A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A queda do muro de Berlim - II

Nesse ano de 1989 comemoraram-se os duzentos anos da Revolução Francesa. Era lógico que a queda do muro não tivesse servido apenas para dar credibilidade ao terceiro segredo de Fátima, como aliás, serviu para alimentar todos os mitemas ligados à presença da Razão na História, todos os providencialismos se viram, de novo, no centro da apercepção colectiva do mundo, desde o universo político-religioso à constelação semântica que liga a Coca-Cola ao western way of life. O marco histórico e as marcas sem história juntam-se numa mesma bola de cristal mediática para anunciar o advento duma nova era globalizada.

No dia em que o muro caiu, tinham-se passado quase quatro meses da pomposa celebração dos duzentos anos da Revolução. A presidir às cerimónias, um François Miterrand que se assumia como herdeiro do espírito das Luzes e que se preparava para se manter no poder ocultando o seu estado de saúde ao eleitorado francês. Talvez por uma razão de pouca monta, a polémica, visto que o consulado presidencial não se terá degradado à medida que o cancro minava o corpo do habitante do Eliseu.

A queda do muro não pôde deixar de ser vista sob o prima do revivalismo neo-iluminista – a França emergirá das cinzas da velha ordem geo-política como uma potência mundial? No fundo, a constituição americana foi a primeira realização dos ideais iluministas e foi esse triunfo da Razão sobre a tirania que deu ânimo ao povo que cercou a Bastilha e derrubou o mais simbólico bastião do Ancien Régime. Miterrand propunha-se refundar a República e esse seu intento ganhou novo ânimo perante o colapso do Pacto de Varsóvia: a Revolução Russa assumira-se como a autêntica Revolução, a verdadeira entrada no Milénio transmutador do mundo – o fim definitivo da opressão, a derrota do capitalismo, o advento do Homem Novo. Na ressaca do estertor desta alucinação transcontinental, ficavam de novo no imenso terreiro da História os velhos campeões da Razão emancipadora. O espectro de Robespierre era elevado ao estatuto da mais diáfana angelologia. A hollywoodesca encenação do poder montada pela administração Reagan, vê-se vitoriosa, mas isso não será assim tão linear: sem o maniqueísmo geo-estratégico os pratos da balança do equilíbrio de forças a nível planetário deixam de ter um ponto de apoio insofismável e, dessa forma, acontece a ruína do sonho do Armagedeão, omnipresente no discurso político americano, muito marcado pela escatologia da Convenção Baptista do Sul, a mesma que se tornou num viveiro de presidentes, tanto do lado republicano, como democrata.

A França, após este breve apogeu, viu-se ressequida pela sua esterilidade política, a sua incapacidade de se apresentar como uma sociedade mais humana e mais fraterna. O triste episódio do atentado contra o Rainbow Warrior , em 1985, afinal não era um caso isolado, mas uma marca indelével duma visão geopolítica destinada ao fracasso.

E é neste clima que no final de 1989, pouco tempo depois da queda do muro, assisti, num dos auditórios da Faculdade de Letras, a um ciclo de conferências, promovido pelo Departamento de Línguas Germânicas, subordinado ao tema do impacto da Revolução Francesa na cultura alemã no final do século XVIII. Lembro-me das intervenções dos professores Barata Moura e Eduardo Chitas, o tema da Aufhlarung visto à luz da obra de Feuerbach e da formação do jovem Marx, intervenções de grande erudição, como seria de esperar, mas, durante o período de debate, já todos se preparavam para o fim da sessão, a intervenção de Eduardo Chitas tinha sido demasiado minuciosa e, por isso, cansativa, um membro do auditório dispara uma pergunta-clarão: «Como vê, professor Eduardo Chitas, o desenrolar dos acontecimentos na sequência da queda do Muro de Berlim? O que será das Alemanhas? Não acha irónico que este acontecimento se dê no ano de 1989, precisamente 200 anos após 1789?».

Após uns momentos de hesitação, mostrando desconforto, o meu professor de Filosofia Social e Política disse que estava à espera de correspondência de colegas e amigos seus da RDA (nessa altura o e-mail era algo ainda inimaginável), pelo que não tinha ainda notícias credíveis sobre o que se estava realmente a passar, mas que via grande interesse num problema pouco abordado pelos media: até que ponto se teria consolidado, na RDA, um sentimento nacional? Poderiam as quatro décadas de esforços educativos da população da Alemanha de Leste ter resultado na constituição duma nova nação, não assimilável pela outra Alemanha?

Quando enquadramos o mundo numa esquadria rígida de preconceitos antropo-ego-logo-látricos (irra!), quando consideramos que os indivíduos e os povos são moldáveis de acordo com interesses extrínsecos e desligados da vida espiritual, o internacionalismo e o nacionalismo são moedas cunhadas numa mesma liga e com o mesmo valor.

Quando, no fundo, há só uma coisa que não pode ser esquecida: nada distingue os humanos dos humanos – todos os homens têm a mesma dignidade e a psicologia é sempre relativa aos humanos (falar de psicologia dos povos é dar torresmos a uma quimera) – e poucos traços essenciais caracterizam o ser humano: todos almejamos à felicidade, todos precisamos de consideração, todos partilhamos das mesmas necessidades básicas, todos temos os mesmos direitos, todos somos cidadãos dum mesmo mundo.

Escusado será, portanto, perguntar se os Esquimós fazem parte da lusofonia… A luz clara da mente ilumina, a partir de dentro, todos os homens. A cultura da Luz não tem fronteiras, limites, herdeiros ou deserdados.

(Continua...)

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