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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Para um dos próximos volumes da Colecção NOVA ÁGUIA...

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A ESCOLA FILOSÓFICA DE LOVAINA E SUA INFLUÊNCIA NO BRASIL
Paulo Moacir Godoy Pozzebon - Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Busca-se compreender, neste trabalho, as diferentes etapas de desenvolvimento da Filosofia praticada na Universidade Católica de Lovaina (Bélgica) e, principalmente de que maneiras e em que medida esta Filosofia influenciou os filósofos brasileiros, bem como quanto desta influência ainda perdura.
1- A primeira etapa da Escola de Lovaina – o predomínio tomista – e sua importância para o Brasil
Desde sua fundação, o Institut Supérieur de Philosophie da Université Catholique de Louvain tem manifestado vocação de centro filosófico de importância mundial. Fundado a partir de um curso de filosofia tomista que surgira em 1882, aos poucos, sob a liderança de Désiré Joseph Mercier (1851-1926), nele formou-se o grupo que seria conhecido como Escola de Lovaina. A trajetória desta conheceu duas etapas distintas.
A primeira etapa vai da fundação até os anos quarenta do século XX, período em que Lovaina afirmou-se como a principal escola filosófica neo-escolástica de linha tomista. Sua importância histórica reside no fato de ter sido o primeiro movimento organizado importante e influente no chamado Renascimento Tomista. Produziu uma revista que há décadas tem importância mundial, a Révue Philosophique de Louvain (anteriormente denominada Révue Néoscolastique de Philosphie), à qual se anexou o não menos importante Répertoire Bibliographique de la Philosophie. Dentre as publicações da escola, destacam-se os doze volumes do Cours de Philosophie, várias vezes reeditados, obra de Mercier, De Wulf, e De Nys, bem como, nos anos quarenta, o moderno curso de Filosofia escrito por De Rayemaeker, Van Steenberghen, F. Renoirte e I. Dopp.
A importância filosófica da Escola de Lovaina reside em seu programa (traçado já por Mercier), de valorização e defesa do pensamento filosófico da Escolástica, vivificado e completado pelas contribuições da ciência moderna. Para tanto, a Escola intentou formar pesquisadores que desenvolvessem a Filosofia e as ciências sem preocupações apologéticas, e confrontassem as teses neo-escolásticas com as aquisições das ciências modernas. Apesar da nítida preferência por S. Tomás de Aquino, o Instituto não se fechou a outras correntes de pesquisa. A produção dos filósofos de Lovaina apresentou muitas contribuições originais e alcançou grande repercussão nos meios filosóficos, especialmente os católicos.
Esta primeira etapa da Escola de Lovaina repercute no Brasil de modo pouco extenso, mas bastante intenso e de resultados duradouros. Inicia-se com D. Miguel Kruse (1864-1929), monge beneditino nascido na Alemanha, que chegou a São Paulo no ano de 1900. Já em 1901 desponta no cenário cultural brasileiro ao polemizar, através de jornais, com o pensador positivista Luís Pereira Barreto, a propósito da alegada inferioridade dos povos católicos.
Em 1907, D. Miguel Kruse torna-se abade do mosteiro paulista e, em 1908, visando combater o positivismo e o utilitarismo então disseminados , e após contatos com o Cardeal Mercier, funda a primeira faculdade de Filosofia do Brasil, então chamada Faculdade Livre de Filosofia e Letras de São Paulo, que foi mais tarde conhecida como “Faculdade de S. Bento”. Esta Faculdade, que foi reconhecida pelo governo brasileiro somente em 1940, agregou-se em 1911 à Universidade Católica de Lovaina, cuja orientação tomista seguia.
De Lovaina veio o primeiro professor de Filosofia desta Faculdade, Monsenhor Charles M. Hubert Sentroul (1876-1933), que nela lecionou de 1908 a 1917. Em São Paulo, Sentroul introduziu o tomismo renovado de Lovaina, marcado pela tentativa de desenvolver a filosofia de S. Tomás em harmonia com a ciência moderna, sem admitir deformação da Filosofia por interesses apologéticos. Exemplos desta postura estão presentes na aula inaugural de Sentroul em São Paulo:
No momento em que uma descoberta científica nova e segura pusesse em cheque uma tese filosófica partilhada por S. Tomás ou Aristóteles, nós abandonaríamos uma tal tese, sem sobra de pena. Na verdade uma só coisa importa, a verdade: “amicus Aristoteles, amicus Thomas, magis amica veritas... sola amica veritas” .
Adverte ainda, noutra passagem do mesmo texto:
Com que espírito devemos estudar, e quando for preciso, refutar os filósofos cuja doutrina não admitirmos? Com uma justiça serena e imparcial! Nada de servilismos para com nossos amigos, nada preconceitos com nossos adversários... Sim, encontram-se muitas vezes autores que têm sempre a palavra absurdo na boca ou no bico das penas, e aos quais se deve ensinar que Platão, Duns Scoto, Descartes, Hume, Kant, Comte, Lammenais, Darwin e tantos outros filósofos cujo sistema refutamos em bloco, têm no entretanto, de tempos em tempos, dito a verdade, e que estes pensadores, apesar de seus erros, não eram inteiramente ignorantes... Aplicar-nos-emos, portanto, estudando e refutando o erro, a ver de que lado está a verdade antes de demonstrar que é efetivamente absurdo .
Estudioso e crítico de Kant, sobre quem publicou uma tese premiada na Alemanha, Sentroul permanece na perspectiva metafísica, concebendo a Filosofia como “a ciência que completa a unidade do saber”, seja estabelecendo o valor do conhecimento, seja constituindo através da metafísica uma síntese superior do saber, seja ainda auxiliando com a metafísica às ciências particulares .
O mérito e a importância de Sentroul foram introduzir, no âmbito do pensamento católico brasileiro, os estudos sistemáticos de Filosofia pura, o que, sem dúvida, representava progresso num ambiente em que a Filosofia era em geral estudada como auxiliar de outras disciplinas e freqüentemente brandida como argumento político.
Entretanto, foi breve a permanência de Sentroul no Brasil. A propósito da guerra de 1914, em que a Alemanha violou a neutralidade da Bélgica e incendiou a biblioteca secular da Universidade de Lovaina, desentenderam-se crescentemente Monsenhor Sentroul e os monges de origem alemã do Mosteiro de S. Bento, até que, em 1917, retornou o filósofo à Bélgica e fechou-se a Faculdade .
Cinco anos depois, esta foi reaberta com a chegada do professor belga Leonardo van Acker (1896-1986), doutor em Filosofia e Letras por Lovaina, portador do que aqui se chamou “espírito de Lovaina”, isto é, um neotomismo que pretende renovar-se crescendo a partir de seus princípios interiores, dialogando com o pensamento moderno e contemporâneo e enriquecendo-se com o que ele tem de valioso e original. Nas palavras do próprio van Acker, o seu “tomismo aberto” pretende “repensar a Filosofia Aristotélico-tomista em contato com a Filosofia e a Ciência vigentes no ambiente” . O tomismo é concebido como uma corrente filosófica entre outras, mas detentor de “uma parte valiosa e resistente da ‘philosophia perennis’”, dotado de “um poder de síntese e de adaptação muito peculiares, que lhe possibilitam um reconhecimento e, até certo ponto, uma transposição, para sua própria perspectiva, dessas verdades [trazidas por outras correntes] [...]” . Por isso, afirma que “[...] longe de estar definitivamente ‘superado’ ou desvalorizado, o Tomismo encontra, atualmente, as mais inesperadas confirmações, que lhe fornecem as melhores garantias de que ele pode colaborar, positivamente, para o progresso da Filosofia Contemporânea” . O professor van Acker lecionou mais tarde na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e exerceu longa atividade filosófica nessa cidade, até falecer em 1986.
Um terceiro nome em cuja obra precisa ser avaliada a influência da filosofia de Lovaina é o professor Alexandre Correia (1891-1984), de menção obrigatória no que toca ao tomismo e às universidades paulistas. Alexandre Correia integrou a primeira turma da Faculdade de São Bento, nesta formando-se em Filosofia. Posteriormente doutorou-se em Filosofia pela Universidade de Lovaina e em Direito pela Universidade de São Paulo, onde lecionou. Dentre suas obras destaca-se a tradução da Suma Teológica de São Tomás. Em seus trabalhos combatia o positivismo e o kantismo, procurando defender a possibilidade de um discurso metafísico de valor objetivo, fundamento necessário para o discurso ético-político de bases sólidas .
Carlos Lopes de Mattos (1910-1993) deve também ser lembrado como neotomista influenciado pela filosofia de Lovaina. Tendo pertencido por algum tempo à ordem beneditina, estudou Filosofia no Mosteiro de São Bento em São Paulo, doutorando-se em Filosofia pela Universidade de Lovaina, no ano de 1940. Lecionou na Faculdade de São Bento, cuja revista dirigiu. Publicou numerosos trabalhos, dentre os quais se destacam os que abordam o pensamento de Farias Brito.
Em 1945, a Faculdade de São Bento foi agregada à Universidade Católica que se organizava em São Paulo. Na PUC-São Paulo marcaram importante presença os já mencionados Leonardo van Acker, Alexandre Correia (primeiro diretor da Faculdade Paulista de Direito) e os também lovainianos: a religiosa Laura Fraga de Almeida Sampaio (1926-), que doutorou-se em Lovaina com uma tese sobre Jacques Maritain, e o padre secular belga Michel Schooyans (1930-).
Doutor em Filosofia e Letras e bacharel em Letras Românicas pela Universidade de Lovaina, Michel Schooyans lecionou na PUC-São Paulo e publicou diversas obras de relevo – deve-se destacar especialmente seu famoso artigo Tarefas e vocação da Filosofia no Brasil, publicado pela Revista Brasileira de Filosofia em 1961. Schooyans repensa o tomismo numa linha historicista, procurando valorizar o contexto histórico e cultural em que é praticado e do qual chega mesmo a depender. Nos anos sessenta, Schooyans encaminhou numerosos estudantes brasileiros à Universidade de Lovaina.
2 A segunda etapa da Escola de Lovaina – predomínio fenomenológico – e sua influência no Brasil
Deve-se considerar também uma segunda etapa de desenvolvimento da Escola de Lovaina, cujos desdobramentos também se fizeram sentir no Brasil. Esta etapa, a partir dos anos cinqüenta, é marcada pelo florescimento e predomínio da corrente fenomenológica, em substituição ao anterior predomínio do neotomismo. A principal razão desta mudança foi a constituição do Arquivo Husserl na Universidade de Lovaina, obra do padre belga Hermann van Breda que, durante a Segunda Guerra Mundial, com grande esforço, retirara da Alemanha cerca de 45 mil páginas estenografadas de escritos inéditos do filósofo alemão Edmund Husserl. Deste material extraíram-se vários livros inéditos, como o conhecido A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental, publicado em 1950, mas escrito em 1935-1936 .
Lovaina tornou-se assim um dos principais centros mundial de filosofia fenomenológica; lá trabalharam filósofos importantes como Jean Ladrière; estudantes de todas as partes do mundo obtiveram lá sua formação filosófica. Outrora centro difusor do neotomismo, Lovaina tornou-se, apesar da constante abertura a outras correntes, centro difusor do pensamento fenomenológico e sua influência crescente se espalhou por muitos países.
Esta segunda etapa da Escola de Lovaina influenciou o pensamento brasileiro, nos anos sessenta, por meio de estudantes brasileiros que para lá se dirigiram a fim de realizar parte ou mesmo a totalidade de sua formação filosófica. Retornando ao Brasil, estes neofilósofos passaram a atuar em diversas universidades, tanto no magistério quanto na pesquisa, difundindo o pensamento fenomenológico nas diferentes áreas filosóficas e mesmo fora da Filosofia. Representaram também importante influência no envio de novos estudantes a Lovaina. Paralelamente ao prestígio de Lovaina e da fenomenologia, não devem ser descartadas, como razões para o envio de estudantes brasileiros a Lovaina, a formação de quadros para a Ação Católica e mesmo o resguardo da repressão política do regime militar brasileiro.
Foi este o impulso mais extenso que teve no Brasil a corrente fenomenológica, mesmo se comparado ao dos brasileiros que estudaram na França ou na Alemanha. Note-se que esta influência teve o efeito de contrabalançar a presença, tanto do decadente neotomismo, quanto do marxismo, então amplamente difundidos nas universidades brasileiras. Nas áreas científicas, este impulso da fenomenologia ajudou a atenuar a preponderância de um positivismo tecnocrático, então incentivado pelas políticas governamentais.
Os nomes mais destacados dentre os brasileiros que estudaram em Lovaina são: Alvino Moser, Antonio Joaquim Severino, Antonio Muniz de Rezende, Carmen Da Poian, Creusa Capalbo, Geraldo Tonaco, João Carlos Nogueira, José de Anchieta Correia, Newton Aquiles Von Zuben, Olinto Pegoraro, Salma Tannus Muchail, Tema Donzelle, Teresa Aulus Pompéia Cavalcante, Tiago Adão Lara, Ubiratan Borges de Macedo e Zeljko Loparic.
Com o passar de uma ou duas décadas, diminuiu sensivelmente o número de estudantes brasileiros que se dirigiam a Lovaina para completar seus estudos filosóficos. Mesmo alguns dos pensadores lá formados já se distanciaram da fenomenologia e das temáticas que haviam assumido por influência de Lovaina. Alguns deles direcionaram-se para o campo da Psicanálise. Resta ainda investigar sistematicamente em que medida perdura hoje a influência fenomenológica entusiasticamente trazida ao Brasil e, principalmente, quais foram os resultados dessa influência na construção do pensamento filosófico brasileiro.
3 Conclusões
O que aqui se pode fazer é apenas esboçar algumas conclusões, ressalvando seu caráter ainda hipotético.
Os filósofos brasileiros que estudaram em Lovaina foram, em geral, influenciados pela filosofia fenomenológica então lá predominante. Da fenomenologia lá praticada, trouxeram ao Brasil o método, temáticas, o espírito do pluralismo filosófico, interesses e preferências por certos autores então pouco conhecidos no Brasil, e mesmo obras, que mais tarde aqui seriam traduzidas e publicadas.
As influências trazidas perduram nítidas e intensas nas obras e temáticas destes filósofos durante cerca de uma década, após o que cedem lugar a novas temáticas e autores. Entretanto, após todo esse período de influência mais direta, os novos interesses certamente são conseqüência, senão mesmo seqüência, das pesquisas e atividades anteriores e dificilmente decorreriam de uma conversão filosófica. Este fenômeno pode ser observado em pensadores de diversas correntes: a mudança de temáticas e interesses é uma forma sutil de continuar o mesmo projeto filosófico-existencial. Estas hipóteses poderiam ser verificadas através de entrevistas com os brasileiros que estudaram em Lovaina, bem como através do exame de suas publicações.
A influência da Escola de Lovaina perdura ainda hoje de modo mais difuso, na medida em que a repercussão provocada pela publicação das obras dos pensadores de Lovaina (Ladrière, Dopp e outros) e dos brasileiros por eles influenciados, bem como o ensino desenvolvido por estes, influenciou, em grau muito variado, um número muito grande de estudantes brasileiros que não tiveram contato direto com a Universidade de Lovaina.
Em sua primeira etapa, a influência da Escola de Lovaina permitiu estruturar no Brasil um neotomismo rigoroso, atualizado e mais estritamente filosófico, diferindo significativamente do neotomismo de conotações políticas e apologéticas desenvolvido pelos pensadores do Centro Dom Vital ou ainda do tomismo do século XIX, que se limitava a repetir S. Tomás.
O pensamento fenomenológico trazido pela Escola de Lovaina trouxe a muitos filósofos brasileiros a via que permitiu a ruptura com correntes tradicionalmente fortes no Brasil, como um positivismo difuso e persistente, um neotomismo que então parecia esgotar-se, bem como o cientificismo marxista, de enorme presença nas universidades brasileiras. Se por um lado estas influências de Lovaina reforçam a tradição predominantemente francófona dos filósofos brasileiros, por outro lado o rigor da meditação lovainiana ajuda-os a superar algumas características da meditação brasileira, herdadas da maneira como historicamente foram assimiladas as correntes anteriores: traços de diletantismo filoneísta, certa despreocupação com o rigor da meditação e destinação apologética ou política dos esforços filosóficos.
Por tais razões, a Escola de Lovaina representou, para o pensamento brasileiro do século XX, uma de suas mais marcantes influências.