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Belém preferiu não comentar, Sócrates falou em "disparates"
Por Luciano Alvarez e São José Almeida
Casa Civil da Presidência da República suspeita que as suas iniciativas estão a ser vigiadas há mais de um ano e meio
O clima psicológico que se vive no Palácio de Belém é de consternação e a dúvida que se instalou foi a de saber se os serviços da Presidência da República estão sob escuta e se os assessores de Cavaco Silva estão a ser vigiados, confessou ao PÚBLICO um membro da Casa Civil do Presidente.
Este clima instalou-se depois de a perplexidade ter atingido aqueles que trabalham com o Presidente da República, quando tomaram conhecimento das declarações, ao PÚBLICO, dos dirigentes do PS José Junqueiro e Vitalino Canas denunciando que havia assessores de Cavaco Silva a participarem na elaboração do programa do PSD.
O mesmo membro da Casa Civil da Presidência da República questiona-se sobre estas declarações e afirma: "Como é que os dirigentes do PS sabem o que fazem ou não fazem os assessores do Presidente? Será que estão a ser observados, vigiados? Estamos sob escuta ou há alguém na Presidência a passar informações? Será que Belém está sob vigilância?".
No sábado, o PÚBLICO noticiava acusações feitas por José Junqueiro e Vitalino Canas na sequência da crise entre Belém e São Bento por causa da não recondução pelo Governo do neurologista João Lobo Antunes no Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.
Ao PÚBLICO, Junqueiro considerava que, "se isso se confirmar, se Cavaco Silva autorizar, há uma clara interferência na campanha eleitoral", acrescentando ainda que "a Casa Civil do Presidente da República não pode ser parte" da estratégia de um partido. Então, Junqueiro criticou o facto de o semanário Sol publicar notícias atribuídas a fontes da Presidência e considerou que essas notícias tinham como objectivo "abafar a polémica das listas de deputados do PSD". Vitalino Canas apontava também o dedo a fugas de informação e desafiava o próprio Cavaco Silva: "Poderia ter havido da parte do Presidente da República alguma referência que pusesse termo à especulação".
Política e amizade
Ora estas acusações não foram desmentidas nem desautorizadas pelo coordenador de campanha do PS e ministro do Trabalho e da Segurança Social, José Vieira da Silva, quando sábado foi com elas confrontado pelos jornalistas, nem por ninguém da direcção socialista. "Não conheço essas declarações", apenas disse Vieira da Silva. E a consternação instalou-se em Belém.
Este membro da Casa Civil do Presidente questiona o facto de dirigentes do PS afirmarem que houve assessores de Belém a reunir e a contribuir para o programa do PSD, lembrando que a vida privada de cada um só a si diz respeito. Admite mesmo que haja assessores de Cavaco que sejam amigos e privem com dirigentes do PSD, mas lembra que isso não é passível de ser politicamente usado.
Criticando o facto de terem sido feitas acusações sem que fossem apresentadas provas e dito claramente do que se estava a falar, o membro da Casa Civil ouvido pelo PÚBLICO pergunta: "Posso almoçar com uma ou outra pessoa e isso significa o quê? Não posso conviver e estar com pessoas das minhas relações, com amizades antigas?".
Insistindo na ideia de que acusações deste tipo feitas por dirigentes do PS pressupõem que esses dirigentes do PS tiveram informações sobre o que fazem as pessoas da Presidência, o membro da Casa Civil precisa que "uma coisa é encontros em actos públicos, em que as pessoas são filmadas, outra coisa são encontros com amigos". E sublinha: "Como sabem? Será que os assessores do Presidente estão sob vigilância do Governo ou do PS? Como têm acesso a essas informações?". Para rematar: "Será que em Belém passámos à condição de vigiados?".
PSD desmente contactos
O vice-presidente do PSD, José Pedro Aguiar Branco, desmentiu categoricamente, em declarações ao PÚBLICO, que tenha havido qualquer colaboração de assessores do Presidente da República na elaboração do programa e da estratégia eleitoral do seu partido.
"Isso não é verdade. Tanto quanto sei - e creio que sobre este assunto sei tudo -, não há contributo de ninguém da Presidência", declarou Aguiar Branco, lembrando ao PÚBLICO que "o programa do PSD foi feito com base nas contribuições do Fórum Portugal de Verdade, com base nos contributos do Instituto Sá Carneiro e do Gabinete de Estudos do PSD, tudo organismos que não têm assessores do PSD".
Aguiar Branco precisou que "há um redactor do programa, Paulo Mota Pinto, que sistematizou o texto com base nos contributos obtidos e que foram aprovados pela Comissão Permanente". O vice-presidente do PSD sublinhou que as ideias para o programa foram apresentadas à Comissão Permanente por si, por Sofia Galvão e por Paulo Mota Pinto, e depois foram aprovadas, sob a forma de súmula, pela Comissão Política. E conclui: "Que eu saiba, nenhum de nós - nem eu, nem a Sofia Galvão, nem o Paulo Mota Pinto - falou com nenhum assessor do Presidente. Falo-lhe com a consciência de que estou a dizer a verdade".
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Primeira evidência. Há um “clima psicológico” no Palácio de Belém. Ora a posição favorável do palácio cor-de-rosa (será por acaso?), mesmo ali à beirinha do rio, com o Cristo Rei de braços abertos da outra margem, bem que lhe permitiria a requalificação em hospital psiquiátrico. Podia ser, elitisticamente, para servir a nata da nata, por assim dizer. E com os pastéis de Belém ali tão perto…
E a “consternação instalou-se em Belém”! Porquê? Porque no meio do desespero de ver a casa eleitoral a arder, os tontos de serviço no Largo do Rato não desmentiram os receios dos membros da casa civil da presidência da república (com ‘R’ grande, se isso não fosse tornar a coisa ainda mais solene). E medo de quê? Bem os senhores têm medo de estarem a ser escutados pelo governo. Mas antes de atirarem os computadores Magalhães pela janela (se Hugo Chaves recebeu de presente um exemplar ainda com as gralhas em Portunhol, não será expectável que o pessoal de Belém também tenha sido presenteado?), o melhor é porem-nos no prego ou à venda na Feira da Ladra, assim sempre poderão ter mais uns trocos para irem sair com os amigos que, por acaso, até estão a preparar o programa de governo do PSD, esse mesmo que será apresentado ao país se o PSD conseguir chegar ao governo. Aí é que os assustadiços convivas da casa das tapas de Belém terão que se preocupar. Já viram o que seria se a líder Manuela, que está a dar tanto trabalho a desmumificar, conseguir ouvir o que dizem dela pelas costas?
Mas no meio da estupidez há uma verdade que reluz: há um governo-sombra a actuar nas catacumbas de Belém. O Sócrates entorta, o governo-sombra, endireita, o governo desnortei-a-se, o governo-sombra, assobia para o lado e dá uma sapatada de soslaio nas canelas da Manuela. A Manuela engasga-se, o governo-sombra, assopra.
Para quem duvide, foi Belém que exerceu a sua ‘magistratura de influência’ com vista à mudança do novo aeroporto da Ota para Alcochete. Quem mais poderia ter instigado uma acção ‘secreta’ duma associação empresarial que nunca se mostrara solícita em resolver problemas do país não directamente relacionados com o venha-a-nós?
Estamos a viver um período interessante da nossa democracia, há uma guerra de espiões em curso. Belém e São Bento em confronto. Não vou falar do SIS porque este não estará à altura da coisa, quem já esqueceu aquele episódio do carro do SIS que foi roubado, com todo o arsenal de espionagem e uma tonelada de documentos confidenciais? Isto enquanto os agentes comiam uma bifana numa tasca da esquina algures onde os carros correm o risco de serem roubados… Não poderiam ter deixado alguém a vigiar o carro? Ou as ajudas de custo não chegavam para dar 50 cêntimos ao arrumador de serviço?
É claro que a malta de Belém que confraterniza com os amigos que por acaso estão a preparar o programa eleitoral do PSD, não vai comer bifanas a uma qualquer tasca da esquina. Mas deviam lembrar-se, tão confraternais convivas, de mudar a página do calendário da Manuela, porque, pelo andar da carruagem, a senhora vai chegar atrasada uns meses largos às eleições.
Mas há também aqui um abuso que não devo deixar passar em branco: e a quem pedem, os senhores de Belém, um desmentido? Ao ministro Vieira da Silva. Bom o homem anda há que tempos a ver se consegue desmentir os números do desemprego, quem no seu juízo perfeito iria pensar que o senhor poderia sequer dar-se ao luxo de tomar conhecimento do sobressalto que grassa pela casa civil da presidência da república? E não há ninguém na casa militar que pudesse dar umas estalas profiláticas aos mais histéricos lá da outra casa? Isto antes de terem ido fazer queixinhas para o Público, esse jornal do Engenheiro Belmiro (que delícia que é saber pelos telejornais que o senhor tem uns netos poupadérrimos que apesar de ricos, ricos, mesmo ricos, andam de transportes públicos como qualquer pelintra que não tenha escolha). Quem se pode esquecer que o Engenheiro Belmiro queria comprar a PT e o governo foi contra? Podiam ter ido queixar-se ao ‘I’ que está agora a afirmar-se, mas não… Ou ao Correio da Arrentela…
Mas no fundo a verdade, verdadeira, verdadinha, poderá ser esta: enquanto o sr. Presidente está a banhos (interrompeu a época balnear para ir à Batalha inaugurar coisas e dizer que não dizia nada, mas estava atento, e que talvez dissesse qualquer coisa…), a malta lá de Belém dá uma ajudinha à Manuela fazendo um chinfrim de todo o tamanho. Para quê? Para mostrar ao ‘país’ que estão a montar um programa do PSD, em que parece que a líder não riscou nada, e, talvez, para que a senhora venha a terreiro defender ideias para o país, coisa em défice agora que o Liedson do PSD foi para Bruxelas, talvez para não fazer sombra à líder (mas pela diferença de estaturas a coisa seria difícil, mas enfim…).
E também há a questão das listas do PSD, com gente arguida e tudo. E com saneamentos políticos. Mas é melhor assim, porque o autoclismo eleitoral poupa quase sempre os melhor posicionados nas listas e iliteracia pura e dura haverá que chegue nas bancadas de S.Bento. Era bom que o Pacheco Pereira publicasse um livro de bolso para tirocinadores políticos, “Citações filosóficas para totós”, ou algo assim. Mas é urgente quem chancele um “manual de criação de programas de governo para totós”. Os tótós agradeceriam e os autores, também, porque na sede do Rato só se devem pagar almoços depois de vencida a empreitada. A ver vamos.
1 comentário:
Paulo, escreve um livrinho com crónicas destas e serás um sucesso garantido! Espírito e humor dão asas ao sarcasmo que derreia quem bem o merece! Mesmo que em nós haja um pouco de tudo isto, como bem sabia o Martinho de Dume...
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