DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO
JOAQUIM MOURA COSTA SEMI-HETERÓNIMO DESCONHECIDO
Joaquim Moura Costa é um desconhecido semi-heterónimo e um dos revolucionários criados pelo génio multifacetado do grande criador Fernando Pessoa.
Visou vários alvos, todos manifestações da mesma decadência. As sátiras mais cuidadas visaram os políticos da Monarquia e a Igreja Católica.
Participou em dois jornais feitos por Pessoa: “O Phosphoro” e “O Iconoclasta”.
Muitas das suas poesias são altamente pornográficas, não se podendo publicar neste local, como uma dedicada à homossexualidade de Fialho de Almeida, embora Fernando Pessoa a aceitasse e lhe tivesse dado existência no heterónimo Álvaro de Campos.
Entre os criticados por Joaquim Moura Costa/Fernando Pessoa salienta-se o poeta Augusto Gil, como se pode constatar na poesia que se segue:
“Vejo que rimas sem custo” – 30/3/1909
Vejo que rimas sem custo
E que o verso que te sabe justo
Sem confusão se interpreta.
P’ra seres poeta, Augusto,
Só te falta ser poeta.
Também os plagiadores não escapam à crítica mordaz deste desconhecido semi-heterónimo a que Pessoa atribuiu o nome de Joaquim Moura Costa, como se vê neste poema escrito um ano antes da implantação da República:
“A UM PLAGIARIO” – 7/1/1909
Copiaste? Fizeste bem.
Copia mais, sem canceira,
Copia, pilha, retém.
É a única maneira
De não escreveres asneira.
Já que falámos na República, aqui fica a sátira feita por Joaquim Moura Costa à rainha e mulher de D. Carlos, assassinado no Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, juntamente com o príncipe herdeiro Luís Filipe.
“A RAINHA D. AMELIA” – 20/4/1910
A Rainha D. Amélia
Se não dissesse que arrelia,
Rimava, mal seria
O mais certo é que arrelia.
Também os bajuladores, os situacionistas, os que vergam a cerviz para de qualquer modo conseguirem os seus intentos menos escrupulosos, (como “o Barão/ [que] Beijou ao Ramiro o anel…/”) são ridicularizados até ao extremo, só não se consumando a submissão total (Podia beijar-lhe o rabo/) por ter um nariz grande:
“BEIJA-MÃO” – sem data
Então dizem que o Barão
Que ocupa o lugar cruel
De chefe da situação
Beijou ao Ramiro o anel…
Foi para levar o cabo
Tudo a bem.
Creio que diz.
Foi sinal de submissão
Pois isso fez só que não
Podia beijar-lhe o rabo
Por lho impedir o nariz.
A terminar diga-se que, Joaquim Moura da Costa é um dos setenta e sete heterónimos de Fernando Pessoa até hoje descobertos nos papéis do baú.
JOAQUIM MOURA COSTA SEMI-HETERÓNIMO DESCONHECIDO
Joaquim Moura Costa é um desconhecido semi-heterónimo e um dos revolucionários criados pelo génio multifacetado do grande criador Fernando Pessoa.
Visou vários alvos, todos manifestações da mesma decadência. As sátiras mais cuidadas visaram os políticos da Monarquia e a Igreja Católica.
Participou em dois jornais feitos por Pessoa: “O Phosphoro” e “O Iconoclasta”.
Muitas das suas poesias são altamente pornográficas, não se podendo publicar neste local, como uma dedicada à homossexualidade de Fialho de Almeida, embora Fernando Pessoa a aceitasse e lhe tivesse dado existência no heterónimo Álvaro de Campos.
Entre os criticados por Joaquim Moura Costa/Fernando Pessoa salienta-se o poeta Augusto Gil, como se pode constatar na poesia que se segue:
“Vejo que rimas sem custo” – 30/3/1909
Vejo que rimas sem custo
E que o verso que te sabe justo
Sem confusão se interpreta.
P’ra seres poeta, Augusto,
Só te falta ser poeta.
Também os plagiadores não escapam à crítica mordaz deste desconhecido semi-heterónimo a que Pessoa atribuiu o nome de Joaquim Moura Costa, como se vê neste poema escrito um ano antes da implantação da República:
“A UM PLAGIARIO” – 7/1/1909
Copiaste? Fizeste bem.
Copia mais, sem canceira,
Copia, pilha, retém.
É a única maneira
De não escreveres asneira.
Já que falámos na República, aqui fica a sátira feita por Joaquim Moura Costa à rainha e mulher de D. Carlos, assassinado no Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, juntamente com o príncipe herdeiro Luís Filipe.
“A RAINHA D. AMELIA” – 20/4/1910
A Rainha D. Amélia
Se não dissesse que arrelia,
Rimava, mal seria
O mais certo é que arrelia.
Também os bajuladores, os situacionistas, os que vergam a cerviz para de qualquer modo conseguirem os seus intentos menos escrupulosos, (como “o Barão/ [que] Beijou ao Ramiro o anel…/”) são ridicularizados até ao extremo, só não se consumando a submissão total (Podia beijar-lhe o rabo/) por ter um nariz grande:
“BEIJA-MÃO” – sem data
Então dizem que o Barão
Que ocupa o lugar cruel
De chefe da situação
Beijou ao Ramiro o anel…
Foi para levar o cabo
Tudo a bem.
Creio que diz.
Foi sinal de submissão
Pois isso fez só que não
Podia beijar-lhe o rabo
Por lho impedir o nariz.
A terminar diga-se que, Joaquim Moura da Costa é um dos setenta e sete heterónimos de Fernando Pessoa até hoje descobertos nos papéis do baú.