A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Para ler o resto, vai ter que esperar pelo nº 5 da NOVA ÁGUIA...
(...)
Fundada em 1912, análoga da «Renaixença» catalã, a «Renascença Portuguesa», cujo carácter regeneracionista inspirou outras iniciativas posteriores, incluindo as tradicionalistas, veio com o propósito de revelar a alma portuguesa e de a integrar nas suas originais qualidades (conforme Pascoaes escreveu a Unamuno em 23 de Setembro de 1911), em síntese, para levar a efeito a educação para a República, algo em que os «revolucionários» jamais tinham dado provas de terem pensado, propondo a maior cultura do povo português em geral e em particular. Estes propósitos são assumidos como efectivos e primordiais, da missão se incumbindo diversas iniciativas, entre as quais avultou, pelo significado e influência, a revista A Águia, em que abunda o primado da educação e da procura dos fundamentos. Esse problema abonou as tendências maiores do movimento, desde o Criacionismo de Leonardo Coimbra, ao Saudosismo de Pascoaes e aos pragmatismos sócio-políticos de Raul Proença e de António Sérgio.
O breve escrito de Laranjeira vem como que em admonição às futuras acções, para além do evolucionismo social de Spencer, e apresenta ainda (não tanto como na sua obra posterior) a junção de um estoicismo e de um pessimismo, absorvidos dos Gregos e de Schopenhaeur, à paradigmática sugestão, haurida em Nietzsche, do Superhomem (Uebermensch) – atribuindo ao homem a construção de um destino, já que, no seu entendimento, Deus é o inexistente – ideia com a qual ele se não conformava, pondo o homem na situação de providência operativa.
Essa perspectiva envolve a ideia de «homem perfeito», em que as superiores qualidades da vida se manifestem, não para, qual besta, dominar as minorias (como ocorre nos totalitarismos, um dos quais agora reivindica ter tido papel importante na instauração da liberdade em Portugal, esse mesmo que tentou subjugar em nova ditadura…) – mas para delas elevar o maior número à superioridade, o que desde logo enuncia a díade maioria/minoria e, por redução, a díade mediocridade/superioridade, massa/elite. A alma das maiorias é o homem superior, estando para além do seu tempo e cuja razão paira acima das maiorias. No entanto, são as maiorias que sustentam as Democracias, o poder do tipo médio de cada época, quando seria de esperar que a Democracia fosse regida por uma alta aristocracia do espírito, por cidadãos superiores em vez de pessoas eleitas para baterem palmas no Parlamento. É isso que acontece em Portugal? Se não é, deveria sê-lo, não obstante ser evidente que várias revoluções se reivindicam do sucesso. Convém, a uma fria lucidez, entender que, de revoluções portuguesas só houve três: a de 1385, que garantiu a independência, a revolução dos Descobrimentos que mostrou os mundos ao mundo e a de 1640. Tudo o mais não passou de motins, cujos actores têm sido os militares, a que se costumam acoplar os que se julgam aristocratas da política.
A razão das maiorias reduz-se a uma energia passiva, enquanto «a razão dos homens superiores é uma força criadora» – o perpetum mobile do progresso, segundo Laranjeira. E, segundo Proença, elas só evoluem «lentamente, caminhando para o futuro e para o progresso devagar». Na luz de Zaratustra, abomina-se o «rebanho escravo», que a demagogia pode aclamar como o «superhomem colectivo».
No ideário aquilista, educação e instrução correspondem às duas rodas de um veículo girando num eixo, – a axialidade, ou a teoria dos valores.
O confronto social não se reduz à esfera dos interesses sociais; é o confronto das políticas de espírito – a supremacia das deficiências das maiorias perante a qualidade das minorias. Ora, ainda que «o direito dos homens superiores […] seja proclamar a verdade», as maiorias são felizes nas aparências. Facilmente se deslumbram e se deixam levar por quem lhes fale ao coração. E, na história da Humanidade, o governo dos Povos é feita por minorias elevadas a aristocracias pelas maiorias a uma áurea mediocritas, na sua corrupta acepção, depois de sacada da concepção clássica[1].
A professa integração de Teófilo Braga no Positivismo, não lhe fechou os olhos para estabelecer o diagnóstico do Estado, diagnóstico esse tornado público em livro, já depois do novo regime implantado. De acordo com ele, o país estava doente de três moléstias: a anarquia intelectual (desorientação política, partidos sem ideias, mal estar social); anarquia moral (carência de hombridade, impreparação para conviver em República); e anarquia económica (os sistemas financeiros, os sistemas tributários e a ditadura governista dos impostos). Em convergência com os pensadores não-positivistas, Teófilo advertiu para que uma educação filosófica prevalecesse sobre a acção considerada política[2].
Cem anos se passam sobre a aparição de A Águia e outros cem sobre a proclamação da República. Aquela, espaço de reflexão e de pesquisa de uma epistemologia política; esta, avançando todo o terreno, sem saber onde iria ter. Neste caso, que mudou? Antes se aprofundou a falta de graça, mesmo considerando, como atenuante para os agentes dos factos, a teoria da relatividade do sofrimento segundo Paulo Orósio: o sofrimento presente é mais intenso e mais extenso do que o sofrimento passado, que o tempo esmaeceu e deliu.
O justo juízo carece das coordenadas de longidade, da presentidade e da posteridade, como Orósio escreveu, na História contra os Pagãos (Livro III), mas já hoje não podemos ignorar que, na prática prolongada, a República foi um desencanto para os sérios pensadores dela. Veio como um regime de violência, de fome, e de esbulho, sobretudo do património eclesial[3]. Quando metade do país vive no limiar da pobreza e, pelo menos dois milhões em pobreza total, constitui um sacrilégio gastar dez milhões de Euros (fora os que as autarquias gastarão de suas contas) para celebrar a efeméride[4], num acto de agravamento àqueles a quem foi prometida uma sociedade justa e feliz.
Estamos pobres. Resta-nos, todavia, o que ninguém pode tributar-nos: a Esperança num mundo novo, em cujo horizonte A Águia voe em liberdade, na verdade, fora das trevas.
[1] Cf. A Escola e a República, in A Águia, n.º 1, pp. 10-11. Na mesma edição, cf. os artigos de Leonardo Coimbra, «Sobre Educação» e de Pascoaes, «Os Lavradores Caseiros». Cf. Aristóteles, Ética a Nicómaco, 1106 a, 27-32.
[2] T. Braga, Soluções Positivas de Política Portuguesa, Porto, 2 vols., 1912-1913.
[3] Cf. P. Gomes, Entre Filosofia e Teologia, ed. cit., os capítulos sobre Bruno e o 31 de Janeiro, A tensão doutrinal na «Renascença Portuguesa», etc.
[4] Cf. Declarações de Paulo Teixeira Pinto ao Correio da Manhã, 11.12.09, p. 44.