A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 8 de novembro de 2009

ESTRADA NACIONAL 103 - O CRIME...

(CONTINUAÇÃO)

Passada esta longa ausência vamos hoje dar seguimento à história, num registo livre de humor, esse, fica para o final. Para já, é necessário pegar no último parágrafo do texto anterior e tentar perceber que aconteceu ao típico casal de classe média da Rinchoa que, a altas horas em direcção à terra após uma chamada da “velha”, se depara com um corpo morto no meio da estrada. Vamos apenas levantar a ponta do véu… dado ser mais excitante, vamos lá começar a despir a história aos poucos em vez de a destapar de uma vez só…
- Tás parva mulher? Contorno o quê? Contorno e vamos pelo barranco abaixo que o espaço é curto! Estúpida! Fosses tu um fósforo e chegava-te o lume para alumiar a estrada… tá calada e…cala-te!
De pistola em punho saiu do carro e avançou, receoso, um par de metros e de repente…
- Não acredito!
Lá de dentro, estirada sobre o tablier com a fronha colada no vidro a mulher guinchava:
-Que é homem? Diz lá! O que é?
- É um corpo!... É um homem… E parece morto! - Disse enquanto espreitava para o barranco.De repente… arregalou o olhar… ao fundo, a alta velocidade…

MEIA HORA ANTES…

Sob o mesmo céu estrelado, sem mácula de nuvens, com uma luazinha cheia de cumplicidade, só a respiração pesada e ofegante dos dois homens em corrida desenfreada cortava o silêncio de morte naquela mata densa e traiçoeira. Experimentavam o terror puro e absoluto lapidado no pânico de que a sua corrida vertiginosa não lhes evitasse a morte. Perto, cada vez mais perto, sentiam os latidos dos cães e dos outros dois homens que os perseguiam, longe, cada vez mais longe, esfumava-se o declive junto à estrada nacional, sua única hipótese de escapar com vida naquela terra ensopada e cheia de ratoeiras.
Do bafo gélido e esparso do homem que seguia na frente sairam-lhe as últimas frases que conseguira articular:
- Só mais um esforço…arf, arf… Acolá, onde estão aqueles dois carvalhos, há um declive e depois a estrada nacional… arf, arf… Se chegarmos à estrada estamos safos… a seguir é uma ribanceira lisa, lisinha é so escorregar até ao rio… Corre… se nos apanham matam-nos… Corre caraças!
O outro ainda balbuciara qualquer coisa entaramelada no meio da espuminha a escorrer pelo canto da boca e deixara-se cair exausto.Preparava-se para voltar à corrida, mas num ápice foram alcançados pelos dois perseguidores de camuflado, caçadeira em punho e muita raiva nas palavras, acompanhados dos cães.Um indivíduo alto e entroncado estacou e, apontando-lhe a caçadeira, perguntou-lhe de chofre:
- O dinheiro? Onde está o dinheiro? Dá-mo já!
O homem só pensava na ribanceira lisa, lisinha que os levaria até ao rio, mas estendendo a mão direita atirou-lhe aos pés um volumoso saco de plástico cheio de notas. É então que o atirador repara no outro caído no chão. Reconhecera-lhe as feições, o seu amigo Chico duma infancia feliz e longínqua e do dia em que, sem saber nadar, caíra no poço e quase morrera afogado não fosse a pronta intervenção do amigo estendendo-lhe um pequeno tronco para o ajudar a sair.
- Eu não tenho nada a ver com isto, não fiz nada! Juro! Foi ele – Apontando o companheiro com a mão a tremer.- Raspa-ta! Ordenou-lhe o atirador – Raspa-te! E Oxalá eu não me arrependa…
O indivíduo levantara-se a custo, embora receoso de ser abatido pelas costas não se fizera rogado e ante tal benesse nem olhou para trás… Já mais recomposto , estugou o passo e embrenhou-se no emaranhado de arbustos e ramos rasteiros.
O atirador virou-se então para o indivíduo que levava o dinheiro:
- Quanto a ti… Vais arrepender-te aqui e explicar-te lá em cima - Disse apontando com o queixo para o céu.
Aterrorizado, o homem começou a cambalear às arrecuas implorando que o deixasse ir também… Que nunca mais o veria… A chumbada fora certeiramente fatal no peito. Com o embate, o homem rodopiou e, estando já à beira do declive, rebolou pela encosta abaixo só estacando no meio da estrada.
- Merda! - Pragejou o companheiro - Isto vai dar raia!
- Agora já está… - Ripostou o atirador…

Lá do alto avistaram a 4L que se aproximava…

- Vamos, vem lá um carro…
- E se o outro dá com a língua nos dentes?
- Agora já não há nada a fazer… Vá, vamos…
- Deixaste-o ir embora pá!- Pois… Logo quem havia de dizer… Coicidências dum raio, o gajo salvou-me a vida em miúdo…
- Tá bem, tá bem… Só espero que ele desapareça e não dê com a língua nos dentes… Tens o dinheiro?
- Sim… - Disse-lhe exibindo o saco na sua mão - De caçadeira ao ombro afastaram-se dali.

ENTRETANTO NA ESTRADA…

O homem ainda contemplava com espanto animal o corpo morto à sua frente, quando, num repente, se lhe arregalaram os olhos…
Só me faltava mais esta, disse para com os seus botões, ante a visão do carro da brigada de trânsito da GNR de cujo interior acabavam de sair dois agentes.Os homens vinham para o autuar pela falta da luz de presença traseira, mas ao sair do carro, de imediato, lhe deram voz de prisão. No meio da confusão o condutor esquecera-se que tinha a pistola na mão. Coincidência dum raio… Ter-se esquecido de que ainda empunhava a pistola. Bom ou mau pagador, o certo é que não lhe aceitaram desculpas ou justificações. Dentro do carro, a mulher não resistira a tanta emoção mais forte que a novela das oito e desmaiara. De repente, quando os guardas se preparavam para algemá-lo, vindo dos arbustos junto à valeta, do lado esquerdo da estrada, surgiu aquele a quem os dois perseguidores tinham poupado a vida. Demasiado exausto e cambaleante, sucumbira ao remorso e ao pragmatismo duro da realidade, sem forças, cheio de sede, arranhado e ensanguentado das silvas, o homem decidira entregar-se…
O cabo da GNR, confuso e irado, mais habituado a controlar rixas de bêbedos e zaragatas de futebol distrital que à contabilização daquela meada pródiga em pontas soltas, não se conteve:
- Ora bem… Um chaço sem luz traseira, um morto na estrada, um condutor de pistola na mão e um maltrapilho a dizer que se entrega, mas que raio de história vem a ser esta? Alguém é capaz de me explicar o que se passa aqui?

- Eu… Posso explicar… - Disse o maltrapilho…

(CONTINUA - O próximo episódio “ Estrada Nacional 103 – O regresso” será o último ficando, desde já, assegurado um regresso ao humor e sarcasmo e um final… inesperado…)

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