A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

ESCUTAS DO SIS? - OU A NOVA TESE DO MITO SEBASTIÂNICO

Cruzaram-se num passeio estreitamente vesgo, entalado entre paredes decoradas a graffitis e carros ordeiramente semeados em segunda fila. Iluminou-se-lhes o semblante num sorriso rasgado a lâmpadas de cem velas quando se reconheceram de abraço estendido, comum e imediato. Refastelados numa esplanada de má morte (que a boa andava na companhia de santos de pagela) estenderam o rol de recordações desde os tempos de faculdade.Esfomeada, a curiosidade, disparou perguntas a eito de parte a parte, o tempo era escasso e curto, mas com tecido suficiente para dois, três ou quatro dedos de conversa. Conversaram uma mão inteira! Madame esferovite, a quem o cognome assentava que nem uma luva pela tamanha frieza, palidez , arrepios e desfalque sucessivo e constante nos mais elementares padrões estéticos, dissecava até à exaustão o mito sebastiânico espraiando-se por kilómetros de aulas áridas e recheadas de absentismo, na cadeira de Cultura Portuguesa. Filha única, marrona por natureza e inteligente por benção divina, devotava a sua vida a extirpar a ferrugem mental aos néscios que lhe caíam no regaço. Desta feita, os três estarolas que subtilmente lhe boicotavam as aulas, embora não se catalogassem na referida categoria passeavam, amiúde, pelos limites da desfaçatez e despreocupação. Intelectuais de algibeira traziam nos fundilhos das calças, uma amálgama de conhecimentos assente em manuais de alfarrabista , novidades do quotidiano e dicas do Reader’s Digest. A piada surgia a despropósito e com uma celeridade estonteante. Ficara célebre a intervenção do escriba após uma (mais uma) extensa dissertação da Madame esferovite sobre o mito de D.sebastão. Enumerara ela numa ode triunfal e numa complicada equação matemática assente no logaritmo “por A+B”, que o mito se baseava no regresso do Desejado numa madugada de nevoeiro trazendo, a tiracolo, a salvação e que, por si só, a crença no seu regresso era o leit motiv para muita temática literária e para que o Povo não perdesse a esperança no regresso de uma liderança forte, una e que fomentasse a coesão e o desenvolvimento da identidade nacional. Assente nesses pressupostos, o escriba , num misto de sarcasmo e ironia despejara com um sorriso infantil:
- Então estamos safos! - Por entre a risota geral e o enfado furibundo da professora, choveu nova prelecção alertando para o facto de se tratar de um mito e que o povo português deveria canalizar as suas energias, as sua crenças e a sua vontade de mudar o rumo do país para as qualidades e capacidade de trabalho, honestidade e liderança da classe política portuguesa. Face à derrocada dos seus argumentos e desiludido com o peso da prelecção, a resposta não se fez esperar, desta vez mais contundente:
- Então… Estamos fodidos!As semanas seguintes seriam passadas num mutismo total e numa clausura forçada no canto da sala. Lá mais para o final do ano lectivo, um dos estarolas, que embora tivesse cérebro, a massa encefálica, muitas vezes ausentava-se para parte incerta, era filho-de-uma-doméstica-que-tinha-um-primo-que-era-amigo-do-cunhado-dum-doutor-vizinho-dum-professor-universitário-ligado-ao-centro-de-estudos-judiciários-que-tinha-sabido-que-ia-abrir-um-concurso-para-agentes-do-SIS, tinha avisado o grupo para a oportunidade de arranjar um tacho no estado. Lá foram os três estarolas a concurso, provas, testes psicotécnicos e outros exercícios de perícia dignos de cromos da bola. Mal chegaram à velhinha sede do SIS na Alexandre Herculano, quando subiram ao primeiro andar, acompanhados por um esbirro, onde se iria fazer uma prova escrita, o escriba empalideceu… Estava envelhecido, levemente corcunda e sem cabelo, mas os seus passos não deixavam margem nem rio para dúvidas: aquele som que vinte anos depois lhe recordara o terror da mãe sempre que ele entrava no prédio… Era o “Botas”!! Sim! Esse mesmo daquela história de agentes da pide contada há uns meses atrás!! Perdera a tesão toda! Foda-se! Triste democracia que vai buscar os seus algozes para lhe ensinar a defesa do traseiro. Declinou o convite, rasurou a prova e desceu em direcção à porta de saída acompanhado pelo esbirro. Formado em letras por opção e algarismos por necessidade, aceitara um lugar discreto, limpo e bem remunerado numa instituição bancária.Os outros dois estarolas acabaram por ficar. Um como perito de logística de segunda classe, dedicando-se alegremente à montagem de aparelhos de escuta nas redondezas das zonas-alvo, o outro como operacional, entretendo-se na recolha e tratamento de informação de rua. Submetera-se a concurso interno para técnico de análise de informação, mas uma-estagiária-que-era-prima-de-um-assssor-de-um-secretário-de-estado-que-era-boa-todos-os-dias-e-com-umas-mamas-descomunais-e-fazia-repetidamente-serões-com-o-inspector-cordenador, acabara por ficar com o lugar…Estava saturado, entre as vigílias aos professores e as escutas aos sindicalistas, pouco sobrava de resquício terrorista para investigar. A menos que Bin Laden se acoitasse na C+S de Sobral de Monte Agraço ou no seu célebre parque infantil, de atentado nem cheiro, só o demente e quotidiano rol de fugas de informação para a imprensa fomentado pelos serviços secretos militares.A conversa é como as cerejas … E os caroços, muitos, já se espalhavam pela calçada. Das recordações e desabafos regressavam agora, sem vontade, à realidade do presente do indicativo pensando em tempos pretéritos e temendo pelos futuros. Sem certezas clínicas de futuros reencontros, despediram-se com uma tese comungada por ambos: Entre o Pai Natal e o D.Sebastião, não restavam grandes esperanças aos portugueses… Um era apenas figura decorativa de calendário de Coca-Cola, o outro...nunca regressaria na tal ansiada madrugada, antes pelo contrário, foram os portugueses que se tinham enfiado, de borco, no lodaçal pantanoso, num entardecer de nevoeiro, na companhia dos cavaleiros do apocalipse embrulhados em fatinhos Armani...
P.S. Dado que “Eles” até andam a ler blogues… antes que venha o D. Sebastião travestido de processo… é melhor dizer que isto é ficção,… Não é?

2 comentários:

José Pires F. disse...

Pois… ficção…

Está muito bem escrito. Gostei.

Unknown disse...

Obrigado! Digamos que é uma ficção rés-vés realidade...