Por M.J.Marmelo
Caim
Caim
Simpatizo com o espírito blasfemo das declarações de José Saramago na apresentação do romance Caim, mas também me parece que se trata de um truque de marketing relativamente gasto e cansado (por muito que a Igreja continue a morder o isco), e que criticar o catolicismo é uma actividade que não carece, hoje, de especial coragem. A Bíblia poderá ser, sim, um “manual de maus costumes”, uma “invenção”, um “absurdo” e um “disparate”, mas, bem vistas as coisas, os católicos e as suas fantasias já não representam uma ameaça para quase ninguém. A esmagadora maioria dos católicos não segue a Bíblia e está-se a borrifar para as encíclicas e ordens papais. Usam preservativo e pecam abundantemente. Gostava que, no fim da vida, Saramago utilizasse o prestígio que dá ser Nobel e se dedicasse a combater crenças e religiões que, igualmente assentes em “maus costumes”, “invenções” e “disparates”, ainda produzem danos efectivos, que proíbem, coarctam a liberdade individual, ameaçam e matam. Talvez o mundo, um dia, pudesse agradecer-lhe.
Fruitos
Dezenas de milhares de galegos manifestaram-se ontem, em Santiago de Compostela, em defesa da especificidade da sua língua e contra o retrocesso que representarão algumas medidas anunciadas pelo novo governo regional do PP. Trata-se de uma batalha antiga: alguns habitantes da Galiza querem devolver à região uma língua que lhe confere identidade, mais próxima da filologia do português e que a protege do avanço esmagador da castelhanização. Tendo a simpatizar com os defensores do Galego, na medida em que me recordo de ter aprendido na escola como as primeiras obras literárias da minha língua foram escritas num idioma rude e, porém, musical, o galaico-português; que falavam nas ondas do mar de Vigo e em românticas relações amorosas, marinheiras e pastoris, que invocam a melodia de cravos e a errância dos almocreves. Soube, porém, mais recentemente, que as origens do Português (e do Galego) deixaram de constar dos manuais escolares do ensino básico, como se não fizesse nenhuma diferença saber de onde vimos para ter consciência do que somos. Temo que, um dia, não haja quem, cá ou lá, seja ainda capaz de recordar a memória de Martim Codax e de uma língua que, do quase nada, chegou a dar tantos e tão belos fruitos.
Fonte: http://teatro-anatomico.blogspot.com/
4 comentários:
Gostava mais de ver o Saramago a defender a autonomia cultural e linguística da Galiza face a Castela. Mas isso, já se sabe, não faz vender tantos livros...
Clarissa
De onde te vêm tantas certezas?
Seria interessante saber!
Camarada você deve ser míope, não viu que o texto tem autor, com fonte referida no final?
Eu neste blogue deixei de responder à má-fé e à palermice, e insultos apago. E se começar a dar trabalho, os meus posts vão deixar de ter caixa de comentários, que é o que algumas pessoas já fazem para não ter que aturar tanta comentadela sem sentido de quem nunca publica aqui nada.
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