A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

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terça-feira, 1 de setembro de 2009

POLÓNIA, PAÍS GÉMEO DE PORTUGAL NA EUROPA

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José Eduardo Franco

Se Portugal é o país mais antigo do ocidente europeu com os seus contornos fronteiriços definidos de forma significativamente estável desde há cerca de 800 anos, a Polónia é dos países mais remotos da Europa norte-oriental. A sua fundação como reino aconteceu antes do ano mil pelo rei Mieszko I, da dinastia dos Piast e chefe dos Polanas, convertido ao cristianismo em 966, data que assinala simbolicamente o nascimento da Polónia como estado e nação cristã.
A Polónia é um país fascinante que, enquanto nação, apresenta traços identitários, auto-conceitos, matizes de psicologia colectiva, expressões espirituais e religiosas que o fazem uma espécie de irmão gémeo de Portugal em alguns aspectos surpreendentes.
De acordo com os nossos estudos sobre as culturas nacionais, uma nação para o ser completamente precisa de ter desenvolvido, no processo de elaboração cultural do seu auto-conceito enquanto nação, um processo quadridimensional de mitificação. Primeiro, a idealização do mito das origens da nação, a narração encomiástica de uma epopeia, a exaltação de uma idade de ouro gloriosa e a concepção de uma utopia, isto é, de uma escatologia enquanto sentido último da missão do povo singular na história da humanidade.
Tanto Portugal como a Polónia operaram culturalmente este processo de mitificação completo, enquanto modo de dar um cunho transcendente à suas identidades nacionais, radicando a sua fundação, o seu percurso histórico e a sua teleologia em fundamentos sobre-humanos.
Neste sentido, a Polónia e Portugal são em muitos traços significativos povos irmãos, e mais do que simples irmãos, irmãos gémeos.
Em termos de auto-conceito nacional, tanto a Polónia como Portugal inscrevem as suas origens num acto fundacional superior - por vontade divina. Esse acto fundacional que determinou a superioridade, nobreza e primazia dos seus povos em relação a todos os outros da cristandade, permitiram-lhes considerarem-se, especialmente a partir do século XVI, os povos eleitos da cristandade, da Nova Aliança celebrada em Cristo. A modernidade, de facto, foi de facto marcada pela afirmação das nacionalidades europeias derivadas da fragmentação do império romana em senhorios e reinos que marcaram a configuração social da cristandade medieval. Neste quadro, várias nações europeias, de modo a valorizar a sua distinção identitária, procuraram reivindicar para si o estatuto de povo eleito da Nova Aliança, de Novo Israel.
Portugal e a Polónia foram daqueles povos europeus que mais intensamente reivindicaram esse estatuto com base na ideia da sua fundação divina e do seu destino ao serviço da defesa e universalização do cristianismo.
A Polónia situada num epicentro conflitual da Europa, fronteira, enclave, ponte e ao mesmo tempo muralha entre a Europa Católica e a Europa Ortodoxa, mais tarde, a partir das divisões religiosas de quinhentos, torna-se o baluarte católico encaixado no centro da Europa assumindo a defesa do catolicismo frente aos ortodoxos, aos vários protestantismos e à ameaça islâmica consubstanciada na ascensão do império Turco que ameaçava atingir o coração do continente cristão.
Assim sendo, a Polónia concebe-se como “Apóstolo das Nações” e “antemural da cristandade”, configurando a sua identidade nacional na resistência católica a todas as tentativas de invasão e absorção protestante, sendo ao mesmo tempo chamada a participar na defesa da Europa contra a os Turcos. Da Polónia, primeiro país da Europa - onde pela primeira vez se ensaiou a democracia entre os nobres, que eram de facto primus inter pares perante o rei, e pela acção concertada da sua nobreza auto-considerada superior - partiria o movimento de restauração e universalização do cristianismo na versão católica inviolada.
Do mesmo modo, Portugal, no dealbar da Modernidade, concebeu-se como o povo encarregado pelos Céus para realizar o mandato de Cristo em vista da universalização do Evangelho, mas também para converter o infiel muçulmano com quem vinha lutando deste o início da sua fundação. No âmbito dos Descobrimentos portugueses, o nosso país exaltou-se a si mesmo pela voz dos seus melhores poetas e cronistas como o “Apóstolo das nações” e o “povo eleito” dos tempos novos que iria inaugurar uma nova era de paz e felicidade sob a égide da doutrina cristã anunciada e vivida em todo o planeta. Este ideário elabora-se doutrinalmente na utopia do Quinto Império e tem como grande teórico desta idealização o Padre António Vieira.
Auto-concebida como a Luz das Nações, a Polónia tinha a terra, a grande terra europeia, para iluminar com facho do catolicismo e Portugal tinha o mar para descobrir e levar a doutrina cristã aos gentios.
Disputados por países vizinhos e, por vezes, por eles dominados, assim a Polónia como Portugal consideram-se na sua mitologia identitária como povos especiais, guiados providencialmente por Deus para realizar uma missão única no mundo. E por isso invejados e disputados, desde as suas origens, pelos reinos vizinhos de quem tiveram constantemente que se defender e afirmar o seu ideal religioso mesmo até ao martírio.
Mercê das experiências trágicas da sua história, Portugal e Polónia têm também em comum o facto de terem desenvolvido um messianismo nacionalista. Em Portugal tal corrente de profetismo nacional chamou-se sebastianismo e na Polónia sarmatismo. Nomes diferentes para expectativas semelhantes: a esperança na vinda de um rei restaurador da grandeza da nação.
Outro aspecto que faz destes povos muito semelhantes é, dentro do seu catolicismo configurador de identidade, a sua espiritualidade mariana. A devoção e consagração enquanto povo a Nossa Senhora assumem igual importância tanto em Portugal como na Polónia. Ambas as nações têm na Virgem a sua fiel protectora como demonstra a sua história de actos oficiais de consagração e reconhecimento, bem como os seus importantes santuários que têm atraído intensas peregrinações durante séculos.
Esta estreita parentalidade cultural entre os dois países talvez explique a visão quase mítica que a Polónia desenvolveu a partir do período do romantismo em relação a Portugal. Portugal passou a partir do século XIX, por parte de certa literatura polaca, como o lugar ameno, ideal para viver do extremo ocidente da Europa. As descrições conceptuais de Portugal nessa literatura polaca desenvolveram uma ideia ideal do nosso país, como o país-paraíso, rústico, inviolado pelas ideias subversivas e pelo progresso deteriorador das tradições, o país do sol, da praia, do mar, do clima agradável, onde qualquer polaco desejaria repousar. Expressão recente desse processo de mitificação de Portugal é a produção cinematográfica húngaro-polaca do filme intitulado “O mito de Portugal”.
As surpreendentes semelhanças culturais e espirituais que configuram matizes gémeas da psicologia colectivas, não estará na base também no fascínio manifestado pelo Papa polaco João Paulo II por Portugal? De facto, Karol Wojtyla nas suas três visitas ao nosso país contribuiu para revelar as similitudes “genéticas” destas duas nações católicas. Com efeito, o Papa aproximou estes dois países tão distantes geograficamente e tão próximos culturalmente. Hoje quem visita a Polónia sente que, no quadro da União Europeu, o intercâmbio está a acentuar-se vertiginosamente com Portugal.
Não só no plano económico bem expresso no interesse das nossas empresas no mercado polaco, mas também no plano universitário onde se encontram centenas de polacos a estudar a nossa língua e o mesmo acontecendo em Portugal em sentido inverso. Até mesmo no plano das relações afectivas é sabido que, na Europa, a Polónia é um dos países que Portugal regista mais casamentos entre os seus cidadãos.
Esta não será uma prova bem real de que a geminação cultural facilita imenso outras geminações, como está a acontecer a passos largos entre Portugal e a Polónia?

7 comentários:

Edson Pelé disse...

Esse artigo é do melhor que tenho lido, minhas felicitações ao autor.

Rasputine disse...

Duas nações, o mesmo erro.

Rogério Maciel disse...

Obrigado Renato pelo artigo . Muito interessante . Não tinha ainda pensado nisso , ou seja , nunca tinha pensado na Polónia nessa perspectiva ... é bem provável que seja assim mesmo .
Vou começaer a olhar a Polónia sob um diferente ângulo , talvez mais abrangente , de certeza , mais profundo .
Rogério

Renato Epifânio disse...

Passando por cima do comentário palerma do costume, queria apenas salientar que o texto é do José Eduardo Franco.

Rasputine disse...

Gosto muito de ser palerma. E você, gosta de ser o que é?

Eurico Ribeiro disse...

Só falta referir (em minha opinião) que no caso português a espiritualidade fundadora e que evoluiu num cristianismo muito peculiar, advém de cultos e romarias protoceltas que na maioria dos casos não se destinavam a pedidos e promessas individuais, mas ao conceito de uma protecção Divina para toda a comunidade e a sua união com Ele. Interessante verificar que as Nossas Senhoras vão para além dos tempos imemoriais e são avós por exemplo da Senhora de Avalon em Inglaterra. Vejam-se os exemplos da Nossa Senhora do Cabo (peregrinação que vai do Cabo Espichel ao da Roca e que se faz de 25 em 25 anos...) e a Nossa Senhora da Nazaré que se olharmos com cuidado encontraremos por debaixo das apropriações da Igreja remanescentes de uma espiritualidade muito para alé dos tempos. Atrevo-me mesmo a dizer que a Nossa Senhora do Cabo é algo que nos liga ao abaixamento das aguas de um dilúvio que destruiu a Atlântida à cerca de 10.000 anos atrás...

pmsap disse...

Penso que é um texto muito reducionista e com muitas simplicações teológicas e filosóficas. O Novo Israel é a Igreja Católica... E como católica nenhuma nação se pode julgar o novo Israel a fim de se contradizer a si própria.

Países como Inglaterra se julgaram o novo Israel... Esses sim sem contradição teológica interna... Aliás de alguma foram ainda o julga ser, sendo dos poucos estados europeus confessionais.

Não obstante esse texto tem um certo cabimento. Tudo depende do grau de intensidade das palavras.
Faz lembrar aquela história de dois amigos que conversavam sobre a pimenta. Um dizia que gostava de pouca e outro de muita. No entanto depois de almoçarem juntos chegaram à conclusão que gostavam da pimenta na mesma quantidade. Só tinham referências línguísticas diferentes.