Pouco dura
casca de árvore
largada aos elementos
úbere de antigos prantos
a pele revestida por dentro
do musgo do esquecimento
o estranhamento de mim
os dias são o resultado
duma combinatória sem nexo
a arte da atenção
o apego esventrado exposto ao sol
caracol com os cornichos ao sol
a infância toda precipitada das nuvens cinzentas
e o fim ali à mão de semear
tudo acaba na inversão das polaridades do espanto
não tem princípio o que de si nada espera
a vida é uma quimera de retalhos de momentos dissemelhantes
vai para Lisboa a carochinha rutilante num dia antiquíssimo de Primavera
E leva consigo todos os livros da estante impossível de ser eterno
voltará no Inverno para me segregar uma nova meninice
no secreto da esperança
os sapatos velhos que já não uso povoam caixas empoeiradas
de sonhos de ir além
todas as praias me rasgam no coração a miragem triste
de haver duas margens no amor e no engano que há em ser gente
e ser ninguém
o sopro que me anima é um arroubo cigano que me torna presente
a impossibilidade de ser mais que tudo o que não sou
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Publicado por Paulo Feitais em:
serpenteemplumada.blogspot.com
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