LEGADO
SEBÁSTICO-TEMPLARISTA
de ANTÓNIO AUGUSTO CARVALHO MONTEIRO
Foi o carisma de D.
Sebastião, acrescido do desejo de sonegar a nação ao usurpador espanhol, que suscitou
o advento dos falsos D. Sebastião.
Se, todavia, nos casos
protagonizados pelo rei de Penamacor
(1584), por Mateus Álvares, rei da
Ericeira (1585), e Gabriel de Espinosa, pasteleiro
de Madrigal (1594), impostores instigados por terceiros, tudo culminou na
execução sumária e inequívoca dos implicados, já não se poderá rotular com
idêntico labéu aquele, surgido espontaneamente e encarnado pelo denominado Cavaleiro da Cruz (1598), cujo processo,
apesar das numerosas e apressadas opiniões em contrário, nunca teve um desfecho
satisfatoriamente dilucidado.
Às suas andanças e tribulações entre Veneza e Sanlucar de Barrameda
(Cádis), passando por Florença e Nápoles, à sua substituição por um sósia, o
(esse sim) calabrês Marco Túlio Catizone, ao seu exílio em França, no convento
agostinho de Limoges, cujo saque, na sequência da Revolução francesa, deu a
conhecer uma arca tumular contendo as suas ossadas, identificadas por uma
medalha em ouro. A tudo isso prestei a atenção devida em anteriores ocasiões [1].
A detalhada exploração que já empreendi e tenciono prosseguir no que
concerne à biblioteca sebástica (manuscrita e impressa) que pertenceu a António
Augusto Carvalho Monteiro permite-me garantir, sem hesitações, que, à excepção
do epílogo de Limoges (sobre o qual nada consta no acervo), o colecionador
possuía as peças-chave susceptíveis de traçar o percurso encoberto do Desejado.
De resto, estou convicto que não só as tinha, como as integrou no seu
imaginário, legando-nas no registo plástico da Regaleira, a qual constitui,
concomitantemente, um tributo à tradição templarista portuguesa e o
testamento-legado espiritual, sebástico e quinto-imperial do seu proprietário.
Onde então se vislumbram na Quinta da Regaleira os sinais a que me
reporto?
Ao invés das demais hipóteses hermenêuticas já ensaiadas, as quais são
compelidas a ajustar a realidade material às respectivas paralaxes ideológicas [2],
a assunção do destino profético de Portugal é inequívoco na obra-prima de
Carvalho Monteiro, emergindo do argumento subjacente ao plano-director da
Quinta, cuja explanação global reservo para próxima oportunidade.
De momento, apenas me proponho revisitar três dos mais paradigmáticos dos
aludidos sinais.
(excerto)
[1] Cf. Manuel J. Gandra, Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança
Sebástica, Lisboa, 1999 e Hubert
Texier, Pesquisas Históricas sobre Sebastião I. de Portugal (Paris, 1903), ou
de como o Desejado morreu no exílio,
em Limoges, Mafra, 2010.
[2] Cf. Manuel J. Gandra, Colecção Portuguesa I e II da Biblioteca do
Congresso – Livros Maçónicos, Mafra, 2012.