Manuel Ferreira Patrício, A REPÚBLICA 100 ANOS DEPOIS – RETRATO À
Procuremos descortinar os motivos de desejo e esperança que tínhamos há 100 anos e os que vejo termos hoje.
Há 100 anos acreditávamos no ternário sagrado Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Hoje, não. As utopias falharam todas. Para nós.
Há 100 anos acreditávamos no povo português. O povo português acreditava em si próprio. Pascoaes, Pessoa, Almada, Leonardo, Cortesão, João de Barros, Proença – todos eles acreditavam no povo português e na sua capacidade de construir um futuro pátrio de progresso, de bem-estar, de liberdade, de dignidade, de criatividade, de solidariedade. Hoje, o povo português não acredita em si próprio. Ao longo destes 100 anos de república, faltou a todos os encontros consigo mesmo e com a história.
Hoje, parece que achamos que o melhor para nós é ter a manjedoura bem guarnecida, farta, seja quem for que a abasteça, mas que não sejamos nós mesmos a fazê-lo com os frutos do nosso trabalho.
É duro de ouvir? É duro de dizer. Estamos como o destinatário da increpação de Álvaro de Campos: ‘’Se te queres matar, porque não te queres matar?’’. Eu, que tenho a outra postura, proponho que digamos assim: ‘’ Se queres viver, porque não queres viver?’’. Continuando: ‘’Se te queres matar, mata-te!...’’. E digo eu: ‘’Se queres viver, vive!...’’.
(excerto)