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No dia 12 de Dezembro festejou-se o fim da expedição de Pedro Teixeira, o explorador português que subiu e explorou o rio Amazonas em 1639. Consta que era alto e robusto. "Curiuá-Catu", o Homem Branco Bom e Amigo, como lhe chamavam os Índios, foi homenageado em 10.12.09 no Senado brasileiro, com a presença de João Carlos Moura, Presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, de onde ele era natural, para que ninguém esqueça o que fez por Portugal e pelo Brasil. Nasceu em Cantanhede (Coimbra, Portugal) e faleceu em Belém do Pará, no Brasil, em cuja Catedral está sepultado.
Em Portugal, só há, na Ajuda, em Lisboa, uma estrada com o seu nome e em Cantanhede, onde nasceu, uma estátua. No Brasil, onde morreu a 6 de Junho de 1641, o seu rosto foi estampado nas notas de cinco cruzeiros e o Papa João Paulo II, em 1980, fez uma viagem entre Belém do Pará e Manaus num navio de guerra que tinha o seu nome. No final da sua vida foi nomeado capitão-mor do Grão Pará. Está sepultado na catedral de Belém.
"Curiuá-Catu", o Homem Branco Bom e Amigo, fez-se acompanhar dos seus amigos índios, numa expedição que partiu de Gurupá, a 28 de Outubro de 1637, com 2.000 mil pessoas (70 portugueses e o resto índios). Subiram os rios Amazonas e Negro e chegaram à cidade de Quito, actual capital do Equador, voltando a Belém do Pará 26 meses depois da partida (a 12 de Dezembro de 1639). O rio Amazonas passava, assim, a pertencer na sua totalidade a Portugal (então sob o domínio da Coroa espanhola). Um feito extraordinário para a época.
"Pedro Teixeira é um herói esquecido que precisa de ser recuperado", disse Aloizio Mercadante, o senador brasileiro que está a lançar um movimento para "resgatar a memória, reconhecer e valorizar a imensa contribuição" que este português de Cantanhede, teve na História do Brasil. A sessão de homenagem que se realizou no Senado Federal, em Brasília, para comemorar os 370 anos da expedição deste o "desbravador" português, partiu de uma proposta sua. Para o senador a contribuição daquele a quem chamam o conquistador da Amazónia, no processo de constituição e afirmação da soberania territorial, foi decisiva e deve ser celebrada por portugueses e brasileiros.
"A Pedro Teixeira se deve quase metade do nosso território actual. Mais de 62 por cento da Amazónia está em território brasileiro por causa dele", explicou, lembrando que a região, além de património da humanidade, tem a maior concentração de água doce do planeta e é a mais importante floresta tropical.
Agora que o Brasil "deixou de ser um problema na agenda internacional e passou a ser parte da solução", é possível que o país olhe para a sua história com "orgulho e auto-estima". E à medida que isso acontecer, acrescenta Mercadante, o Brasil terá obrigatoriamente de reconhecer a imensa contribuição de Portugal.
Pedro Teixeira era um militar que participou na fundação da cidade de Belém, a capital do estado do Pará, e que depois se destacou em várias missões militares, combatendo holandeses, ingleses e franceses.
Quando dois padres e quatro soldados espanhóis chegaram perdidos a Belém, com a novidade de que o rio Amazonas era navegável, o governador do estado do Grão-Pará e Maranhão pediu a Pedro Teixeira para organizar a expedição até Quito (na época parte do vice-reinado do Peru).
No regresso, com testemunhas espanholas, Teixeira regista a posse das terras para o reino de Portugal. "Como naquela época Portugal estava subordinado à Coroa espanhola, o livro que relata essa epopeia, em 1641 [Novo Descobrimento do Grande Rio Amazonas e a Viagem de Pedro Teixeira Águas Arribas, de Frei Cristobal d"Acuña] acaba sendo queimado e isso não foi valorizado nem pela historiografia portuguesa nem brasileira", explica o senador, que quer chamar a atenção para este "vulto histórico" que parece estar condenado ao esquecimento.
O seu nome não consta do Livro dos Heróis da Pátria (ou Livro de Aço) que está no Panteão da Liberdade e da Democracia Tancredo Neves, em Brasília, e nem sequer figura na lista de candidatos. Mercadante preparou um projecto de lei para que o nome de Pedro Teixeira seja inscrito neste Livro de Aço. Propõe também que a história da expedição do navegador português passe a fazer parte dos currículos escolares no Brasil. E em Portugal de que se está à espera?
A expedição de Pedro Teixeira era composta por 70 canoas (45 de grandes dimensões, com vinte remadores cada). Acompanhavam o explorador 70 soldados portugueses e 1200 índios, muitos deles "flecheiros" (arqueiros), que levaram as suas mulheres e filhos.
Teixeira (cuja data de nascimento se situa entre 1570 e 1585) era de ascendência nobre e foi para o Brasil em 1607, conta a autora do livro “A Expedição de Pedro Teixeira - A Sua Importância para Portugal e o Futuro da Amazónia” (ed. Ésquilo), a brasileira Anete Costa Ferreira, investigadora de ciências sociais e história luso-amazónica, esteve na sessão de homenagem em Brasília.
O navegador falava o tupi - língua com origem no povo tupinambá - e essa era uma das razões pelas quais era tão acarinhado pelos índios. "Sempre fez amizade com os índios, o que lhe valeu de muito", explicou aquela.
A descrição desta expedição chega até nós através de um documento que está na Biblioteca da Ajuda (Relazion del General Pedro Teixeira de el rio de las Amazonas para el Senhor Príncipe, 1639). "É o diário de bordo que Pedro Teixeira fez durante a viagem. Esse é o grande documento que o celebrizou e é um levantamento geral da fauna, da flora, do minério, dos costumes... Entra tudo o que ele foi vendo no seu trajecto", explica a investigadora. Incluindo os canibais.
Nessa grande expedição, Pedro Teixeira fixou uma série de territórios até então desconhecidos, como as ilhas das Areias ou Santa Luzia. Na viagem de regresso a Belém do Pará descobre o rio Negro (onde mais tarde se ergueu a cidade de Manaus) e o rio Madeira, um grande afluente do Amazonas.
Um dos feitos mais importantes da expedição é a fundação do povoado de Franciscana, oficializada a 16 de Agosto de 1639. Obedecendo às ordem do governador, Pedro Teixeira toma posse desse território, mas diz que o faz para a Coroa portuguesa (e não para a espanhola). Com a nova povoação, o navegador quis homenagear todos os missionários franciscanos.
Amazónia sem amazonas
No documento que se encontra na Biblioteca da Ajuda, Teixeira conta ainda que, tanto na ida como na volta da expedição do rio Amazonas, não viu as amazonas, mas, apesar de nunca se ter cruzado com elas, relata que lhe chegaram muitas notícias delas. Diz mesmo que estariam "a seis jornadas" do sítio em que se encontravam e que teriam 300 aldeias ou mais, com "quinhentos ou oitocentos casais" cada: "Aqui acabam-se as flechas furadas perigosas e, ainda que as haja por todo o rio, não matam como as do Sul", escreveu.
A documentação sobre este conquistador do Brasil é esparsa. "Em Portugal pouca coisa há", diz Anete Costa Ferreira, lembrando que o historiador Jaime Cortesão (também de Cantanhede) apresentou no IV Congresso de História Nacional no Brasil, em 1949, O significado da expedição de Pedro Teixeira à luz de novos documentos. Em 2002 foi realizado o documentário Curiua-Catu: A Grande Expedição de Pedro Teixeira 1637-1639, realizado por Carlos Barreto.
A “PT - Portugal Telecom” associou-se à homenagem no Senado Brasileiro, lançando o Prémio Pedro Teixeira para estudantes portugueses e brasileiros, dos 12 aos 18 anos. Os três melhores trabalhos sobre a vida e o impacto dos feitos de Teixeira na história de Portugal e do Brasil irão ter como prémio uma viagem cultural ao Brasil (se forem portugueses) ou a Portugal (se forem brasileiros). Será ainda lançado um site em português e inglês dedicado a perpetuar a memória deste grande explorador português.
Segundo consta, os Índios de Belém do Pará ainda hoje recordam e veneram Pedro Teixeira.
Quem pretender mais informação sobre “Curiá-Catu”, pode obtê-las através do seguinte link:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/amazonia/pedro-teixeira.php.
Jorge da Paz Rodrigues
15-12-2009
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