Agostinho da Silva no seu livro Ir à Índia sem Abandonar Portugal, mais especificamente no capítulo intitulado ‘A Cidade do Porto’ (p. 29), tece interessantes considerações que têm como intervenientes Sampaio Bruno (1857-1915), Teixeira Rego (1880-1934) e Camilo Castelo Branco (1825-1890).
Agostinho da Silva diz que Teixeira Rego foi o professor que mais seguiu e admirou na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, cujas habilitações literárias eram a 3ª classe da Instrução Primária ou o 3º ano do liceu, pois isso, nunca ninguém o averiguou.
Porém, as suas habilitações literárias oficiais nada tinham que ver com as privadas, uma vez que, desde menino, Teixeira Rego, ia muito cedo para a Biblioteca Municipal do Porto ler tudo o que apanhava à mão.
Ainda de acordo com o testemunho de Agostinho da Silva, Sampaio Bruno, que era o director da Biblioteca Municipal, um dia, ao entrar nesta instituição, viu aquele menino a ler. Aproximou-se dele e ficou surpreendido com a matéria que ocupava a sua atenção. Porém, Agostinho da Silva não nos sabe informar, qual a matéria que Teixeira Rego indagava.
A partir deste momento, Sampaio Bruno interessou-se a fundo com a educação daquela criança precocemente inteligente, e de tal modo o guiou que, quando fundaram no Porto, simultaneamente, a Faculdade de Letras e o Instituto Superior de Comércio, houve a dúvida de pôr Teixeira Rego, na primeira instituição a dar aulas de Gramática Comparativa das Línguas Românicas, ou na segunda, a ministrar Matemáticas Gerais.
Agostinho da Silva confessa então, que, para sua sorte, Teixeira Rego foi colocado como professor de Gramática Comparativa das Línguas Românicas na Faculdade de Letras do Porto, facto que levou Agostinho da Silva a ser seu aluno e a conhecer o homem extraordinário que ele era.
O autor de Ir à Índia sem Abandonar Portugal afirma que, no Porto que conheceu, haviam duas tradições. A referida até este momento, a que chama a de Sampaio Bruno, e uma outra que envolve o nome do homem de S. Miguel de Seide.
Na verdade, Agostinho da Silva afirma ter conhecido lojistas estabelecidos “em frente à estação de S. Bento que ainda tinham uma raiva danada do Camilo, porque o Camilo dizia mal deles (…)”.
Para além destas tradições do seu tempo, Agostinho da Silva refere ainda que havia o hábito de conversar em redor da estátua do rei D. Pedro IV (1798-1834), local que afirma ser “uma verdadeira universidade”, em que se encontrava gente muito interessante, não só portuguesa, mas também espanhola, porque o Porto ficava no caminho para Espinho, havendo muitos espanhóis, principalmente de Salamanca, que quando queriam ir à praia, lhes dava mais jeito deslocarem-se a Espinho do que à distante costa espanhola, como eram os casos de Unamuno (1864-1936) e Carracid.