A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Texto que nos chegou...

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Eros Volúsia


A Lua encontrou-se com o Sol em um perfeito alinhamento. Mas antes do primeiro encontro, nada era como seria depois. Lá nos primórdios do Universo, os dois começaram a cultivar um amor, intenso e belo como o crepúsculo. Durante existências, a Lua guardou apenas para si a fagulha de um sentimento inexplicável pelo Sol, o astro dos astros e o mais belo deles em sua concepção de mero corpo celeste infimamente menor que a grande estrela amada. A admiração pelo Sol alardeou desejos e fagulhas arredondadas da Lua.
Amantes enamoraram-se sem jamais poderem se encontrar. Mas eles sabiam que o grande encontro estava por vir. A Lua só conseguia sentir os raios vibrantes do Sol. Se ela pudesse ir contra a força que a impulsionava a executar o mecânico trabalho de rotação e sair rodopiando tangencialmente, viraria o Universo de cabeça para baixo apenas para estar junto de seu amado. A vontade que o Sol tinha era de se expandir cada vez mais até que fosse possível envolver totalmente sua amada em seus raios ardentes do fogo de Eros.
Era a paixão de seres que pela lei da natureza nunca poderiam estar juntos para sempre, mas que irão coexistir antagonicamente. Mas, quando a noite for o dia e o dia for a noite, nada mais será como antes. Os dois pareciam correr juntos com o tempo, transpondo a barreira do espaço, mas apenas a Lua movimentava-se em sua órbita constante ao redor da Terra. Algum dia teriam, inevitavelmente, de se encontrar. Algum dia dentro da sensação de um tempo de volúpia... longo gozo de tão absoluta longevidade. Inquietante.
Por muito tempo, os dois combinaram o desejado encontro, fizeram conjecturas de como seria o célebre momento. Tanto combinaram que decidiram que o encontro deveria ter repercussão universal.
A expectativa estabelecia-se como o motor mais frenético entre os dois astros. Um amor que, realmente, só cabe ao Universo e que estava fora da compreensão tão insignificante, minúscula e imperfeita dos seres humanos, pois, o amor só pode ser sentido pelo mais virginal e límpido ser repleto da matéria cósmica mais primitiva.
Passado um milênio completo, no momento em que a face visível da Lua voltada para a Terra não estava sendo iluminada e um fenômeno de alinhamento estava prestes a acontecer, a Lua sorriu para seu amado, avisando que estava a caminho. Os dois puseram-se a se contemplar mais de perto e cada vez mais perto. A Lua lançou-se indiscretamente para cima de seu venerado amor chamejante.
Estavam prontos para o beijo cósmico mais fascinante do Universo. Inesquecível triscar de energia. Enquanto o calor do Sol era sentido unicamente pela Lua, a Terra teve sua temperatura diminuída. Pouco tempo depois, o espetáculo amoroso entre os dois astros se intensificaria. Os dois dirigiam-se para o início de um abraço, de um juntar de corpos perfeito.
A felicidade do Sol e da Lua foi percebida da Terra pela consumação do amor entre os dois. Uma consumação que deixou perceptível o anel de diamante que circundava a borda da Lua. O beijo cósmico chegou ao seu ápice quando a Terra foi atingida pela sombra da Lua. O céu tornou-se escuro, propício para o amor sem limites do Sol e da Lua. Puderam-se ver os planetas e as estrelas mais brilhantes celebrando a união. Finalmente, a coroa solar apareceu evidenciando o encontro total de dois únicos bacantes. Encontro memorável. O mais intenso e forte delírio lunático e o mais exaltado e entusiasmado eclipse solar.



Lúcia Helena Alves de Sá