Regressado de férias e devidamente afastado do mais recente evento eleitoral português – as Europeias – creio que tenho já o discernimento suficiente para levar a cabo uma análise desapaixonada das últimas eleições nas quais saiu novamente vencedora a abstenção.
Pese embora o título deste texto a verdade é que este ano a “silly season” não o pode ser: os nossos governantes e a oposição têm ainda duas eleições nas quais se digladiar, mas estamos na época do ano que por norma é a do vazio noticioso que se preenche com as gafes dos políticos em férias e das personalidades do imaginário popular (mais alguém estará tão enjoado de ouvir falar do Ronaldo como eu?).
Estas eleições deitaram por terra uma das minhas mais firmes crenças enquanto estudioso (amador) das movimentações políticas: a crença de que os partidos pequenos não se conseguiam fazer eleger para cargos públicos por falta de fundos que lhes permitissem levar a cabo uma campanha de propaganda profissional de massas, o problema era o desconhecimento do público (embora eu já estivesse ciente da futebolização da política – de que as pessoas votam no seu partido de eleição mais pela mesma fidelidade que devem a um clube de futebol do qual, por muito mau que seja o treinador, não se muda de cor – que testemunhei quando andava nessas lides: “os senhores até têm boas ideias, mas sempre votei no … e sempre votarei no …”, quem de entre os leitores politicamente activos nunca ouviu isto no decorrer de uma campanha?) e não propriamente de alguma indefinição ou ausência ideológica.
Ora, sucede que nestas eleições, em particular, três forças – duas que me parecem mais criações jornalísticas do que partidos de facto (MMS e MEP) e uma semi-veterana com conteúdo ideológico palpável (MPT) – levaram a cabo campanhas profissionais superiores mesmo às do instalado CDS/PP, creio até que o MMS e o MPT conseguiram a proeza de ter tantos ou mais outdoors que esta força política que conta com deputados e eleitos em todos os quadrantes de governação (local, municipal, distrital, regional, nacional e europeia) e mesmo assim de nada lhes serviu, nem um deputadozinho… fiquei chocado e alarmado, mais que com o nível de abstenção, com esta ausência de abertura para com ideias diferentes, aparentemente só mesmo a CDU e o BE conseguem ainda captar votos fora do grande Centrão em que se transformou a política portuguesa.
No estrangeiro não são raros os casos de partidos fundados há dois ou três anos destronarem os partidos da esfera do poder, alguns improvisados e criados à pressa como o Partido Pirata sueco fundado há meses elegeram deputados logo na sua primeira participação eleitoral, em Portugal (e em Espanha) é praticamente impossível um partido novo, mesmo quando fundado ou encabeçado por figuras conhecidas do grande público – vejam o PND do Manuel Monteito e o PPM de Nuno da Câmara Pereira – conseguir eleger seja quem for para o menor cargo existente, na maior parte das vezes nem para as juntas de freguesia…
Creio que a nossa democracia republicana (e se fosse monárquica não creio que fosse diferente, tem a ver com a nossa maneira de ser como indivíduos e como o poder nos afecta e corrompe e não tanto com as ideias dos partidos republicanos existentes) tem de ser repensada, sendo – não fosse eu libertário – apologista da democracia directa e participativa em vez da democracia representativa (ou partidocrata) que nos rege sempre pensei que a ausência de capital dos mais pequenos era a causa do seu insucesso, aparentemente desta vez tenho que repensar e admitir, a contragosto, que o grande capitalismo que financia as campanhas dos grandes é meramente parte do problema e já não o problema por si só, embora causado por este o problema é mais profundo, já faz parte da nossa identidade colectiva…
24 de Julho de 2009
Tribuna das Ilhas
2 comentários:
O MEP julgo que sim, o MMS não me parece de todo. Just money...
E têm todos um ar muito executivo no MMS (ou melhor, "CEO").
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