A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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sábado, 1 de agosto de 2009

Texto que nos chegou...

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A Saudade e a Pátria no Livro de Memórias de Teixeira de Pascoaes (excerto)

Manuel Ferreira Patrício

(...)
Pascoaes nasceu em 1877. Iniciava a adolescência quando ocorreu o “ultimatum” inglês. Deve ter sentido a humilhação e a raiva anti-britânica que sentiu Junqueiro. Para os que consideravam a monarquia moribunda, a hora era, todavia, de esperança. A República viria devolver a Pátria a si própria. Já as narinas sentiam o odor embriagante da Primavera. Seu irmão António era libertário. Ele o seria também, seguramente. Como Leonardo o foi nos seus verdes anos. Chega a República. Pascoaes exulta. A Águia levanta voo instantaneamente. Ei-la no ar, a voar e a planar gloriosa e ardente, no 1º de Dezembro de 1910. Portugal afirmava-se, cheio de optimismo e esperança. Finalmente, Portugal ia poder ser. Ser quem era, como o Poeta amarantino logo começou a proclamar. O nacionalismo saudoso e esperançoso de Pascoaes é a expressão do seu optimismo, da sua fé sem mácula no destino feliz e glorioso da Pátria. Constrói entretanto o seu pensamento saudosista. Edifica o seu projecto mais do que pedagógico da arte de ser português. Quando a Grande Guerra – em cuja participação nacional se empenhara com os seus companheiros d’A Águia – termina, chega o momento de reflexão. O saudosismo fora bem acolhido pela alma da Nação? O caminho do destino português, pela mão da República, ia no sentido certo? O não da sua resposta encheu-lhe a alma de tristeza, acinzentou o seu jardim marânico verdejante e florido. A Pátria não está a responder ao apelo. A Pátria não está a merecer a Saudade.
É dentro desse período difícil, talvez em 1925, que o Poeta lança mãos à escrita do Livro de Memórias, que publica no princípio de 1928, já depois do 28 de Maio.
Com o Livro de Memórias relaciona António Cândido Franco o livro Uma Fábula (o advogado e o poeta). Vê entre eles uma relação de analogia. O segundo, publicado em 1978, ficou concluído em 5 de Outubro de 1952.[1] O veio sentimental que a ambos alimentou – sentimental saudoso, quero dizer – desde o primeiro instante, vem a atravessar o fim da Monarquia, a 1ª República, a Ditadura Militar nascida do 28 de Maio, o regime do Estado Novo nos seus primeiros vinte anos. A fé resiste, mas o Adamastor é poderosamente maligno no Cabo das Tormentas. Já na derradeira página do Livro de Memórias algum cepticismo irónico, ou ironia céptica, se lhe insinua na pena com que fecha a sua reflexão final sobre a Saudade e a Pátria. O que escreveria essa pena hoje?!...
Alexandre Herculano pronunciou estas palavras quase trágicas, depois de uma vida de luta heróica e séria pela Pátria livre: “Isto dá vontade de morrer”. Outras haviam sido as palavras de Camões: “Ao menos morro co’a Pátria”. Pascoaes, ao despedir-se de nós, seus leitores, no Livro de Memórias, deixou-nos uma interpelação diferente. Vamos segui-la.
Quem somos nós, portugueses, e que valemos? Eis a resposta do vate lusíada:
Lágrimas divinas e humanas, eis toda a nossa riqueza sentimental. Viemos à Terra para chorar a nossa mágoa transcendente, que é um desejo de redenção e vida nova, espectralizada no crepúsculo, com o busto de Camões, em bronze incandescente, na última linha do horizonte.[2]
Não se vislumbra nestas palavras o mínimo sinal de qualquer imperativa e imperial visão. O desejo de redenção e vida nova é o afectuoso movimento messiânico da alma que emerge. Talvez a presença da “vida nova” insinue a presença de Dante no patriotismo de Pascoaes. Mas na última linha desse horizonte messiânico é o busto de Camões o que crepuscularmente se destaca.
Nesse messianismo saudosista é crucial a distinção entre o que parece real e o que é real, entre o real e o real real. É a saudade o critério distintivo. Critério não apenas sentimental, mas absolutamente ontológico: “A saudade de Deus é que é Deus; a saudade da mulher amada é que é a mulher da nossa paixão, e a saudade da Pátria é que é, realmente, a nossa Pátria.”[3] Talvez a pensar nestas palavras, Fernando Pessoa ia escrevendo em segredo: “Minha pátria é a língua portuguesa.”[4] Mas não é a língua portuguesa a morada cristalizada da saudade?... Em todo o caso, o Poeta do Marão – esse símbolo de Portugal! – não evita o confronto com a bruta realidade de que fala o Vulgo, ouvindo a nossa alma, a nossa Musa, que é a saudade. É com a tal ironia cáustica, de acre sabor céptico, que concede: “Adoramos a ausência e desprezamos a presença. Preferimos a Índia remota, incerta, além dos mares, ao bocado de terra em que nascemos. Vamos colonizar a África e o Brasil e deixamos crescer a erva, à nossa porta.”[5] E aplaude tragicamente, no palco de Epidauro: “Muito bem! Muito bem!”[6]
Aparentemente vencido, com a saudade mutilada a balbuciar umas palavras de agonia – a saudade que já só é lembrança, que já não é desejo nem esperança –, brada primeiro e reza depois. Brada: “Também eu desprezo o presente, e me refugiei no Passado, para salvar da minha morte algumas das minhas lembranças mais queridas.”[7] Reza: “Que Deus tenha compaixão delas e de mim!”[8]
No que toca a Portugal e à Europa, faço minhas as palavras de Pascoaes. E não é pouco o que nelas ressoa, não é sem transcendente importância o que elas dizem.

[1] António Cândido Franco, “Prefácio – Os Portões Doirados da Memória”, in Teixeira de Pascoaes, Livro de Memórias, edição citada, p. 21.
[2] Teixeira de Pascoaes, op. cit., p. 143.
[3] Ib., p. 143.
[4] Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, Lisboa, Editora Planeta DeAgostini, 2005, p. 255.
[5] Teixeira de Pascoaes, op. cit., p. 143.
[6] Ib., p. 143.
[7] Ib., p. 143.
[8] Ib., p. 143.