No olhar e no ler, o museu: acontecimentos sem tempo
Olhava os olhos dela, dentro dos meus pelo meu olhar, e via neles sombras que já tinha visto numa pintura. Re-via. A possibilidade des-coberta de pelo olhar re-ver. Fazer a re-visão do visto. O olhar nos olhos: a entre-vista com o removido pelos olhares sucessivos e pelo movimento discreto de quem não desliza, mas se adentra. A possibilidade entre-vista no extático, na negação do devir e na imposição do de-ver: aos olhos. Recomposição. Figuração das cores e do visto. Figuração do movimento. O impre-visto. A lenta subversão das outras visões guardadas, aguardadas, chamadas perdidas. Visão e re-encontro. A permanência e a presença do invisível no olhar. Cedência e abrangência de um campo, de uma vastidão habitada e habituada às visões imemoriais. O olhar como arqueologia do visto, re-visão do que mora na deslocação do olho e nele repousa para deixar ver, dar a ver. Ver-nos. Entreolhar. Olhar por entre, olhar para dentro. Olhar do dentro antigo. Recuar. Empurrar o antigo para a frente, fazer frente ao imediato. Mediatizar. De-ver o outrora no agora.
Olhava nos olhos dela, dentro dos meus pelo meu olhar, as sombras que se animam, as cores que se avivam, os movimentos que se concertam no instante da visão. Recuperação. Salvação. Vislumbre. Vislumbração. Iluminação. Vibração. Reanimação do tempo pela eternidade, pelo que o toca vindo do imperecível. O tempo como relação com o que se desencontra de nós. A eternidade como exercício imprevisto da memória. Como exercitação de um treino consumado, cadenciado, amado e convocado pela visão da e na leitura para os instantes. Re-leitura e re-visão. Ler e reler. Às vezes, quando olhava, os olhos dela abriam portas de um museu nunca entre-visto fora dessas fulgurantes aproximações que a leitura retém, retece. Visão animatográfica das presenças. Ler é o acto primogénito da alma salvar o que o tempo, desencontrando, remete para a imobilidade. Movimentar: ler é soprar. Sílabas, pó, matéria que desfaz o esquecido. Os olhos que lêem o improvável jogo, dialógica disputação das sombras acordadas, estremunhadas pelo exercício de aproximação que o olhar que per-corre a página reencontra. Uma vez lida, acordada a presença invisível na legibilidade do visível, o museu não pára de se ir constituindo, reconstituindo, arquitectando os seus corredores, as suas passagens. Dar a ver o esquecido que a página guarda. Aguarda.
Olhava os escritos, o escrito. Olhava uns olhos dentro dos meus. Indiscerníveis uns no do outro: os meus olhos viam nos seus, nos teus, escritor amigo, os olhos dessas marmóreas esculturas em que a pedra, mais do que a forma, perpetua o silêncio. O silêncio que oiço quando te leio e os olhos fecham para que as esculturas se reponham nas colunas de que as deslocaste quando as convidaste para a composição da tua visão. Foram elas que te emprestaram o olhar com que viste o primeiro reino. Porque as estátuas são silenciosas mas não são cegas.
Releio. Re-vejo o que escreveste: contemplador de estátuas nas sombras, contemplador eremita que as esperas até à sua passagem pela tua folha branca. Sussurram e agitam, com os que as cobre, o nunca visto, o por ver, porvir. Leio-te para o ver, também através do teu olhar, a tua aproximação ao imortal. Antes da morte, tal visão, distancia-te do tempo. A visão é o museu, o não-lugar, um acto, a actualização do que nunca morreu. Repousando aí o teu olhar, demoras um pouco mais nessa entre-vista, dás-nos a possibilidade da passagem de um museu para outro. Os olhos que vêem e os olhos que lêem são os mesmos. São janelas por onde espreita o inesperado, enfim, o acontecimento sem tempo. A súbita passagem para o reino sem I-lusão onde, (en)fim, recuperaremos as nossas memórias de cegos.
Olhava os olhos dela, dentro dos meus pelo meu olhar, e via neles sombras que já tinha visto numa pintura. Re-via. A possibilidade des-coberta de pelo olhar re-ver. Fazer a re-visão do visto. O olhar nos olhos: a entre-vista com o removido pelos olhares sucessivos e pelo movimento discreto de quem não desliza, mas se adentra. A possibilidade entre-vista no extático, na negação do devir e na imposição do de-ver: aos olhos. Recomposição. Figuração das cores e do visto. Figuração do movimento. O impre-visto. A lenta subversão das outras visões guardadas, aguardadas, chamadas perdidas. Visão e re-encontro. A permanência e a presença do invisível no olhar. Cedência e abrangência de um campo, de uma vastidão habitada e habituada às visões imemoriais. O olhar como arqueologia do visto, re-visão do que mora na deslocação do olho e nele repousa para deixar ver, dar a ver. Ver-nos. Entreolhar. Olhar por entre, olhar para dentro. Olhar do dentro antigo. Recuar. Empurrar o antigo para a frente, fazer frente ao imediato. Mediatizar. De-ver o outrora no agora.
Olhava nos olhos dela, dentro dos meus pelo meu olhar, as sombras que se animam, as cores que se avivam, os movimentos que se concertam no instante da visão. Recuperação. Salvação. Vislumbre. Vislumbração. Iluminação. Vibração. Reanimação do tempo pela eternidade, pelo que o toca vindo do imperecível. O tempo como relação com o que se desencontra de nós. A eternidade como exercício imprevisto da memória. Como exercitação de um treino consumado, cadenciado, amado e convocado pela visão da e na leitura para os instantes. Re-leitura e re-visão. Ler e reler. Às vezes, quando olhava, os olhos dela abriam portas de um museu nunca entre-visto fora dessas fulgurantes aproximações que a leitura retém, retece. Visão animatográfica das presenças. Ler é o acto primogénito da alma salvar o que o tempo, desencontrando, remete para a imobilidade. Movimentar: ler é soprar. Sílabas, pó, matéria que desfaz o esquecido. Os olhos que lêem o improvável jogo, dialógica disputação das sombras acordadas, estremunhadas pelo exercício de aproximação que o olhar que per-corre a página reencontra. Uma vez lida, acordada a presença invisível na legibilidade do visível, o museu não pára de se ir constituindo, reconstituindo, arquitectando os seus corredores, as suas passagens. Dar a ver o esquecido que a página guarda. Aguarda.
Olhava os escritos, o escrito. Olhava uns olhos dentro dos meus. Indiscerníveis uns no do outro: os meus olhos viam nos seus, nos teus, escritor amigo, os olhos dessas marmóreas esculturas em que a pedra, mais do que a forma, perpetua o silêncio. O silêncio que oiço quando te leio e os olhos fecham para que as esculturas se reponham nas colunas de que as deslocaste quando as convidaste para a composição da tua visão. Foram elas que te emprestaram o olhar com que viste o primeiro reino. Porque as estátuas são silenciosas mas não são cegas.
Releio. Re-vejo o que escreveste: contemplador de estátuas nas sombras, contemplador eremita que as esperas até à sua passagem pela tua folha branca. Sussurram e agitam, com os que as cobre, o nunca visto, o por ver, porvir. Leio-te para o ver, também através do teu olhar, a tua aproximação ao imortal. Antes da morte, tal visão, distancia-te do tempo. A visão é o museu, o não-lugar, um acto, a actualização do que nunca morreu. Repousando aí o teu olhar, demoras um pouco mais nessa entre-vista, dás-nos a possibilidade da passagem de um museu para outro. Os olhos que vêem e os olhos que lêem são os mesmos. São janelas por onde espreita o inesperado, enfim, o acontecimento sem tempo. A súbita passagem para o reino sem I-lusão onde, (en)fim, recuperaremos as nossas memórias de cegos.
Para a Mónica que está entre este mundo e outros, está entre a memória e o futuro, está entre o visível e o invisível e tem uma escrita que deixa ver e rever o que na solidão brilha como estrelas do outrora. E é entre todos os reencontros o mais inesperado. Entre o que dizes e não dizes, o Paulo deixou-te um convite e eu estou entre os dois à tua espera.
Publicado por Isabel Santiago no blogue da ENTRE:
arevistaentre.blogspot.com
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