"...compositor Ruy Coelho (1889-1986), figura praticamente inexistente nas narrativas musicográficas e musicológicas e, quando presente, ostracizada ou reduzida a um papel pouco mais do que figurativo no panorama cultural português do século XX.
Serão várias as razões para este silenciamento, mas não nos ocuparemos delas por enquanto. Pretende-se tão-só esboçar uma breve panorâmica sobre os primeiros anos de carreira do malogrado compositor, sobretudo no que concerne ao período coincidente com a I República – anos em cuja historiografia tem-se destacado apenas Luiz de Freitas Branco (1890-1955), a quem se atribuíram os louros exclusivos de uma dita “introdução do modernismo em Portugal”, como mitificado por Fernando Lopes-Graça (1906-1994)[1] e desde então acriticamente repetido. Alguns autores chegam mesmo a comparar a errância estilística de Freitas Branco ao génio heteronímico pessoano[2], ideia que se revela especialmente irónica até porque – ao contrário de Ruy Coelho – não logrou contactar com os artistas próximos de Orpheu nem mostrou simpatia pelo que estes criavam e defendiam." (excerto).
[1] Cf. [Fernando Lopes-Graça],
“Freitas Branco. 1. Luís de”, Dicionário
de Música (Ilustrado) [reimpressão], dir. Fernando Lopes-Graça e Tomás
Borba (Lisboa: Edições Cosmos, 1962), 544.
[2] Cf. Alexandre Delgado, Ana Telles
e Nuno Bettencourt Mendes, Luís de
Freitas Branco (Lisboa: Caminho, 2007), 15-17.