A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 26 de janeiro de 2014

"Agostinho da Silva: Da Comunidade Lusíada à Comunidade Lusófona", para a NOVA ÁGUIA 13


Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva são vultos da literatura portuguesa que, em cada época, assumiram o pensamento cultural de um povo eleito, percorrendo uma “Via Sacra” que o transporta, num momento futuro, para um patamar superior, de orgulho e prestígio incomensuráveis. Aos olhos destes intelectuais, o Povo Português entrara, de algum modo, em decadência, precisando de se libertar das suas limitações atuais e de se lançar numa nova aventura para completar o seu destino coletivo ansiado há gerações, para, finalmente, atingir o Quinto Império anunciado por um Messias Providencial, salvador da pátria secular.
Camões terá sido o responsável por ampliar o messianismo português ao incentivar D. Sebastião a partir na sua jornada africana. A cultura e o pensamento nacionais, desde as elites ao povo miúdo, ficariam marcados para sempre por este ingrediente fundamental à história trágica de uma Nação em cativeiro, deambulando, daí em diante, à procura de um passado de glória num horizonte futuro. Os Portugueses, tal como os Judeus, arranjavam assim forma de se individualizarem perante Deus e de seguirem o seu destino, o seu fado, enquanto Nação.
O Quinto Império passou a determinar as ações políticas, ligando a salvação de Portugal à existência de um vasto Império Colonial. Este fator foi estruturante na estratégia de estender a influência portuguesa a territórios e povos de outros continentes, mantendo-se como opção indiscutível até 1974, mesmo após revezes tão profundos como a perda do Brasil e o Ultimato Britânico, funcionando estes como traumas coletivos que intensificaram esse sebastianismo saliente, que nos enchia de tristeza e de esperança ao mesmo tempo, fazendo, na prática, com que o país se empenhasse com vigor no ciclo africano.
Nas fileiras dos apoiantes do Estado Novo surgiu uma corrente defensora da criação de uma “Comunidades Luso-Brasileira”, também nomeada de “Comunidade Lusíada”. Marcelo Caetano chegou ainda a propor uma ideia desta natureza para solucionar a questão da descolonização, passando as então províncias ultramarinas a serem estados federais. A Comunidade Lusíada seria uma federação, estádio intermédio precedente à independência. Agostinho da Silva sonhava com uma comunidade lusófona que, provavelmente, não andaria muito longe da Comunidade Lusíada, desde que esta integrasse o Brasil e se pautasse pelo respeito absoluto pelo Estado de direito democrático. A livre circulação de pessoas, bens e ideias na lusofonia são objetivos presentes nas expressões de Agostinho da Silva, que nunca chegaram a ser realidade.
O 25 de abril de 1974 pôs fim à ditadura mas representou também um corte com a lusofonia. Portugal abandonou um papel de protagonista principal no palco internacional para se converter em mais um dos membros da União Europeia, demonstrando um comportamento acabrunhado e acriticamente seguidista. A sua pobreza e tamanho reduzido, aliados à necessidade que as elites sentiram em afastar-se da imagem colonialista que ainda nos era associada, produziram um preconceito social e político em relação à lusofonia. A existência de guerras civis e de períodos de crise em vários países lusófonos ajudaram a cimentar a opção europeia, vendo-se nesta uma viragem secular que solucionaria os grandes problemas nacionais e que poria fim ao sebastianismo. O Quinto Império era a Europa.
A Europa, durante alguns anos, colocou Portugal na senda do desenvolvimento, obrigando-o a trocar a necessidade de obter prestígio e defender a sua soberania pelo progresso económico, social e cultural. O Portugal Europeu moderno envergonhava-se do Portugal Lusófono antiquado, com quem, amiúde, retomava algum contacto. Todavia, a aproximação à lusofonia implicava revisitar o passado e tomar o partido saudosista dos conservadores.
A criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 1996, veio ressuscitar timidamente a ideia da Comunidade Lusíada e a visão de Agostinho da Silva. Tal como foi instituída, esta comunidade ainda continua longe do sonho agostiniano da lusofonia enquanto espaço de integração económica, social, política e cultural. Todavia, a opção europeia de Portugal tem-se revelado, nos últimos anos, uma experiência traumática. A modernidade proporcionada pela Europa chocou com as limitações do país, incapaz de se adaptar a um contexto político e económico complexo e exigente onde as regras são ditadas pelos grandes países.
A saída para as dificuldades tem passado, em boa parte, pelas exportações, pela emigração e pela captação de investidores externos. Ora, uma porção substancial das nossas exportações e dos nossos emigrantes vão para a lusofonia e o país é recetáculo de investimentos oriundos desse espaço. Para além disso, a lusofonia faz também de elo de ligação em mercados em que as nossas empresas manifestam interesse. Logo, a lusofonia passou a fazer parte da solução, enquanto a Europa se associa ao problema.
Esta aproximação à lusofonia é hoje patente em múltiplos fóruns de discussão onde, por exemplo, ao nível da Administração Pública, se denotam claros esforços de cooperação estreita nos mais diversos domínios. Na área do “governo eletrónico” há perspetivas de partilha de informações entre as várias Administrações Públicas lusófonas, permitindo reduzir burocracias e prestar serviços públicos transnacionais. Este grau de integração tecnológica é um augúrio do potencial de integração entre os países lusófonos. Porventura, mais intensa do que entre a Administração Pública Portuguesa e as suas congéneres europeias.
A lusofonia ressurgiu e vai dominar as opções políticas das elites portuguesas no século XXI, pois o Quinto Império almejado por Portugal está a ser concretizado pelo Brasil, e, em menor grau, por Angola e Moçambique. A supernação brasileira, ao ser uma potência mundial, transforma o sonho português de recuperar um lugar de prestígio na primeira linha dos palcos internacionais em realidade. Podemos não estar ainda a compreender o peso real da lusofonia no mundo, mas dentro de vinte anos ele será inegável e nós temos de posicionar Portugal num novo contexto em que a nossa economia e a nossa sociedade estarão mais embrenhadas e suscetíveis à lusofonia e menos a uma Europa dominadora onde poderemos desempenhar um papel de representantes da lusofonia e não de um pequeno país envergonhado com o seu passado colonial e com os seus atrasos.
Esta viragem vai ocorrer, queiramos ou não. Sintoma disso é o crescente interesse de países, com comunidades ou regiões lusófonas, pela CPLP. O Senegal, a Guiné Equatorial, o Sri Lanka, a Indonésia, a China e as Maurícias, entre outros, olham de outra forma para a CPLP, percebendo o papel crescente que a lusofonia terá no mundo ao ponto de podermos falar numa espécie de “lusocentrismo”. É essa visão “lusocêntrica” da realidade que tomará conta das nossas opções públicas, devendo os decisores políticos saber reequilibrar a nossa posição de modo a conjugar de forma harmoniosa os benefícios da lusofonia e da Europa.
O balanço de abril foi inicialmente trágico para o projeto de Agostinho da Silva, resultando no abandono da lusofonia. Mas a Europa, ao entrar numa trajetória “expulsiva” dos seus membros mais frágeis, está a atirar Portugal para a reconciliação com a Comunidade Lusófona. Dentro de duas a três décadas não há dúvidas de que o sonho se tornará realidade, porventura, como ele dizia, uma realidade de que estamos certos mas que nem conseguimos imaginar bem como será.


Jorge Janeiro