"...é muito pouco provável que o homem atinja algum estádio de viver fora de toda a sociedade. Quer dizer, o paraíso anarquista provavelmente seria muito bom, simplesmente parece-me impossível que uma sociedade humana chegue jamais a qualquer coisa em que não haja um poder de conexão por dentro, um poder de coordenação pelo menos. Os anarquistas têm toda a razão quando estão contra um poder de repressão, mas não parece que a tenham, ou que o Bakunine pudesse chegar a grande coisa, quando não respeita, ou parece não respeitar, pelo menos, um poder de coordenação. E não há nenhum poder de coordenação que não seja de qualquer modo algum poder de repressão. Porque isso é o mínimo. É como uma coisa que está presa por vários fios a um centro... Ou como eu posso estar em liberdade num grupo de animais que pulam e saltam numa certa liberdade, a que dou um certo raio de acção. Ou como aquelas brincadeiras das feiras em que se lançam coisas girando à volta de um mastro, para fazer com que pela força centrífuga subam alto e as pessoas tenham a sensação que vêm voando mas nunca se soltam. Ou como a força da gravitação universal. Não há nada mais livre no espaço do que a Terra voando nele."
Agostinho da Silva, in Vida Conversável.
Agostinho da Silva, in Vida Conversável.