Pinharanda Gomes
Couto Viana
Ou, como ele por vezes gostava de dizer, António Manuel Couto, Poeta de Viana: António Manuel Couto Viana (1923-2010).
Foi actor da renovação da poesia portuguesa pós-pessoana nos meados do século XX, renovação essa operada através das «folhas de poesia» intituladas Távola Redonda, de que foi co-director com David Mourão Ferreira, e, a seguir, da revista Graal, num período situado entre 1950 e 1957.
Representa um veio poético cujas raízes estão embebidas no lirismo da nossa tradição, com referências originais não apenas aos clássicos do século XVI (Camões e, sem dúvida, os quase compatrícios Diogo Bernardes e Agostinho da Cruz), mas também os românticos do neo-garretismo, tanto do popular ao modo de João de Deus como do sentimental introspectivo de Nobre e do hierático estilo de Lopes Vieira. Poesia de sabor aos frescos e aos verdes do Alto Minho, ainda numa certa cumplicidade com os ritmos arcaicos do galego-português.
Poetou e escreveu poesia desde jovem até quase à hora da morte, ficando admirados os que de mais perto dele sabiam, com a energia e a perseverança criativas, não obstante a doença que tanto lhe afectava a qualidade de vida. Poeta a tempo inteiro, as mutações da sua arte patenteiam-se numa obra de considerável número de títulos entre O Avestruz Lírico (1948), o Relatório Secreto (1963), Hospital (2000), o maior número estando compilado em dois volumes: Poesia (de 1948 a 1963) e Uma vez uma Voz (1963-1983), além de uma auto-antologia (Sou quem fui, 2000).
A dimensão do poeta, nascido no seio de uma família de artistas (seu pai, Manuel Couto Viana, desenhador e escritor, e as irmãs poetisas Maria Manuela Couto Viana e Maria Adelaide Couto Viana) não põe no olvido a sua outra obra, a de dramaturgo, de autor de teatro para as crianças e de director e encenador desde os tempos do Teatro do Gerifalto e do Teatro da Universidade de Coimbra.
Leal a um modo de entender Portugal, serviu o País mesmo quando o rumo deste sofreu inusitados desvios. Foi acusado há pouco, pelas bancadas à esquerda no Parlamento, de ter combatido ao lado das forças do Movimento Nacional na guerra civil de Espanha. Bom…nessa altura Couto Viana tinha treze anos e nem toda a gente é precoce como os seus acusadores! É voz puríssima da lusofonia, sem outra sombra que não seja a do primado da poesia, nele, sempre livre e não alienada.
(excerto)