A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sábado, 9 de abril de 2011

APRECIAÇÃO DE LIVROS FEITA POR TORGA NO DIÁRIO (I)



DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO

Vejamos o que o escritor Miguel Torga escreveu acerca das obras que leu ao longo da sua vida e cujo registo nos deixou nos dezasseis volumes que constituem a sua colossal obra, a que chamou Diário.
A primeira referência tem duas vertentes, como constatamos no texto seguinte, um escritor policial chamado Armstrong, e o célebre norte-americano William Faulkner:

“Monte Real, Agosto de 1938, Quarta – É preciso dizer isto. É preciso fazer esta confissão, mesmo que a posteridade depois desista da lápide. É preciso dizer que li hoje de enfiada dois romances policiais, dum tal Sr. Armstrong, e que gostei. E acrescentar que tinha ao lado, interrompida, A Luz de Agosto de Faulkner.” (D. I, p. 72)

Seguem-se dois livros escritos por franceses – Maupassant e Flaubert -, ao mesmo tempo que os compara com outros dois seus compatriotas, Zola e Balzac:

“Coimbra, 2 de Fevereiro de 1942 - Une vie. Um assombro, a cena do velório. Mas este Maupassant era mau aluno. Ouviu as lições do Flaubert, ouviu, e ficou-se na sua: - génio. E com ele escreveu os seus eternos contos, a rir-se dos romances do Zola, do Balzac, e até dos do próprio mestre, excluindo, Madame Bovary, claro está.” (D. II, p. 26)

Os próximos livros referidos pelo poeta de S. Martinho de Anta referem-se a autores portugueses. São eles, Carlos Malheiro Dias, Camilo Castelo Branco e o Bandarra. Por comparação, cita ainda, Eça de Queirós e o padre António Vieira:

“Coimbra, 20 de Outubro de 1941 – Outra morte no pequeno mundo das nossas letras. Também não era um génio, Carlos Malheiro Dias. A lição que o Eça lhe deixou merecia outro entendimento. Se a aprendesse, aquela Paixão de Maria do Céu nem teria os limites do Vieira, nem o melaço das rabanadas. Seria um grande romance. Mas, quê! O autor convenceu-se de que era preciso reaportuguesar o Amor de Perdição que o Camilo atirara à barra do Doiro, na esperança fundada de que, como ao vinho do Porto, dali qualquer barco veleiro o levaria à Europa. E vá de recolher o náufrago, de lhe cegar os olhos que luz da França conspurcara, e de o reintegrar na solidão montanhesa do solar dos Sepúlvedas. É triste e desanimador. Mas aos românticos e aos realistas, a quem o mundo só meteu medo na medida em que o não conheciam, sucedeu uma gente estranha, maníaca dum Portugal à base de D. Sebastião e das alheiras de Chaves. E pronto: lá regressa a pobre da nossa literatura ao Bandarra e ao Flos Sanctorum – atoleiro que parece ser, afinal, o seu íntimo destino.” (D. II, pp. 18-19)

Torga volta de novo, à literatura anglo-saxónica, para falar de duas obras, Daphne Adeane e The Fountain, como se comprova com a leitura do seguinte excerto do Diário:

“Coimbra, 16 de Abril de 1941 – Segunda leitura de Daphne Adeane do Baring. Nada que se possa comparar à emoção forte que senti a primeira vez. Tenho a impressão de que certos livros vivem duma espécie de ópio que trazem diluído nas páginas por abrir. A gente prova o veneno, e não resiste. Mais tarde, quando estamos já vacinados, a estrutura frágil do conteúdo aparece em toda a sua extensão. É claro que Daphne Adeane continua a ter boas cenas, bom diálogo, e que todo o livro é bem escrito e bem arquitectado. Mas precisamente porque as manhas com que foi feito eram para toldar de mistério certo enredo, uma vez o mistério revelado, a gente verifica que o travejamento, afinal, não é de carvalho, resistente a qualquer hora e a qualquer leitura, como o The Fountain, por exemplo.” (D. I, P. 184)

A terminar (por hoje), fiquemo-nos com a referência torguiana a uma obra de Baudelaire, onde compara este poeta com Tolstoi, Morgan e Rilke:

“Caldas da Rainha, 15 de Setembro de 1939 – As Fusées de Baudelaire. Decididamente, não pertenço a semelhante raça. Aquilo, de resto, não é nada, a não ser o fígado a dar sinais de si. Ao pé de um Tolstoi, de um Morgan, de um Rilke, coisas assim parecem realmente vómitos biliosos.” (D. I, p. 111)

Para além das muitas ilações que se podem tirar dos excertos seleccionados do Diário de Torga, não podemos deixar de chamar a atenção para a erudição e os conhecimentos literários do grande escritor português.