NOME DE GUERRA, DE ALMADA NEGREIROS: UM GRANDE ROMANCE DE FORMAÇÃO
Só pude ver
Almada Negreiros em presença física uma vez. Curiosamente, em Lisboa, na
companhia do Álvaro [Ribeiro]. Dirigíamo-nos os dois para a Cidade Universitária,
partindo de Entrecampos para encetarmos a subida para o Campo Grande. Eu ia
para a Faculdade de Letras. O Álvaro não sei se não iria para a Faculdade de
Direito. O Álvaro morava então num quarto de um prédio da última linha de
Entrecampos, a abrir para o Campo Grande, do lado da entrada na Avenida dos
Estados Unidos da América. Quando vamos a olhar, indo já na rua a iniciar a entrada
no Campo Grande, vemos Almada a atravessar o largo espaço que ladeava a rotunda
em direcção ao Campo Grande, portanto de baixo para cima: aquele Almada alto,
ginástico, longitudinal, uma linha vertical a andar. Dissemos os dois qualquer
coisa um ao outro e ficou-me a lembrança para durar até ao resto da vida.
Depois lá subimos o Campo Grande e depois lá nos dirigimos à Cidade
Universitária. O Álvaro sabia melhor quem era o Almada do que eu. Mas eu ia
aprendendo. Estávamos nos últimos meses de 1959. Eu acabara de entrar na
Faculdade.
(excerto)