DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO
Conheci pessoalmente Matilde Rosa Araújo em 1979, quando fazia o estágio pedagógico na Escola Luísa Todi, em Setúbal.
A escritora foi então convidada para ir falar aos alunos, e quem a levou lá, foi o meu colega Eduardo, cuja mãe, licenciada em Românicas, era também metodóloga, e amiga pessoal da escritora.
Lembra-me que Matilde Rosa Araújo falou sobre a sua actividade de professora com uma extrema simplicidade, e do seu amor às crianças, que, como Fernando Pessoa dizia, são a melhor coisa do mundo.
Falou, também, e em especial, de um rapaz que conhecera nas suas aulas, e que seguira com toda a sua ternura, ao longo dos anos, até ele se ter tornado um homem.
Lembra-me, perfeitamente, de me ter impressionado, a bondade expressa pela professora/escritora do modo como falou daquele adolescente, que não lhe era nada familiarmente, mas cuja vida ela seguia como se fosse seu filho.
Foi uma verdadeira aula de Pedagogia, a palestra que Matilde Rosa Araújo fez naquele dia para seis professores que, naquele ano lectivo de 1978/79, estavam a fazer o estágio pedagógico para se tornarem professores profissionalizados, e não andarem todos os anos com a casa às costas, e isso quando eram colocados, porque muitas vezes, por falta de vaga, isso não acontecia, e ficavam irremediavelmente desempregados.
Desde esse dia nunca mais vi a escritora, embora continuasse a acompanhar a sua obra literária, uma vez que, poemas e textos da sua autoria, da cerca de vintena de livros que publicou durante a sua vida, continuavam a ser publicados nos diversos manuais que saíam todos os anos.
Por aquelas ironias da vida, em 1989, realizei um dos grandes sonhos da minha vida – publiquei um livro. Chamava-se O Enigma da Gruta, e contava a história do concelho de Oeiras, com particular enfoque no tempo do Marquês de Pombal, que foi o primeiro conde de Oeiras e também o primeiro-ministro do rei D. José I. Curioso foi o facto da concretização desse sonho, derivar da obtenção do primeiro lugar num concurso literário da Associação Portuguesa de Escritores, cujo júri era formado por Maria Alberta Meneres, José Jorge Letria e, Matilde Rosa Araújo.
É verdade, dez anos depois, os nossos caminhos voltavam a cruzar- -se, embora Matilde Rosa Araújo não me identificasse com aquele jovem professor que, uma dezena de anos atrás, a ouvira embevecido falar das crianças.
Anos depois, ouvi Matilde Rosa Araújo na televisão, falar sobre a honra que era terem dado o seu nome a uma Escola.
Mais anos se passaram até ao dia seis de Julho de 2010, quando soube do seu falecimento, numa reunião de leitores da Biblioteca de Carnaxide.
Os livros, sempre os livros! Eles marcaram a minha vida, bem como os escritores que os escreveram como, a inesquecível Matilde Rosa Araújo!
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