não sucede na Holanda, Bélgica, Suiça, Áustria, Irlanda, Dinamarca, Luxemburgo, de territórios mais pequenos, que tem como nações mais conhecidas e respeitadas. Alegando que o comodismo paralisa a História, conclui que o nosso complexo de inferioridade, pela retracção do império, não pode ser disfarçado como se de modéstia ou humildade se tratasse, defendendo que o excesso de vaidade da alma lusa pode ter determinado esse marasmo, findo o estatuto de nação imperial. Ao desperdício de energias da atitude pessimista dos portugueses europeus, contrapõe o empreendedorismo dos que emigram, desconhecendo, em geral, casos mal sucedidos, ficando estes libertos das fronteiras psicologicamente opressoras da nacionalidade. Os portugueses parecem sentir-se permanentemente culpados pelo que têm de melhor, têm um desprendimento pela sua língua, a saudade tem um lado passadista e ausente, ao invés do lado saudável no Brasil, de onde Portugal é visto como a memória de um passado comum entretanto obscurecido, onde muito turista usual ou pontual não o inclui nos seus roteiros, por indiferença ou ser tão parecido que nem vale a pena conhecê-lo. Após lamentar que os portugueses preferissem livrar-se (ou despojar-se) da sua monarquia, diz serem os mais fervorosos consumidores de audiovisuais brasileiros, sem vontade de construírem um pensamento cultural próprio para a televisão, o que se traduz num neocolonialismo cultural de uma antiga colónia: “Um caso singular no mundo, de um domínio que nem sequer fora imposto e sim, curiosamente, desejado pelo antigo colonizador!”, acrescentando: “Se tudo isso já soaria estranho para um português, não o fora menos para um brasileiro que optou por viver em Portugal.”
2. Apesar destas distâncias e incompreensões, “(…) o português segue sendo o mais admirável factor de coesão nacional e união internacional no âmbito da lusofonia” , ao invés de Espanha, de disputas linguísticas localizadas, embora Portugal e Brasil não se dêem conta desse enorme património comum e unificador. Ambas as nacionalidades irmãs têm um traço comum: não acreditarem no vigor histórico da lusofonia. Ao falar das motivações originais das colonizações predominantes nas Américas, defende que os anglo-saxónicos e os hispânicos traziam a vontade de matar, ao contrário dos portugueses, diferenciando a arrogância anglo-saxónica da flexibilidade do espírito lusitano, exemplificando-o com o Brasil. No Brasil - caso único mundial - as referências raciais originais não têm cor, “(…) dado que quando adquiriu a sua identidade nacional, já lá estávamos todos - pretos, brancos, índios e mestiços (…). O próprio sentimento nacional na sua origem inclui as diversas raças. (…) Não há o de “fora” como informação visual”, sendo das nações “mescladas” a menos racista. Acrescenta que no Brasil “(…) subconscientemente, os nossos pretos não são “afros”. São brasileiros” , razão pela qual a questão africana aí terá uma interpretação inversa à europeia, para a qual prevalece a “visão superior” do colonizador, o que explica que a miscigenação racial seja algo de impensável a curto prazo em Portugal. Portugal tem de se reconciliar com a sua imagem, com um património inexplorado que sobrevive, como metrópole de um grande império de novos e velhos ideais, pelo que “Cabe perguntar: por que não usar este património a favor de um capitalismo espiritualista?” Vendo que a maioria dos emigrantes no nosso país têm no português a sua língua materna, pergunta: “Suportarão, enfim, os portugueses uma aproximação com africanos e brasileiros sem que haja pelo menos um oceano pelo meio?” A integração lusófona tem de ser aceite como um facto consumado, libertando os portugueses das fronteiras que os aprisionam, começando pelas geográficas “(…) que os fazem experimentar a sensação de uma pequenez que a rigor é apenas mental; das ilusórias fronteiras europeias que, ao contrário, os convenceram de uma falsa grandeza que na prática pouco souberam aproveitar; e, por sinal, também das fronteiras virtuais de um capitalismo de ocasião que a rigor nem fronteiras possui.” Portugal terá de se expandir em todos os sentidos, cruzando de novo o Atlântico em todas as direcções e transformando as barreiras que o separam de Espanha em reaproximação, pondo de lado a eterna “paranóia espanhola”. 3. Trata-se da visão de um encenador e realizador brasileiro, conjugada com a do artista, do jornalista, do historiador e do viajante que permaneceu entre nós no decurso de mais de cinco anos, e que aqui chegou em 1999. A intenção é boa, sendo o livro merecedor de uma leitura ponderada, conjugada com uma vontade de tentar compreender e expressar uma necessidade de mudança, o que nem sempre é conseguido. O Portugal de que fala é o reflexo da sua televisão, da mediocridade dos seus écrans, do lixo televisivo, do fraco nível literário, linguístico e dramatúrgico, por confronto com uma literatura portuguesa de excelência. Ao tomar como centro de análise o imobilismo reinante no meio em que trabalhava, generaliza ao todo, ao Portugal total, o que tinha como o essencial de uma parte. O meio televisivo português, com a sua negatividade, onde o autor exerceu a sua profissão temporariamente, serve de centro amplificador. Como na parte impera a apatia e os formatos televisivos importados, transfere essa característica para o todo, concluindo que tudo em Portugal está paralisado. Trata-se de um simplismo redutor de uma realidade complexa de difícil (e impossível) simplificação, por Portugal não ser simplificável. Eis uma primeira crítica a anotar. 4. Não surpreende que o audiovisual brasileiro prolifere entre nós, não só pela sua reconhecida qualidade técnica e artística a nível mundial, mas também por falarmos a mesma língua, à semelhança do que sucede com os Estados Unidos em relação à Inglaterra. Apesar de o próprio Wilson não o repudiar:”Não é menos verdade que no mundo lusófono em particular (analogamente ao anglófono), vêm da América as contribuições culturais mais numerosas para o património universal.” Torna-se redutor falar num neocolonialismo cultural da antiga colónia. Se o Brasil é portador de uma mais-valia televisiva, qual o problema em aprendermos com ele? Compreensível, nesta perspectiva, que Solon tenha sido convidado a trabalhar entre nós. Todavia, apesar da sua qualidade técnica televisiva, o Brasil é responsável por algum mediocrismo da nossa televisão, uma vez Portugal ter adoptado o formato das suas telenovelas como entretenimento televisivo predominante, pese o desagrado do ensaísta. Sucede que a mediocridade televisiva não é um fenómeno tipicamente lusitano, muito menos numa era global de consumos homogéneos em que toda a gente vê os mesmos programas de televisão. Muitos deles pejados de banalidades, excluindo qualquer sentido crítico, tantas vezes de importação maciça da actual super-potência. E que dizer do “Grande Irmão”/“Big Brother” originário da tão vanguardista Holanda? Questão diferente é a degradação da ficção televisiva portuguesa, de um conservadorismo mental que não investe na “(…)incontestável - e regra geral não utilizada - capacidade criativa dos portugueses” , renunciando à construção de um pensamento cultural próprio, por maioria de razão num país rico em história, singularidades e universalidades, com o que concordamos. Absurda, mesmo, é a legendagem, em português do Brasil, de filmes e outros audiovisuais portugueses, ao invés do que sucede entre nós com películas e telenovelas brasileiras, como Wilson reconhece. Pergunta-se: terá o português de Portugal um valor acrescentado que o português do Brasil não tem, no pressuposto de que quem o fala compreende os demais lusófonos, não parecendo relevar, do mesmo modo, o inverso? Tratar-se-á de um conservadorismo mental brasileiro? De um “tempo brasileiro” paralisado, o efeito de uma vaidade desmedida e de um orgulho doentio pela continentalidade territorial, adaptando e devolvendo ao autor algumas considerações sobre Portugal? Por nós, mesmo em terras brasileiras, nunca nos soou incompreensível o português do Brasil, nem para os nossos interlocutores o português de Portugal, o que agrava o paroxismo do absurdo. O que faz pensar num Brasil, o Enigma Lusófono. 5. Generalizar que os portugueses assistem passivos a tudo, tomando como referência a formatação televisiva, é redutor e excessivo. Ter como suas características estruturais e intrínsecas a resignação e a melancolia, mesmo que se invoque o fado (nem todo é triste, há-o alegre), também o é. Nem se pode absolutizar como inatas e inalteráveis de um povo certas características, dado existirem reacções comportamentais modificáveis consoante as circunstâncias e a situação que se vive. E se é verdade que Portugal teve dimensão superior às suas forças e ao seu território, nada impede que lutemos por isso, tendo sempre presente que as coisas muito desejadas e pensadas mentalmente, acabam por passar da teoria à prática. Desde logo, repudiando o fechamento (que sempre nos prejudicou), acolhendo a abertura aos outros e a aceitação activa e crítica dos seus contributos, sem esquecer a lusofonia e a universalidade, invertendo a actual recepção acrítica do modismo europeu e norte-americano, de um Portugal horizontal, consumista, sem espírito, sem razão de existir para além do dia-a-dia. Apesar de Portugal ser pobre em recursos naturais, prevalece entre nós uma mentalidade de ricos, para o que contribuiu o antigo Império, como sucedeu, em graus diferentes, com outras ex-potências coloniais europeias. À decadência geral da superioridade europeia, agravada pelas crises recentes, generaliza-se a ideia de que o máximo que podemos atingir é manter intocável o nosso modo de vida, defendendo-se a ausência da possibilidade de o melhorar consideravelmente (teoria conservacionista). É o que aparenta suceder em Portugal e na Europa, mas não no mundo em geral. A este conservacionismo essencialmente europeu, vem-se contrapondo que a ideia de mudança e de conquista do futuro está viva noutras paragens, na China, Índia, Ásia em geral, Brasil. O que neste momento os europeus tentam conservar, é o que outros tentam alcançar, entre eles o Brasil, que como país e potência emergente é o que mais tranquiliza o ocidente, ao tomá-lo como referência maior. Este elemento terá de ser introduzido como um dado novo a ter presente na análise crítica que aqui fazemos a Wilson Solon, que este não consciencializou em relação à “pátria-mãe” .
6. Mas há em Portugal um discurso catastrofista em dizer mal de nós. Televisões e imprensa em geral deliciam-se em fazer o culto da autovitimização, do pessimismo e do miserabilismo, de que estamos em primeiro lugar em tudo o que é mau e em último em tudo o que é bom, existindo sempre algo a lastimar, sem pensar no mundo que nos rodeia, onde há quem esteja melhor, mas muitos, demasiados, pior. Que podíamos e devíamos estar melhor, ter mais ambição e esperança é verdade, mas daí à eterna insatisfação e lamúria, portadora de um complexo de inferioridade em relação ao estrangeiro que vive melhor, não se justifica. Se os portugueses em geral são afáveis, há-os ácidos, mormente algumas elites, que se envergonham do país, aproveitando qualquer oportunidade para o denegrir, gerando uma psicologia derrotista, onde não nos revemos. Portugal renovar-se-á por uma atitude psicológica positiva, reprodutora dos momentos mais criativos da sua história, abrindo-se e confrontando-se com a multiplicidade, desmentindo a actual ausência do espírito de missão e apelando ao que de melhor nos disseminou pelo mundo.
7. Já não aceitamos que seja pelo facto de terem um nível de vida superior, que países similares ou mais exíguos tenham mais auto-estima e sejam externamente mais conhecidos e considerados, o que peca por uma visão redutora e eurocêntrica, excluindo a maioria dos outros, sendo facilmente observável que Portugal, pela sua história e universalidade, supera muitos deles, para já não falarmos da ficção que é, para muitos, a Bélgica em si mesma como nação (a título de um mero exemplo). À alegada indiferença de brasileiros, outros há reconhecidos, outros por paixão uma vez identificadas afinidades e afectos mútuos (como Wilson), sendo motivo de orgulho que um país continental tenha surgido da força, calculismo e diplomacia de um país tido pelo Brasil como minúsculo. Surpreende-nos, contudo, a omissão de Gilberto Freyre, que seria justo ser citado por Wilson, que tudo indica tê-lo influenciado (quiçá um neogilbertiano não assumido), ao invés de outros que o depreciam por meros aproveitamentos políticos do seu pensamento, que tantos desconhecem, não lhe perdoando, por exemplo, a atenção de Salazar à sua ideia da propensão natural dos portugueses para a mestiçagem.
8. No que toca a uma pretensa miopia diplomática de Portugal oscilando “(…)entre a cegueira interna, a falta de foco à distância e essa eterna “paranóia espanhola” - que o não deixa olhar o vizinho de frente, nem deixa de o espreitar com o canto do olho” , mais uma vez simplifica, esquecendo que embora a reaproximação seja crescente, isso não é incompatível com as naturais cautelas, à semelhança de países iguais e mais pequenos, ao lado de outros maiores e mais poderosos, como a Holanda, Dinamarca e Áustria em relação à Alemanha, a Bélgica com referência à França, a Irlanda por confronto com o Reino Unido, entre outros, com a agravante de termos como vizinho um só país, maior, mais poderoso e populoso, em que a mentalidade conquistadora de Castela predomina. Não será por ser a língua do conquistador, que o castelhano é o idioma tido oficialmente como unitário? Não será simplista ter como questiúnculas literalmente provincianas, insólitas e patéticas, aos olhos e ouvidos de um estrangeiro, a preservação das variedades linguísticas em Espanha? Incluindo o catalão, da sua amável Catalunha e sedutora Barcelona? Barcelona que, curiosamente, e à semelhança de Lisboa, o seduziu em absoluto. O que compreendemos, pois não esmagam, mas encantam. Lisboa, todavia, já era e é, uma cidade de encontros, uma vez que perdido o império se tornou uma cidade imperial. Mais que a sua modelar Barcelona, em termos raciais, dada a quase ausência ou diminuta percentagem, por confronto, de pessoas negróides ou mestiças. Eis um exemplo de que nem tudo em Portugal está paralisado, estando mais plural, em cores de pele, revelando de novo um simplismo redutor. Observa que os catalães nas ruas, festas ou grupos privados, usam o castelhano na presença de um estrangeiro, de um espanhol não local ou sabendo que entre eles o interlocutor não é catalão. Porquê? Resposta: “Por falta de auto-estima (como os portugueses)? Não. Rigorosamente o contrário: porque os catalães são meritoriamente orgulhosos da sua terra, da sua cultura e das suas virtudes.” Com o devido respeito, a História não demonstra que o sejam mais que os portugueses, pelo contrário, pela simples razão de que Portugal tem sobrevivido desde sempre no contexto peninsular como um estado-nação unitário e coeso, a começar pela língua, em paralelo a um vizinho maior e menos unitário, havendo muitos catalães (e nativos de outras regiões espanholas) que nos admiram e tomam como referência, o que só se justifica por os portugueses serem meritoriamente portadores de um amor-próprio e pátrio que o autor tende só a ver como virtude na Catalunha. 9. Restam as convicções monárquicas de Solon. Tem a monarquia como um regime que em milénios e séculos construiu as respectivas nacionalidades, vendo o seu derrube, entre nós, como uma ruptura com a auto-estima, a cidadania, a história e a identidade, referindo que “(…)há quase um século Portugal recusa a permitir-se sequer um plebiscito sobre a restauração da própria monarquia.” Concorde-se ou não, não deixa de ser irónico que cem anos após a implantação da República um brasileiro nos interpele sobre o art.º 288.º, alínea b) da nossa Constituição, segundo o qual as leis de revisão constitucional terão de respeitar a forma republicana de governo. Discussões jurídicas à parte, quer se defenda que “(…)este limite material não se circunscreve forçosamente à proibição da restauração da monarquia em Portugal” , ou que surja a dúvida de que “(…)apesar de ser controvertido se não deveria ser deixado à livre margem de escolha do legislador ordinário (para não dizer a referendo nacional)” , a questão, para muitos, é pertinente, não cabendo aqui aprofundá-la, ao inverso do que sucederia se de um artigo de enfoque essencialmente jurídico se tratasse.

JOAQUIM MIGUEL PATRÍCIO