Agradeço a Casimiro Ceivães a semi-envenenadinha pergunta, que deixou "à vol d'oiseau", quase no final duma sua nota algures por aqui, assim como quem não quer nada... Aprecio a subtileza, e a insubtileza também. Há quem o não aprecie, e não me aprecie, talvez por isso. Adiante.
Mas ao contrário porventura de certas almas, que se têm talvez por mais “raras”, por entenderem que as fracturas são menores males no passado mas males maiores no presente, eu entendo o contrário.
Nunca nada saiu, de perdurante, dum consenso. Consenso é sempre isto e só: com-senso. Quase um senso comum. Talvez um lugar-comum, mas raramente um lugar comum a que acorram ou recorram os que têm âncoras, barcas ou destinos comuns, ainda que os mais variegados.
O que daí possa advir é fruto, puro e simples, do conceder acordo nalguma coisa. Ora, nunca estamos de acordo senão naquilo que já nos não importa averiguar ou preservar realmente. Apenas damos por adquirido ou concedido aquilo que é já tido, precisamente, por redondamente consensualizado. É uma espécie de concessão inócua. E por isso, inútil. Por coisa que fala passado, e não presente ou futuro.
Assim sendo, e no que toca ao blog (ente que eu obviamente distingo da revista com o mesmo nome), concordo em que, sendo uma espécie de “caldeirão de opinar” - versão que aqui sugiro para o já relativamente estraçalhado conceito de “think tank” - este blog, dizia eu, pode ser ou vir a ser o que puder ser realmente, como talvez aqui dissesse Agostinho da Silva, com aquele seu verbo redondo aos solavancos.
Que quero eu dizer com isto? Que é mediante a porventura “excessividade de sentenças (…) compatível com a aflitiva escassez de cabeças “, como Casimiro Ceivães tão rigorosa e acutilantemente escreveu, que se faz o ensopado que caldeia as várias águas, profundas e de superfície, e suas contrárias ou afins correntes, para o oceanário da “lusofonagem”, para consonantemente aqui relembrar a vadiagem, que foi palavra e viver com palavra tão exemplarmente caros a Agostinho da Silva.
O ponto é: quem tem hoje a largueza, a altura e a estatura de visão bastantes para fazer tal alquímico cozinhado? E a quem se lhas permite que tenha, com os trucidantes âmbitos e contextos por que se faz hoje cultura e acção de cultivar?
Não é por acaso que não se vê, intervindo em blogs ou locais afins, nem lá se imagina ver, vultos como aqueles “patriarcas” maiores que apadrinham, por exemplo, este projecto da Nova Águia, e que me dispenso aqui de nomear, por temer esquecer algum injustamente.
Estes meios “virtuais”, se são promotores de rapidez, quase instantaneidade, de fluxo comunicacional, são igualmente o preferido covil ou o ninho das mais inconfessadas intenções, acima das quais tais figuras já estão, ou há quem as faça sentir que estão. Estarão?
Dir-se-á que não há bela sem senão, o que é dizer o que La Palisse diria, mas o que seria talvez de dizer é que, por alguma razão bem facilmente discernível, intentam hoje certos poderes controlar não apenas o acesso, mas sobretudo a informação que circula na internet: uma espécie de inquisição que actue de um tal modo que nem necessário seja que ela exista sensivelmente, e outrossim uma espécie de índex que não proíba mas apenas antecipadamente vende o discernimento de quem possa ler, à medida das necessidades de manter bem condicionadas e muito convenientemente controladas as mentes e manobradas as emoções nalguma forma de “matrix” que seja perversamente amada, ainda por cima, pelo maior número. UMa espécie de Alberto João em modelo matrix.
No entanto, há muito quem veja o mundo, a partir da saudosa e indecisa contenção e rude aspereza do Marão, e esqueça no entanto a incerta amurada da Sagres de todo o arrojo e todo o risco, ou esqueça até que também nos mais inesperados e vis lugares está ainda e sempre a beleza do mundo, nem que seja na lágrima duma criança infeliz. Mera questão de olhos e de olhar, vendo.
Como sempre, temos nisto dois extremos: ou acesso totalmente livre à circulação de dados e à informação (ainda que sempre haja limitação ali onde bem sabemos, perto das zonas de poder, e onde ela é porventura mais salvaguarda que restrição) ou o restringi-lo à partida, com base em critérios que obviamente ninguém sabe quais sejam ou devam ser, senão os de quem detém poder e quer indefinidamente alargá-lo. Como sempre, só pensa “defender” alegados direitos dos outros quem intenta controlá-los mais e melhor, por via disso. Nada de novo, aqui.
Quanto ao blog. Voltando.
Não se vá, por via de tudo isto que eu disse - eu não vou, apesar do meu muito pouco facilmente definível posicionar em tudo, que para aqui pouco ou nada interessa, como quiçá interessa nunca -, não se vá, dizia eu, é cair aqui, no blog, nas mais fáceis tentações de passadiço: cair, ou na colectivização dos meios de “lusofonar”, o que seria perda do que se nem chegou a conquistar, ou cair no elitizar os modos de (bem)pensá-la e de (melhor)fazê-la, o que equivaleria a fazê-la nada-morta e coisa sobretudo, como se disse por aqui, e muito bem, “de mera decisão de directório”. Pena seria.
Uma e outra coisa têm de ser suficientemente “elásticas” mas não ecléticas, não elípticas mas dire-se-ia helicoidais, para permitirem essa “caórdica” pulsão/tensão infinda de ser o radicado (ainda que sempre e para sempre insituável) esteio do permanente voo de águia por inóspitas e inexploradas paragens.
Mas, pergunto eu, agora:
Quem, porém, fará descer tais voos à planura, aridez ou crueza da terra de todos ou da “intra-terra” de cada um, a penetrar nela com as unhas longas e fortes do mais penetrante apreender?
Quem, porém, guarda tais perscrutares dum mirar ainda, ou para sempre, demasiado longínquo, quiçá improvável ou improcedente em feitos e factos, para falar juridica e não sei se menos adequadamente?
Quem, porém, conserva intacto o fruto da caça ao alimento de cultura que nutra obra e não despreze sequer os despojos da rapina mais visionária?
Quem se destaca, e, sobretudo, a quem se permite destacar-se, que não seja desde logo trucidado na voragem de todos quererem ser de algum modo aves da rapina de tudo, para tudo de si e para si preservarem intacto, sem jamais a ninguém ocorrer voltar ao ninho da águia, a alimentar as crias deixadas indefesas?
As crias, já se vê, ou talvez já se não veja, não são alguém, são afinal ninguém, visto que são as sementes que, algum dia, em nós lançámos, mas rapidamente, dum modo ou de outro, malbaratámos na ingenerosidade, ou noutra coisa que não houvéramos de ser ou de ter sido, desta quase “lusofagia” em que estaremos porventura a quedar-nos, se não nos precavermos sobretudo contra nós mesmos...
Abraço vasto. A todos.
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286.
Donde vimos, para onde vamos...
Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
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16 comentários:
Você é um dos fakes mais soporíferos que para aqui veio fazer a sua toca. Vou passar a lê-lo ao deitar...
Ah, e registe: eu sei que você é do sexo feminino.
Mas vamos manter o "teatro", não se preocupe, há muito nos habituámos a ter-vos como os bobos deste blogue...
Acrescente a etiqueta: Rastejos da serpente.
Não suporte a publicidade enganosa. Isso não é nada new age...
Ahahaha!
Tinha de ser a Clarissa a desinfeliz "débutante" nos comentários aqui, não é?
(Sempre tão fiel aos seus mais inconfessados "prazeres"...)
Mas diga-me? Será de já não saber pensar senão aos solavancos, mas... pergunto eu: Não podia ter juntado tudo isso num só comentariozinho?
Será do ímpeto... um tanto a modos que destrambelhado e incontível? É mau, isso! Vigie op estômago e as más excreções figadais!
Bem parece que precisa dos tais soporíficos (prefiro esta designação à outra: manias de quem é "comprimido")
Sabe? Poupava bits na blogoesferiCidade, e assim só a vía(mos) uma vez.
Hum!! Cá me parece que faz mas é de propósito! Gosta de aparecer na janelinha, não é? Ok! Já percebi.
Então, vá!
Vamos ao assuntinho: que não chega a ser assunto.
Clarissa 1, Saiba que não me aconchego com quem calha! Mas também não me ofendeu, porque já se o-fendeu a si mesma.
Clarissa 2, Registei! Será?
"C'est peut-être un bon affaire pour Monsieur Poirot": entre um descontraído "café au lait" e uma criteriosa pentiadela no arrebitar do bigodinho.
Clarissa 3, Ah sim? Quem já se houvesse habituado, como diz, aos tais "bobos" (ainda assim prefiro bobos a actores: são mais precisos!) mostraria um mero e simples "desprezo" ou apenas um belíssimo e "superior" silêncio. Ou não?
Conclusão 1: Convite recusado! Não adormeço ninguém, muito pelo contrário: ainda dou, mas é, uns belos pesadelos!
Ademais, não sou "lésbico"!
Conclusão 2: Registei, na mesma! E registei também o que não registou.
Conclusão 3: Não sou lá muito de "teatrinhos", sobretudo com "atrizes" ainda por cima cantadeiras de fado miado!
EsClarissida, minha "amiga"?
"Beijimiaus"...
("No hard feelings"! Acho-lhe piada! Seriamente: "na boa"!)
N.B.
Ups! Ainda fui a tempo!
By Jove! Faltou-me a etiqueta!
Que indelicadeza, a minha!
Mil perdões!
Mas, diga-me, águias dão-se com serpentes?
E com bichanos?
Uff! Mas que arca de Noé, que por aqui vai!
Eu sei, gera desconforto... Olhe, ajeite melhor o penso.
Sim, a "débutante"...
Ou, como disse Lincoln: "Ninguém pode ser um mentiroso perfeito porque nenhum homem tem uma memória assim tão boa."
Vocês não se cansam de levar tau tau? Suspeito...
Gostei do "tau tau"... mas não achei "suspeito".
Hum...?! Suspeito bem que me escapou aqui alguma coisa, ou então suspeito que estou a fazer de conta que isso me escapou...
P.S.
Ah, é verdade! Já mudei o "penso".
Estou apensado e a pensar: você tem piada, Clarissa.
Reformulo: Você tem piada, Clarissa?
E ainda tem sentido de humor, ou só quando não quer mais nada?
Mais uma vez confirmo que devemos sempre mais a quem nos desafia, do que a quem nos dá palmadinhas nas costas.
É o seu caso, e o meu.
Obrigado.
(olhar de águia, nas alturas!)
Ajeite melhor... e indique-nos um post seu neste blogue anterior a Setembro de 2009.
Isso tem alguma relevância?
Vocês recebem aqui alguma coisa em função da antiguidade?
É capaz de não me interessar, isso, sabe?
Mas há sempre a quem interesse!
Mas, a propósito então: onde estaria a minha boa amiga, sei lá, há trinta aninhos atrás? Já rabiscava?
Mas, por outro lado, isso interessará para alguma coisa? Não creio!
Mas, veja. Pelo seu critério, Pessoa, por exemplo (e uns bons outros por aí fora), foi quase inexistente em vida. Foi? Não me parece nada!
Talvez certas meninas, mais ou menos prendadas e com a mania de que são terríveis e sempre melhores que os rapazes na escola (como quiçá a minha amiga, sei lá), e certos meninos sempre muito parvos, mas (bolas!) com uma certa mioleira , ainda que algo "sebenta", quiçá como eu, - talvez umas e outros fossem, em todas as gerações, muito mais inexistentes que qualquer ser relativamente invisível mas muito mais visionário do que meninas e meninos, daqui ou de alhures, lusofalantes ou não.
Tem, porque o seu tom tem sido o de interrogar outros em nome das suas "preocupações" com o MIL, quando esta "coisa" que você interpreta ser recém-chegada aqui.
Acontece que você é a "lusofonia de caixa de comentários", que só por aqui apareceu naquela síndroma infantil "não empresto o carrinho ao meu irmão, prefiro parti-lo".
A sua divagação sobre gerações é um absurdo. Use a argúcia, se tem alguma.
De resto, dialogar consigo é apenas uma acrobacia lúdica em redor da inutilidade.
"Inutilidade": isso responde ao título do post.
A sério? Então este blogue está no verdadeiro caminho da "lusofonia trans-patriótica"...
Damien, li este texto com a atenção que merece - e pareceu-me ler, num comentário mais "acima", que não voltará aqui a escrever. Espero que sejam arrufos de namorado. Deixo só aqui uma nota breve, um destes dias direi mais (não prometo quando).
A pergunta não era semi-envenenadinha, porque de tal não preciso nem é meu costume; a resposta também o não será, porque aquilo que me diz, lido objectivamente, ganha os contornos de um boomerang.
Não digo, note, que a arma o atinja a si - desde logo porque ignoro quem seja, o que num blog se deve convencionar que não interessa nunca, ou pelo menos enquanto seja possível; digo que fico curioso em ver quem, além de mim, o virá aplaudir.
Em muita coisa estou de acordo consigo, e curiosamente por isso mesmo é que parece que comigo discorda. Mas isso levo como contas de outros rosários. Este caldeirão, como certeiramente lhe chama, tem desde que o conheço (quinze meses, creio) sido inundado de condimentos subtis que embotam o paladar a quem não professe as dietas dos cozinheiros; e por isso parece às vezes uma sopa murcha, mesmo que dentro ainda subsista sustento de qualidade. De alquimias digo já que não sei nada, pois sempre me bastou o caldo verde com a sua chouriça.
Tirando isso, e voltando ao blog, diria que a lusofonagem (também lhe picarei esta palavra...), que é individual e única, não substitui como é óbvio a acção concertada, que geralmente não vem de consensos mas acaba por gerá-los, como nos ensinou o senhor Afonso Henriques.
Digo estas coisas, sabe? esperançado na ornitologia.
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