“ Retomando a questão do “essencial da cultura portuguesa”, a nota do “imprevisível” situa-se, portanto, numa certa linha de continuidade com os horizontes de realização em plenitude, idealizada e anunciada com o divino em Camões e com o Império em Vieira e Pessoa. Mas é necessário atender ainda à dimensão de universalidade, presente nestes aspectos do pensamento de Agostinho da Silva, pois há o perigo de o situarmos numa visão puramente nacionalista e patriótica, em que a grandeza de Portugal constituiria o principal objectivo da sua vida e da sua obra, com certo carácter de exclusivismo...
Nada Mais contrário ao espírito e inspiração do seu sonho! É o que ressalta das entrevistas e conversas dos últimos anos da sua existência, em tranquila e serena interiorização e reafirmação dos ideais a que dedicou a sua vida e do único programa em que vale a pena continuar a apostar: ensinar ou levar as pessoas a aceitar que a vida (individual e colectiva) é um estar sempre a aprender, mas em que, diz ele, “temos sobretudo de aprender duas coisas: aprender o extraordinário que é o mundo e aprender a ser bastante largo por dentro, para o mundo todo poder entrar”(1). E a lusofonia, com o Quinto Império e a “coroação do menino imperador”, quer apenas afirmar e realizar as verdades mais simples de que o acto de viver é inútil e que “o homem é a coisa mais extraordinária que aparece no mundo, é o inesperado feito pessoa”(2). Aceitar e acreditar realmente nestas verdades será “falar Futuro”, dum futuro totalmente outro, que vai resolver os problemas concretos com que se debate a sociedade – o menino imperador, a festa, o banquete gratuito, a libertação dos cativos..., como “sinais”! E, assim, podemos ver o Quinto Império como “um império espiritual que mais não seria do que a assunção por cada homem, por cada povo e por cada cultura da sua espontaneidade radical originária(...)”(3).
Agostinho pensador, não filósofo, como desde cedo se preocupou em distinguir(4), oferece-nos na sua obra uma profunda, inesperada e profética reflexão sobre o homem e sobre a cultura do século XX. Esta meditação continua válida para hoje, e, creio, não só válida mas sobretudo necessária, na relação que estabelece entre os únicos factores que darão garantia ao futuro humano: optimismo e confiança no homem, superação do problemático e do conflituoso pela abertura e conversão ao divino(5), coragem e humildade para ser feliz ao ousar ser simplesmente humano!...
A dimensão inovadora e revolucionária de Agostinho da Silva, com esta inesperada mensagem de profunda renovação do homem e da sociedade, a partir da potencialidade que a cultura portuguesas conserva nessa energia do Imprevisível, como visão e como modo e capacidade de acção, tem sido salientada, analisada e comentada nas mais variadas formas e perspectivas. E deverá continuar a provocar essas reacções com os seus escritos, pois uma das mais reconfortantes convicções que procura transmitir/ensinar é a de que todos somos naturalmente sábios e pensadores/filósofos, capazes de alcançar a plenitude individual de se ser o que se é, nessa espontaneidade redentora que será o Quinto Império...(6)
Texto extraído da obra: Gama, José. Cultura e Filosofia – Estudos Sobre o Pensamento Português. Braga: Aletheia, 2009. Pp. 304-306
1) A Última Conversa: Agostinho da Silva. 8ª. Ed. Entrevista da Luís Machado, Lisboa: Edit. Notícias, 2001, p. 96 (1ª.ed.1995)
2) Ib.,p. 99.
3) Pedro Calafate, op. Cit.: “Esse(...)”(p.169)
4) Dispersos, cf.p. 479(pp. 475-492: “ BarcadÁlva- (...) “, 1971
5) “(...) para tomar ... (...)” Agostinho da Silva – Um Fernando Pessoa. 3ª.ed.Lisboa:Guimarães Editores, 1996, p.89.
6) in: Textos e Ensaios Filosóficos – II. Lisboa: Âncora Editora, 1999, p. 151.
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sábado, 12 de setembro de 2009
Agostinho da Silva e o Essencial da Cultura Portuguesa
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7 comentários:
Ele há coincidências... Ia agora mesmo enviar um e-mail ao José Gama. Um abraço até Braga!
Sem dúvida. Contactei-o por causa de uma Colóquio por ele organizado, em que irei partipar, em meados de Outubro, aí em Braga. E por causa de mais um lançamento da NOVA ÁGUIA...
É esse mesmo. Encontrar-nos-emos lá então. Abraço.
Estávamos bem arranjados, se deixássemos a espontaneidade para o futuro.
isso e a previsibilidade; caro Raspu.
A sua, neste concreto.
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