
Bram Van Velde, Sans titre, 1936/1941
Guache sobre cartão, 125,8 x 75,8 cm
Doação de Samuel Beckett, 1982
Centro Georges Pompidou
(imagem do Google)
Pintar é acercar-se do nada. Pinto a impossibilidade de pintar. [...] o importante é não ser nada[...]. A Pintura é um olho cego que continua a ver, que vê o que o cega [...]. Para ser autêntico é necessário submergir-se, tocar o fundo [...]. Dizer o nada [...]. Não ser nada, simplesmente nada [...]. A arte é um esforço para o impossível, o desconhecido [...]. É necessário tratar de ver onde ver já não é possível ou onde já não há visibilidade [...]. Não assino as minhas telas. Não se pode pôr um nome no que ultrapassa o indivíduo [...]. Para chegar a certo algo, é necessário não ser nada [...]. Importa avançar sem saber nada, inclusive sem saber aonde se vai [...]. Tal é o que me permite fazer visível o invisível [...]. A pintura é o abismar-se, a imersão [...]. Quanto mais se está perdido, mais se é empurrado para a raiz, a profundidade [...]. O que sai de mim é sempre desconhecido. Tal é a razão de viver neste perpétuo assombro [...]. É terrivelmente difícil aproximar-se do nada.
- Charles Juliet, Rencontres avec Bram van Velde, Fata Morgana, 1978.
3 comentários:
Fabuloso!
A cegueira assemelha-se ao mutismo essencial que é a trágica origem da música.
Também há disso na fotografia. Tenho um amigo cego que gosta de fotografar.
:)
Também há cegos que vêem. Outros que o imaginam.
Cegos são vocês, que nem vêem onde estão!... Uns cegos dum modo, outros doutro, todos se arrastam mutuamente para o abismo.
Na verdade já lá estão e ao espernear convulsivo, de pernas e braços entrelaçados, chamam cultura e vida!...
Pobrezinhos...
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