.
Há um duplo paradoxo que assiste a todo o ideário de uma filosofia nacional, seja qual for a pátria de que se fale: a universalidade como meta/física de todo o saber filosófico e o saber filosófico como um ir-se fazendo em imanência.
Paradoxo, este, que não releva de um erro do pensamento, mas da própria essência de todo o pensar, dimensão humana em que o homem, no uso da sua razão natural, almeja superar os limites temporais e circunstanciais da sua própria racionalidade e inscrever no texto da história do mundo uma transcendência: enquanto duração para além deste espaço e deste tempo – aquela em que a razão, pensando, é legislada pela ontologia do mundo, acima de parcelares sistemas e pequenas ideologias, em que a humanidade se digladia e perde.
Na aporia de questões complexas progride-se assentando acordo em chão simples. Há uma Filosofia Portuguesa porque há uma Língua Portuguesa e, no paradoxo que referimos, é a língua que nos permite esclarecer de que chão partimos. Nenhum linguista ou teórico da Literatura colocaria em causa a existência de literaturas nacionais, ou seja, de uma visão do mundo circunstancial, inscrita nas possibilidades semânticas e sintácticas de uma língua.
Na língua, em qualquer, se encontra o mesmo paradoxo do pensar. Por um lado, a língua é um modo do tempo histórico, perecível e parcial, matéria que serve o pensamento, na sua existente expressão acidental. Por outro lado, a língua é fala do ser, que abre a razão individual à ontologia do mundo que a faz ser pensamento e espírito: o Verbo, a língua como sopro vivo, o perturbador Rouach criador.
Ao tomarmos a língua como matéria activa – que, ao servir o pensamento, não pode senão fazer-se ser, e esse fazer-se ser tornar-se a forma do pensamento –, só poderemos esclarecer o aparente paradoxo metafísico colocando-o na diferença concreta entre âmbito nacional e âmbito civilizacional de uma língua. É esse âmbito civilizacional que acontece como universalidade mensurável. A Língua Portuguesa é um modo nacional da Civilização Mediterrânica, nas suas componentes helénica, latina, judia e islâmica. A etimologia o demonstra, muito para além do campo estritamente semântico e até onde cada sema é uma coluna modelar de uma civilização específica: ideias; sentimentos; ciências; política; moral; estética; etc.; ou um epocal pendor para o espanto, o temor, ou a confiança.
As filosofias nacionais existem porque as línguas nacionais existem, condicionando visões do mundo, históricas, efémeras, e intrinsecamente tão perecíveis quanto as Culturas. Atenas não é mais e, em rigor, o que os Gregos antigos pensaram, só é compreensível para nós a partir do que reconhecemos na sua sabedoria como ainda actual, na medida em que continua a ofertar respostas e questionamentos ao nosso tempo histórico. Ou seja, a Filosofia Grega, nacional e sua, conserva-se enquanto pensar, para o homem contemporâneo, por tudo o que, na sua substância própria, alcançou a universalidade. Contudo, esta universalidade não é o território metafísico de uma verdade absoluta, mas uma extensão maior, sígnica, simbólica e ideal, a que hoje chamamos Civilização Ocidental – como contributo de diversas sabedorias nacionais que se fundiram numa sabedoria civilizacional.
A realidade de uma Língua Portuguesa (se outras provas não houvessem) é o garante da existência de uma Filosofia Portuguesa, enquanto pensar específico, que compete com outras filosofias nacionais, no afã humano de determinar o que será a civilização do futuro. Porém, no que concerne à Filosofia Portuguesa, podemos estar já certos do seu lugar na universalidade: porque há uma Civilização Portuguesa, enquanto etapa da transformação da Civilização Mediterrânica na vindoura Civilização do Mundo – que não aceitamos que seja a hegemonia da Civilização Ocidental, mas o Reino do Espírito.
Jesus Carlos
Publicado:
http://mil-hafre.blogspot.com/2010/08/da-filosofia-portuguesa-como-via-para-o.html
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286.
Donde vimos, para onde vamos...
Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
Albufeira, Alcáçovas, Alcochete, Alcoutim, Alhos Vedros, Aljezur, Aljustrel, Allariz (Galiza), Almada, Almodôvar, Alverca, Amadora, Amarante, Angra do Heroísmo, Arraiolos, Assomada (Cabo Verde), Aveiro, Azeitão, Baía (Brasil), Bairro Português de Malaca (Malásia), Barcelos, Batalha, Beja, Belmonte, Belo Horizonte (Brasil), Bissau (Guiné), Bombarral, Braga, Bragança, Brasília (Brasil), Cacém, Caldas da Rainha, Caneças, Campinas (Brasil), Carnide, Cascais, Castro Marim, Castro Verde, Chaves, Cidade Velha (Cabo Verde), Coimbra, Coruche, Díli (Timor), Elvas, Ericeira, Espinho, Estremoz, Évora, Faial, Famalicão, Faro, Felgueiras, Figueira da Foz, Freixo de Espada à Cinta, Fortaleza (Brasil), Guarda, Guimarães, Idanha-a-Nova, João Pessoa (Brasil), Juiz de Fora (Brasil), Lagoa, Lagos, Leiria, Lisboa, Loulé, Loures, Luanda (Angola), Mafra, Mangualde, Marco de Canavezes, Mem Martins, Messines, Mindelo (Cabo Verde), Mira, Mirandela, Montargil, Montijo, Murtosa, Nazaré, Nova Iorque (EUA), Odivelas, Oeiras, Olhão, Ourense (Galiza), Ovar, Pangim (Goa), Pinhel, Pisa (Itália), Ponte de Sor, Pontevedra (Galiza), Portalegre, Portimão, Porto, Praia (Cabo Verde), Queluz, Recife (Brasil), Redondo, Régua, Rio de Janeiro (Brasil), Rio Maior, Sabugal, Sacavém, Sagres, Santarém, Santiago de Compostela (Galiza), São Brás de Alportel, São João da Madeira, São João d’El Rei (Brasil), São Paulo (Brasil), Seixal, Sesimbra, Setúbal, Silves, Sintra, Tavira, Teresina (Brasil), Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Turim (Itália), Viana do Castelo, Vigo (Galiza), Vila do Bispo, Vila Meã, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de São Bento, Vila Real, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.