José Lança-Coelho
De acordo com os escritos de seu pai,
Jerónimo Savonarola nasceu às 23.30 h do dia 21 de Setembro de 1452, em
Ferrara, Itália.
O seu avô Miguel, que emigrou de Pádua
para Ferrara, praticava uma espécie de mistura da filosofia de Aristóteles com
práticas sanitárias, que constituía a medicina na segunda metade do século XV,
o que lhe valeu ser nomeado professor da Universidade e médico da Corte por
Nicolau III de Este, Marquês de Ferrara.
Jerónimo foi desde tenra idade
escolhido pelo avô para continuar a sua profissão, daí que, se possa afirmar
que não teve infância, passando-a a estudar a Suma Teológica de S. Tomás de Aquino, por cujo espírito e lógica se
apaixona, e a meditar sobre textos bíblicos, quando não se encontrava nas
igrejas a rezar, chorando copiosamente sobre os pecados do mundo, pedindo o
castigo ao seu Deus, que se identifica com o da ira do Antigo Testamento.
A 24 de Abril de 1475 Savonarola
trocava a casa paterna pelo convento de São Domingos, em Bolonha, tornando-se
dominicano. De 1475 a 1490, Savonarola vive no convento, sendo ordenado
sacerdote.
No primeiro dia de Agosto de 1490,
Savonarola fez a sua primeira pregação no convento de S. Marcos, em Florença,
comentando o Apocalipse de S. João.
Savonarola foi contemporâneo em
Florença de Leonardo Da Vinci (muitos historiadores da arte afirmam que Da
Vinci retratou Savonarola no seu famoso quadro «A Última Ceia» no rosto de
Judas Iscariotes), Boticelli, Donatello e Miguel Ângelo, entre outros.
Desde o início da sua pregação em
Florença, Savonarola ataca o que é mundano, pede penitência, assume-se como
profeta e interpreta a seu modo egocentrista o Antigo Testamento. Servindo-se
dum radicalismo cristão, que toca as raias do fanatismo, Savonarola amedronta o
povo que frequenta a igreja florentina. Ao mesmo tempo, inicia uma fogueira das
vaidades, onde queima livros, quadros, mobiliário, tudo o que de acordo com a sua
leitura pessoal, não se coaduna com as Escrituras.
Em 1492, morre Lourenço de Médicis, o
Magnífico, e Savonarola apesar de seu adversário, administra-lhe os últimos
sacramentos, a pedido do aristocrata. Verifica-se então, uma verdadeira
alteração no xadrez político, a que não são alheios: a morte de Inocêncio VIII
e a eleição de novo Papa; o temperamento Orsini de Piero de Médicis que se
apoderará do Poder florentino e se inclinará para Aragão; o conflito entre os
Sforza de Milão, representado na pessoa de Lodovico, o Mouro, e os Aragão de
Nápoles, cujo representante é Ferrante; a sede de aventura do rei de França.
Este último, Carlos VIII invade Florença e será reconhecido por Savonarola, como
um desígnio de Deus – o novo Ciro da sua profecia -, para castigar a luxúria da
cidade e servir de elemento primordial para a sua renovação.
Mais tarde, Savonarola pagará com a
vida, este apoio explícito a Carlos VIII, bem como o não aceitamento da
excomunhão decretada pelo Papa Alexandre VI. Será assim, torturado, enforcado
e, posteriormente, queimado na fogueira, em Florença, a 23 de Setembro de 1498,
sendo as suas cinzas espalhadas no Arno.