Num lugar que só existe na linguagem, juntaram-se uns senhores e umas senhoras que queriam ser sábios como os anjos, e começaram a bater as asas. Se a sabedoria não aumentasse, pelo menos refrescavam-se, e o refresco facilmente o confundiam com bondade. Se faziam bem uns aos outros, como não poderiam ser bondosos? até porque conheciam muitas orações e entretinham-se com coisas úteis, como versos, quadros, grandes pensamentos e até conseguiam deixar de respirar para poupar oxigénio, não para sempre, claro, mas o tempo suficiente para se sentirem a poupar o planeta.
A sua felicidade era perfeita, nesse lugar da linguagem que já teve muitos nomes, o que só provava que a eternidade se renova. Sentiam-se em paz, viviam na fraternidade e no silêncio, mas eis que um dia a palavra mosca pousou na palavra paz, e depois na palavra silêncio, e depois na palavra deus, fazendo por todo o lado um zumbido insuportável. Não podendo matar a mosca, porque tinham banido todos os conceitos violentos, acabaram a devorar os nomes uns dos outros, o tear de linguagem rasgou-se, e se não morreram foi só porque ainda existiam num qualquer lugar banal, fora da linguagem, entre o despertador e o tráfego da cidade.
1 comentário:
Real life...
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