A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sábado, 15 de fevereiro de 2014

António Carlos Carvalho, para a NOVA ÁGUIA 13 | O Balanço de Abril, 40 anos depois

Nunca acreditei naquilo – nem sequer nos primeiros acontecimentos, a que assisti porque estava lá na minha condição de repórter de serviço: no Largo do Carmo e nas ruas adjacentes; no quartel da Pontinha, nessa madrugada de 25 para 26 (onde ouvi um dos chamados capitães de Abril, depois da famosa conferência de Imprensa da Junta de Salvação Nacional, a dizer a outro camarada que aquilo de acabar com a PIDE não era uma boa ideia...); depois na manifestação de 1 de Maio, etc.
Nunca acreditei que aquilo fosse uma revolução (era evidentemente um golpe militar) ou que uma revolução fosse necessariamente uma coisa boa (tinha estudado cuidadosamente a Revolução Francesa e a Revolução Russa); em 1974 já levava quatro anos de estudos intensos sobre a obra de René Guénon, que vieram confirmar a minha descrença nas soluções políticas, militares ou outras desta fase cíclica a que os hindus chamam «Kali-Yuga»; sabia muito bem como multidões ou massas como as que vira, exultantes, no dia 25 e seguintes, são facilmente manipuláveis, agindo ao sabor dos «ventos da História» como um perfeito catavento. Sabia isso e muito mais.
E tudo se confirmou em 1974-75, sendo eu testemunha da nova censura nos jornais (agora feita por camaradas jornalistas, zelosos militantes partidários, em vez de patéticos tenentes e coroneis); dos inacreditáveis «saneamentos» políticos nas empresas por suspeita de complicidade com o regime deposto; das prisões com mandados em branco feitas pela rapaziada do COPCON (incluindo a apreensão de perigosas armas como pistolas de pederneira do século XIX e de canos entupidos que figuravam por cima da lareira enquanto elementos de decoração...) e que encheram novamente as celas de Caxias; das tentativas tenazes para fazer disto uma espécie de satélite soviético; do saneamento dos 24 no «Diário de Notícias» em que então mandava José Saramago, militante comunista e impoluto defensor das liberdades; das barreiras populares nas estradas que revistavam os carros do povo em busca de armas; desse terrível «Verão quente» de 75 em que senti fisicamente medo pela sorte da minha família, etc, etc.
E, sem surpresa, testemunhei depois a politização de tudo (os militares cederam rapidamente os lugares do poder aos políticos profissionais), o silenciamento das vozes livres (exemplo convenientemente esquecido: Francisco de Sousa Tavares demitido às ordens da quase canonizada Maria de Lurdes Pintasilgo), o polvo das estruturas partidárias a estender os tentáculos mesmo aos lugares mais remotos – na minúscula aldeia da minha mãe, em plena Beira Alta, duas tias minhas que nunca tinham ouvido falar de «política» e que até então eram como unha com carne, descobriram-se de repente simpatizantes de partidos diferente e zangaram-se a sério. Ridículo, risível mas significativo da demência que se alastrou pelo país... até hoje. 
Testemunhei também a subsequente rendição a uma Europa que não nos conhecia, uma entrega de mão beijada que viria a dar imenso jeito a muitos políticos e negociantes que se encarregaram de desviar os fundos europeus para os canais mais convenientes. E logo a seguir descobriu-se por cá que afinal «tudo é economia» (dando razão a Marx, o que não deixa de ser curioso...) e que não passamos de números para quem manda. E depois... foi o que se viu, o que se vê e sente na pele, agora.
Como nunca tive ilusões, também não as perdi ao longo destes 40 anos. Não gostava do Portugal de Salazar, tal como não gosto do Portugal de hoje, que tem como heróis ou modelos uns tipos que dão pontapés na bola ou umas criaturas que expõem monstruosidades em palácios reais.
A verdade é que vivemos num país à deriva, sem projecto de futuro, sem grandeza que não seja a dos números da dívida. É demasiado tarde para emigrar – mas há muito, na verdade desde sempre, que vivo no exílio, o pior, o interior.
Continuo a pensar que temos de re-pensar o que é isto de sermos Portugal e portugueses. Temos de o fazer contante e rapidamente. Antes que o país e este povo desapareçam de vez – como tantes vezes aconteceu ao longo da História. Creio, como Pascoaes, que ser português é uma arte, uma arte que se aprende a partir das raízes. Pergunto-me agora, quase cem anos depois de ser publicado «Arte de Ser Português» (o centenário passa em 2015), se alguém em Belém ou S. Bento ou nas sedes partidárias (e nas respectivas «juventudes») leu essa obra essencial de Teixeira de Pascoaes. E, no entanto, está lá quase tudo para a tal missão de repensarmos quem fomo, quem somos e, sobretudo, quem deveríamos ser.
Deveria ser obrigatório que cada novo governo e governante fosse levado em visita de estudo a lugares de peregrinação como os Mosteiros de Alcobaça, da Batalha e dos Jerónimos, ao Convento de Tomar, ao Museu de Arte Antiga (para meditar diante dos Painéis de Nuno Gonçalves), para se impregnarem todos eles desses símbolos e sonhos pátrios pensados e construídos por aqueles que queriam servir um país – e não servir-se dele. Feitos por gente sem inveja (o eterno mal nacional) e da linhagem dos que foram capazes de chegar à Índia, ao Brasil, à China, ao Japão, ao Tibete.
E também os deviam levar às aldeias desertificadas, aos lugares onde dormem os sem-abrigo, às cantinas onde vão comer os que passam fome, aos centros de emprego para ouvirem o desespero dos desempregados (porque eles, políticos, têm sempre emprego assegurado), aos aeroportos para ouvirem as razões dos que (ontem como hoje) são obrigados a emigrar, aos lares e aos hospitais onde os velhos são abandonados pelas famílias. Em suma, ao país real onde vivem aqueles a quem, há 40 anos, foi prometido amanhãs cantantes, vitória certa na unidade de todos, o fim dos vampiros que tudo comem, além das indispensáveis liberdade, igualdade e fraternidade. Mas não números. Pois é, o Guénon tinha razão: estamos em pleno Reino da Quantidade. Do qual só sairemos pelas mãos e corações dos homens bons de que falava Fernão Lopes numa outra época de crise que ele via como o início de uma nova era. Sem cravos – mas com flores-de-lis. E um dragão no timbre do brasão nacional, ligando a Terra ao Céu.