(Amândio Silva no uso da palavra)
(assistência)
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(Santiago Naud, João Ferreira e Lúcia Helena Alves de Sá)
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Texto lido na sessão:
A Língua Portuguesa originou-se na região de Galiza, primeiro berço do Português, é falada atualmente em países como Portugal, Brasil, Timor-Leste, Cabo-Verde, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, além de regiões da Índia e da China. A larga abrangência desse idioma proporcionou a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 17 de julho de 1996. E as referências à sua fundamentação, acadêmicas ou oficiais, devem citar a personalidade de Agostinho da Silva, apoiada, entre outros, por José Aparecido de Oliveira, ex-embaixador do Brasil em Portugal, que conclamou os países de Língua Portuguesa à formação da Comunidade.
A CPLP coloca em evidência que a lusofonia é a marca de uma atitude, voltada para a tolerância e para o convívio aberto entre os povos, conferindo a cada um deles identidade própria em consonância com as suas legítimas aspirações. Tem sido promotora das relações amistosas e equânimes entre os Estados-membros da Comunidade que, mantendo e promovendo, por meio da Língua Portuguesa, a identidade cultural dos sócios, contribui para que o amálgama da globalização e seus elementos culturais exógenos não empobreçam e fragilizem as potencialidades culturais de portugueses, timorenses, africanos e brasileiros. Ademais, a CPLP deve manter-se mais operante, pragmática no mundo da lusofonia a um contexto que a leve a avançar mais na cena internacional, valorizando a Língua Portuguesa e as reformas a ela pertinentes — para melhor traduzir-se em qualidade de vida e asseveração da dignidade humana — e creditando, sobretudo, diálogo e cooperação para que os seus sócios encontrem suas afirmações soberanas, “[...] elevando o orgulho de [seus] povos com suas origens culturais [...].”1, porque só assim poderão compartir de interesses comuns e precisos nas áreas econômica, social, política, educacional e ambiental.
Hoje, neste breve evento da “Convergência da Língua Portuguesa”, o pensamento de Agostinho da Silva faz-se presente em palavras e em ação. Ação que corresponde ao respeito às diferenças e ao diálogo fraterno entre as pessoas que aqui estão, unidas pela mesma máter cultural.
Durante os 25 anos vividos no Brasil, o professor Agostinho da Silva fundou vários centros de estudos, entre eles, o Centro de Estudos Africanos, na Universidade Federal da Bahia em 1950, iniciando o estudo da história e da cultura africanas, visto que se partia da noção zero de que ninguém sabia realmente coisa alguma do continente africano. Foi a primeira vez que uma Universidade no Brasil tinha consigo a comunidade negra da Bahia chamada “[...] para discutir assuntos universitários, para dar, por exemplo, a sua opinião sobre a maneira como a Universidade deve comportar-se face à sociedade.”2.
A propósito e sob uma prerrogativa humanista, Brasília, a capital da esperança, deveria melhor entender a África — as línguas africanas as tradições de seus povos pertencentes a tribos diversas, o papel dos africanos nas sociedades domésticas e nas relações políticas e econômicas, a mentalidade e os costumes do homem negro — antes que suas características se percam face à premissa da democracia racial revelada um mito ou ao desconhecimento acerca da história e da realidade contemporânea dos países africanos de Língua Portuguesa.
E perspectivando sempre uma melhor Futura-Idade para o mundo da lusofonia como idealizou Agostinho da Silva em seus projetos pedagógicos, precisamos transmitir aos mais jovens os arquétipos implícitos do humano que pouco circulam e não impressionam mais. Ou, mais grave ainda, são tomados ao preconceito e à intolerância. “Ilusão ou realidade, o passado se afasta vertiginosamente e desaparece. Por sua vez, a perda do passado provoca fatalmente a perda do futuro.”3.
É necessária a fundamentação Histórica, Antropológica, Sociológica e Filosófica para se estudar África, bem como toda a cultura de Língua Portuguesa, para que possamos assegurar a memória dos povos que compõem a CPLP, reinventando tudo o que lhes garanta a existência fraterna e igualitária. Esta foi a tarefa de Agostinho da Silva cuja práxis pedagógica, extremamente interessada por divulgações culturais diversas, selou, no Brasil, a perpetuação de nossas raízes históricas. Aliás, raízes cativas, por um lado, ao legado cultural africano — com reflexos na conformação musical, religiosa e gastronômica, tornando as relações com o continente africano algo natural — e, por outro, à grei portuguesa — aquela que traz em si a marca da memória da aventura em ilíadas ou odisseias terras inexploradas.
Além de África, Agostinho da Silva também valorizou o Timor-Leste, os timorenses que têm “[...] um gosto, um respeito pela Língua Portuguesa e por Portugal no aspecto até religioso. O Timor-Leste tem um estatuto naturalmente diferente: povo de uma amizade inolvidável. A cultura e a história desse povo, que ontem festejou 10 anos de restauração da Independência, está guardada por seus escritores ainda desconhecidos no cenário brasileiro e que devem ser logo apreciados. Os escritores timorenses Luís Cardoso e Domingos de Sousa são referências na prosa. Relativamente à poesia, apontamos Fernando Sylvan e o próprio Xanana Gusmão.
Deve-se, também, a Agostinho da Silva a fundação do Centro Brasileiro de Estudos Portugueses, à época da inauguração da Universidade de Brasília, cujo imenso e vário acervo bibliográfico deve ser resgatado o quanto antes e dado a conhecer à comunidade em geral. E já que Agostinho da Silva foi um dos idealizadores do projeto da Universidade de Brasília, essa Instituição não pode ficar à margem da “Convergência da Língua Portuguesa”.